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Putin pede aos separatistas ucranianos que adiem o referendo

O presidente russo argumentou que a "declaração de independência" da república autoproclamada de Donetsk



No encontro, Burkhalter propôs uma abordagem de quatro pontos: "cessar-fogo, desarmamento, diálogo e eleição" para reduzir a tensão na Ucrânia.

Os separatistas haviam anunciado para 11 de maio a realização de um referendo sobre a "declaração de independência" da república separatista de Donetsk, uma cidade localizada no leste, perto da fronteira com a Rússia.

Tropas russas se retiram

Putin também afirmou que as tropas russas se retiraram da fronteira com a Ucrânia, onde a Otan havia estimado no final de abril o seu número em até 40.000 homens.

"Nos disseram constantemente que a mobilização de nossas tropas na fronteira com a Ucrânia preocupava. Nós as retiramos", garantiu Putin.

Contudo, a Otan indicou que não tem "indicações" que possam confirmar tal retirada. "Não temos indicações sobre mudanças nas posições das forças militares próximas à fronteira ucraniana", informou uma autoridade.

A Casa Branca teve a mesma reação, declarando não ter provas até o momento de uma retirada russa da fronteira.

[SAIBAMAIS]Os mercados financeiros reagiram imediatamente aos anúncios do presidente russo. Os dois principais índices da Bolsa de Moscou subiram cerca de 5% e o rublo ganhava força ante o euro e o dólar às 14H00 GMT (11h00 de Brasília).

Segundo o chefe de Estado russo, a reunião com o presidente da OSCE permitiu mostrar que seus "enfoques sobre como resolver a crise são muito parecidos".

A organização suíça havia pedido na terça-feira uma nova reunião em Genebra, referindo-se ao acordo diplomático concluído em 17 de abril, e um cessar-fogo na Ucrânia para permitir a realização das eleições presidenciais de 25 de maio.

Os ocidentais consideram ser fundamental que esta eleição ocorra concretamente, sob o risco de o país "mergulhar no caos e na guerra civil", segundo palavras do presidente francês François Hollande.

A Rússia, que não reconhece as autoridades provisórias de Kiev, considerava até o momento absurda a realização das eleições no contexto atual de violência.

Pouco antes das declarações de Putin, o ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, havia afirmado em Kiev que "não tinha dúvida" de que a Rússia buscaria "orquestrar um conflito e provocações no leste e no sul da Ucrânia" com o objetivo de "perturbar a eleição de 25 de maio".

Mais cedo nesta quarta-feira, o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, acusou mais uma vez os europeus de ignorar o surgimento do "fascismo" na Ucrânia.

"O que aconteceu em Odessa em 2 de maio é fascismo puro e simples", declarou em referência ao incêndio na Casa dos Sindicatos de Odessa, sul da Ucrânia, que matou 42 pessoas, em sua maioria militantes pró-Rússia.

Yatseniuk em Slaviansk


Já o primeiro-ministro ucraniano, Arsen Yatseniuk, viajou a Slaviansk, epicentro dos confrontos entre pró-russos e as forças de ordem ucranianas, onde se reuniu com soldados e agradeceu-lhes pelo seu empenho.

"Mesmo que a Rússia disponha de um exército mais poderoso e mais bem equipado, temos algo mais importante: o espírito e a vontade", disse.

Na madrugada desta quarta-feira foram ouvidos disparos de armas pesadas e rajadas de fuzis. Na estrada de Mariupol para Berdyansk, insurgentes atacaram um ônibus que transportava homens das forças especiais da polícia, segundo o ministério do Interior.

"Uma verdadeira batalha de mais de uma hora", durante a qual um agressor foi morto e outros dois capturados, de acordo com a mesma fonte.

Em Mariupol, ao sul da região de Donetsk, as autoridades lançaram um ataque nesta quarta-feira para retomar o controle da cidade, ocupada no mês passado por insurgentes locais.

Armados com bombas de gás lacrimogêneo, a polícia içou a bandeira ucraniana no telhado do edifício, antes de deixar o local.

Sobre o referendo marcado para domingo, o secretário de Estado americano, John Kerry, falou de uma "fraude" e evocou o caso da Crimeia.