Agência France-Presse
postado em 07/05/2014 18:49
Washington - A reação da comunidade internacional para ajudar a Nigéria a recuperar as mais de 200 estudantes sequestradas por um grupo terrorista está focada em fornecer ajuda para determinar a localização das reféns.
Estados Unidos, França e Inglaterra vão enviar equipes especiais para o país. Além disso, Londres vai oferecer o apoio de seus satélites. A China vai ajudar com "qualquer informação útil adquirida com seus satélites ou serviços de inteligência", de acordo com o presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, que se reuniu o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang.
O grupo Boko Haram capturou um primeiro grupo de adolescentes no nordeste do país há três semanas, anunciando que elas eram "escravas" e ameaçando vendê-las. Desde então, os insurgentes sequestraram mais jovens na mesma área, e atacaram uma aldeia, matando centenas de pessoas. Os atos de violência causaram comoção mundial.
Os governos ocidentais divulgaram poucos detalhes sobre o tipo de apoio oferecido à Nigéria, mas autoridades afirmam que imagens por satélite e a vigilância com drones podem ser essenciais na busca. Washington pretende enviar uma equipe de menos de dez militares, além de especialistas do Departamento de Justiça e do FBI (a Polícia Federal americana), segundo o Pentágono.
"A missão deles é simplesmente assessorar e aconselhar. Serão enviados especialistas em comunicação, logística e inteligência", explicou à imprensa o coronel Steven Warren.
Os Estados Unidos, assim como a França, utilizam aviões não-tripulados no Níger, país vizinho da Nigéria, mas não confirmaram se essa tecnologia será empregada no caso. "Estamos discutindo com o governo nigeriano qualquer tipo de arranjo de compartilhamento de informações que podemos estabelecer", declarou Warren.
Cooperação militar limitada
"No passado, os nigerianos foram relutantes em aceitar ajuda americana, particularmente em áreas relacionadas à segurança", afirmou John Campbell, ex-embaixador dos Estados Unidos no país.
Essa posição, aliada à preocupação de Washington com a táticas muitas vezes violentas empregadas pelo governo local contra opositores, levaram a uma cooperação militar extremamente limitada entre os dois países.
[SAIBAMAIS]"Qualquer ajuda que pudermos fornecer e que seja bem recebida no lado nigeriano será essencialmente técnica", disse Campbell.
A principal tarefa no momento é localizar as estudantes, explica Brian Jenkins, do instituto Rand Corporation. "O primeiro trabalho é descobrir onde elas podem estar. Estão todas sendo mantidas em um mesmo lugar que pode ser identificado? Ou já foram espalhadas?", questiona Jenkins, ex-militar, e que já trabalhou como consultor em situações de reféns para empresas.
As equipes dos Estados Unidos, Inglaterra e França também poderiam auxiliar o governo em uma possível negociação com os sequestradores, acrescentou.
Missão de resgate descartada
Com dois drones na Nigéria e tropas e aviões no Chade, a França está em uma posição estratégica para ajudar a rastrear os militantes, de acordo com especialistas. "É uma área que conhecemos bem e onde nossos serviços de inteligência estão ativos", ressaltou Eric Denece, diretor do Centro Francês de Pesquisa em Inteligência.
O apoio também seria uma forma de retribuição à Nigéria, que já ajudou na libertação de reféns franceses sequestrados pelo Boko Haram em Camarões, segundo Pierre Servent, especialista em defesa.
Parlamentares americanos sugeriram uma missão de resgate, mas as autoridades ocidentais deixaram claro que, no momento, não há planos para organizar uma operação tão complexa.
"Os Estados Unidos não têm algum tipo de magia para isto. Não é o resgate de um capitão e sua tripulação em um navio no Oceano Índico", considerou Jenkins. "A ideia de que os Estados Unidos vão simplesmente intervir e enviar comandos e trazer essas meninas de volta...Eu gostaria que fosse o caso", lamentou. "A História sugere que isso pode ser o início de um longo drama".
Oficias britânicos participaram de uma operação conjunta com forças nigerianas em março de 2012, na cidade de Sokoto, no norte do país. A missão fracassou. Dois reféns - um inglês e um italiano - acabaram mortos por seus sequestradores.