Agência France-Presse
postado em 30/04/2014 17:37
Beirute - A aviação do regime sírio efetuou ataques nesta quarta-feira (30/4) contra um bairro rebelde de Aleppo (norte), deixando pelo menos 18 mortos, incluindo dez crianças em uma escola.
Esses ataques ocorrem no dia seguinte à morte de cerca de 100 pessoas, incluindo quase 80 civis, em um duplo atentado com carros-bomba em um bairro favorável ao regime em Homs (centro), reivindicado pelos rebeldes jihadistas.
A escalada da violência é registrada a menos de um mês da eleição presidencial de 3 de junho, na qual o presidente Bashar al-Assad certamente será reeleito.
A Rússia, aliada de Assad, expressou sua preocupação com "os níveis alarmantes da violência nos últimos dias contra a população civil", jogando a responsabilidade pela situação "para grupos armados ilegais".
Em Aleppo, a segunda maior cidade do país, pelo menos dez crianças e oito adultos morreram nos ataques aéreos contra uma escola do bairro rebelde de Ansari, indicou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
[SAIBAMAIS]Dois ataques ocorreram no intervalo de dez minutos, explicaram militantes de Aleppo. Esses ativistas enviaram à AFP pela internet um vídeo mostrando uma fila de corpos de crianças em sacos cinzas. Mais ao sul, em Homs, o registro de mortos do duplo atentado de terça-feira no bairro de maioria alauíta chegou a 100.
A Frente Al-Nosra, braço oficial da Al-Qaeda na Síria, reivindicou a autoria do ataque. O grupo afirmou que havia detonado o primeiro carro-bomba "para provocar o maior número de mortos entre os shabiha (milicianos pró-regime)" no bairro de Al-Abasiya. Em seguida, explodiram o segundo carro na mesma área.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) lamentou em um comunicado a "escalada" dos "ataques contra escolas e outros alvos civis, que causaram dezenas de mortos e feridos entre as crianças", apesar de "todos os apelos pelo fim deste ciclo louco de violência".
A violência em Homs e Damasco "é uma mensagem dos rebeldes a Assad de que não haverá áreas seguras para a realização da eleição", declarou Rami Abdel Rahman, diretor do OSDH.
No penúltimo dia para apresentação de candidaturas à eleição presidencial, o chefe do Parlamento anunciou seis novos candidatos, elevando a 17 o número de concorrentes, todos desconhecidos, exceto Assad, que deverá ser eleito para um terceiro mandato de sete anos. Ele chegou ao poder ao suceder seu pai Hafez, falecido em 2000.
- Crise humanitária -
Com a crise humanitária, um terceiro e enorme campo de refugiados para os sírios que fugiram da guerra em seu país foi aberto nesta quarta-feira na Jordânia, onde a ONU e um ministro exigiram mais ajuda da comunidade internacional.
O campo de Azraq pode acolher, no momento, até 50.000 pessoas, mas, segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur), sua capacidade pode chegar a 130.000 refugiados futuramente.
Cerca de 580.000 refugiados da Síria foram oficialmente registrados pela ONU na vizinha Jordânia.
O acampamento de Azraq deve ajudar a aliviar a pressão sobre o campo de Zaatari, no norte do país, para onde mais de 100.000 sírios fugiram, o equivalente à população da quinta maior cidade da Jordânia.
"Este é provavelmente o maior campo de refugiados do mundo", declarou o representante do Acnur na Jordânia, Andrew Harper, durante a inauguração do campo, localizado no deserto, 100 km a leste de Amã.
Em Nova York, a responsável pelas operações humanitárias das Nações Unidas, Valerie Amos, constatou o fracasso dos esforços para melhorar a entrega de ajuda aos sírios, citando "242.000 sírios sitiados" pelos combates.
Em um relatório anual do Departamento de Estado, os Estados Unidos, que apoiam a rebelião, advertiram para o risco do surgimento de uma "nova geração de terroristas" na Síria, onde a guerra atrai milhares de combatentes estrangeiros que vão lutar contra o regime, que recebe a ajuda de milícias xiitas, como o Hezbollah.
O chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, disse nesta quarta que a decisão dos ocidentais de não intervir militarmente na Síria em 2013, depois de um ataque químico devastador em uma área próxima a Damasco, foi um "erro" que enfraqueceu a sua posição diante da Rússia.