Agência France-Presse
postado em 06/05/2014 12:11
Johannesburgo - O Congresso Nacional Africano (ANC) vem perdendo terreno desde a vitória de Nelson Mandela em 1994, mas o partido no poder na África do Sul deve sair vitorioso das eleições parlamentares de quarta-feira (7/5), apesar da decepção de milhões de eleitores. Mais de 25,3 milhões de sul-africanos devem votar para eleger 400 deputados, que designarão o próximo presidente em 21 de maio.Jacob Zuma, de 72 anos, no poder desde as eleições de 2009, deve ser reconduzido ao cargo. Todas as pesquisas apontam um pouco mais de 60% de intenções de votos para o ANC, o que garante uma ampla vitória, mas abaixo dos 65,9% votos obtidos há cinco anos. A África do Sul é um "lugar melho para se viver do que em 1994", no final do regime segregacionista do apartheid, insistiu o partido durante a campanha. "Nós temos uma boa história para contar".
De fato, muitos progressos foram realizados ao longo dos últimos 20 anos. Quasede 96% das famílias agora têm acesso à água potável, contra 62% em 1994, e 87% das casas possuem energia elétrica, contra 58%. Além disso, a taxa de criminalidade - assustadora na época - caiu, há menos favelas e uma classe média negra crescente.
Mas a África do Sul pós-apartheid continua sendo um país profundamente desigual, onde os brancos ganham, em média, seis vezes mais do que os negros, e onde são menos afetados pelo desemprego (menos de 7%, contra mais de 28%), onde continuam a ter melhor acesso à educação, que continua a ser crítica para a maioria da população.
Com um crescimento médio de 3,3% ao longo dos últimos 20 anos - e muito menos nos últimos tempos - a África do Sul está longe dos 6 a 7% necessários para criar empregos para os milhões de desempregados. Apesar do governo Zuma ter feito muito para implantar o maior programa de distribuição de antirretrovirais do mundo, os erros de seu antecessor, Thabo Mbeki, que negou o problema da Aids, teve efeitos devastadores.
Um sul-africano em cada oito é portador do vírus HIV e a expectativa de vida caiu de 62 para 56 anos em duas décadas anos. Os primeiros cinco anos de presidência de Zuma foram marcados por vários escândalos, sendo o mais recente o das obras realizadas em sua residência privada em Nkandla (leste) às custas dos contribuintes. Acima de tudo, o chefe de Estado tem sangue em suas mãos desde que a polícia abriu fogo contra os grevistas da mina de Marikana (norte) em agosto de 2012 e matou 34 pessoas.
Os bairros mais pobres são regularmente palcos de distúrbios. Mas para muitos sul-africanos negros - 80% da população - o ANC continua a ser o partido que os livrou do apartheid. O partido recuperou a imagem de seu mais ilustre militante, Nelson Mandela, que faleceu em dezembro. "Vamos seguir seus passos", afirmam as páginas de publicidade. "Façam por Madiba, votam ANC", pedem os cartazes.
Na oposição, a Aliança Democrática (DA, liberal) deve ganhar terreno, com pouco mais de 20% dos votos segundo as pesquisas. A imagem de "partido dos brancos" continua muito forte, mas a DA conseguiu unir outras minorias, índios e mestiços, e ataca o eleitorado negro com jovens líderes ambiciosos. "Exigimos mudança, menos corrupção, melhores serviços e mais emprego", resume sua líder Helen Zille.
No outro lado do espectro político está o partido Combatentes pela Liberdade Econômica (FEP) do jovem populista Julius Malema. As pesquisas apontam para 4 a 5% das intenções de votos. Reabrindo um debate que a reconciliação dos anos Mandela sufocou, ele retomou o programa que defendeu quando esteve à frente da juventude do ANC, antes de ser expulso em 2012: a redistribuição da riqueza, nacionalização das minas e bancos e tomada das terras exploradas por agricultores brancos. As urnas serão abertas na quarta-feira às 7h e fecharão às 21h (2h às 16h no horário de Brasília).