Agência France-Presse
postado em 29/04/2014 15:15
Os Estados Unidos mostraram grande prudência nas sanções contra Moscou devido à crise ucraniana, preocupados em manter próximos seus aliados da União Europeia, mais expostos do que os americanos às questões da economia russa, segundo especialistas.Washington anunciou na segunda novas sanções contra 17 empresas e sete autoridades russas, entre elas o chefe da gigante petroleira Rosneft, ligado ao presidente Valdimir Putin. A UE adicionou 15 nomes de autoridades russas e ucranianas à lista de punidos, incluindo os chefes do Estado-Maior das Forças Armadas e da inteligência militar.
No entanto, os especialistas ressaltam que os Estados Unidos ainda não atacaram os setores-chave da economia russa, como o de energia, minas e o financeiro, e destacam que a gigante Gazprom ainda não sofreu sanções.
"Esperava sanções mais substanciais", explica Steven Pifer, pesquisador do Brookings Institute. "Minha impressão é que, para obter consenso de 28 países na UE, é preciso encontrar o mínimo denominador comum. Suponho que os americanos, provavelmente, tenham evitado algumas das sanções mais duras porque não querem se distanciar demais" do que a Europa faria.
[SAIBAMAIS]Muitos países europeus, principalmente a Alemanha, têm estreitos vínculos financeiros e comerciais com a Rússia e temem que Moscou possa contra-atacar se começar a sentir na economia o peso da crise na Ucrânia.
"A Rússia tem feito tanto para intensificar a crise que o Ocidente precisa fazer mais para ter alguma chance de mudar a trajetória russa", considera Pifer. "Mas, em certo ponto, espera-se que a Rússia responda e, neste caso, a Europa tem mais a perder do que os Estados Unidos", explica.
- A chave? Alemanha -
A confiança na economia russa já foi afetada nas primeiras sanções contra Moscou, anunciadas em março devido à anexação da península da Crimeia. Os analistas advertiram que a Rússia pode entrar em recessão no segundo trimestre de 2014, depois de uma contração do crescimento a 0,5% no primeiro trimestre.
É provável que o tema esteja na reunião de sexta-feira em Washington entre a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente Barack Obama. "Dada a importância econômica e política da Alemanha, a sensação aqui é de que a chanceler Merkel tem um peso importante. Também foi um dos países mais prudentes até o momento", considera Pifer.
Para Harold James, professor de História da Universidade de Princeton, a Alemanha, que importa 40% de seu gás da Rússia, impôs uma "linha dura" na questão das sanções. Um exemplo é a empresa Siemens, que tem importantes investimentos na Rússia, mas deixou claro que vai atuar conforme o que a UE estipular.
Para James, a prudência das sanções europeias se deve mais às normas legais no continente. O ministro alemão das Finanças disse recentemente que confia que a crise na Ucrânia vá servir para "estreitar os laços transatlânticos" entre UE e Estados Unidos -afetados pelas revelações de espionagem americana- e para a "redescobrir interesses comuns".
- Sanções complementares -
"Acredito que os americanos entendem muito bem o quão difícil é para os europeus impor sanções. Não só os vínculos econômicos são muito maiores em quase todos os países, mas (a imposição de sanções) está sujeita a uma tomada de decisão coletiva", disse Joerg Forbrig, pesquisador do German Marshall Fund.
Para ele, os Estados Unidos estão se limitando muito para não enfraquecer a aliança transatlântica com um tema como o das sanções.
Washington e Bruxelas também estão apresentando de maneira diferente suas sanções, explicou Forbrig à AFP. As sanções europeias foram concebidas sob a ideia de que são "simbólicas", para comunicar à Rússia o descontentamento com as ações do Kremlin. "Realmente, não foram projetadas para atingir com força", disse.
Já a porta-voz do Departamento de Estado americano, Jen Psaki, disse na segunda que não espera que as sanções sejam iguais, e sim "complementares".