Mundo

Últimos rebeldes sírios deixam Homs, "a capital da revolução"

Esta saída faz parte de um acordo entre beligerantes concluído após dois meses de negociações, sob os auspícios do Irã

Agência France-Presse
postado em 08/05/2014 14:45
Forças leais ao presidente da Síria, Bashar al-Assad caminham pelas ruas da 'cidade velha'
Os últimos rebeldes sírios deixaram a Cidade Velha de Homs, batizada há três anos de "capital da revolução", uma vitória para o regime sírio a um mês da anunciada reeleição de Bashar al-Assad.

No norte do país, os rebeldes explodiram o famoso hotel Carlton de Aleppo, matando ao menos 14 pessoas entre soldados e milicianos que ocupavam o local, indicou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Na terceira maior cidade da Síria, Homs, onde teve início a rebelião armada depois do levante popular de março de 2011, os últimos rebeldes deixaram o local em vários ônibus que devem levá-los a Dar al Kabira, uma cidade rebelde vinte quilômetros ao norte.

[SAIBAMAIS]"Dois comboios transportando 200 rebeldes deixaram a Cidade Velha ao meio-dia (6h00 no horário de Brasília), e o terceiro e último deve partir antes das 19H00 locais. Este atraso deve-se ao fato de que hoje retiramos mil rebeldes", declarou à AFP o governador de Homs, Talal al-Barazi.

Na quarta-feira, "980 pessoas, em sua grande maioria rebeldes e alguns civis, incluindo mulheres e crianças", abandonaram a Cidade Velha a bordo de 24 ônibus.

Trata-se da primeira evacuação de uma grande cidade síria ocupada por rebeldes desde o início do conflito, há três anos, e faz parte de um acordo entre beligerantes concluído após dois meses de negociações, sob os auspícios do Irã.

Na praça do Relógio, palco de grandes manifestações contra o regime em 2011, soldados jogavam futebol. "É a primeira vez que subo no telhado porque tinha medo de atiradores emboscados", declarou um deles a um jornalista da AFP no local.

A praça, que dava vida à cidade com suas cafeterias, escritórios, agora não passa de escombros. Os semáforos foram ao chão, os prédios estão destruídos e há ervas daninhas por toda parte.



Para os rebeldes, em contrapartida, esta saída é uma derrota. "Preferia mil vezes morrer. Não desejo para ninguém no mundo estar em meu lugar. Sinto que minha alma foi embora e não posso segurar as lágrimas", declarou à AFP o xeque Abul Hareth al-Khalidi, o principal negociador rebelde.

Abu Wissam, um estudante mergulhado em lágrimas, lembra as manifestações pacíficas do início. "Éramos livres e espontâneos. Hoje, somos apenas peões. Essa retirada faz parte de um grande jogo" determinado há meses por potências regionais, disse, decepcionado.

O acordo sobre a evacuação dos rebeldes do último bairro ocupado de Homs também incluiu a libertação de 40 alauitas - comunidade à qual Bashar al-Assad pertence -, uma iraniana e 30 soldados sírios" detidos pelos insurgentes, afirmou à AFP um porta-voz da Frente Islâmica.

Hotel Carlton ;pulverizado;

Após a retirada total da Cidade Velha, haverá rebeldes apenas no bairro de Waer (noroeste), onde vivem centenas de milhares de pessoas.

Homs é a cidade onde os rebeldes resistiram ao mais longo cerco, uma tática utilizada pelo regime para forçá-los a deixar suas posições.

Durante os dois anos de cerco, quase 2.200 pessoas morreram na parte antiga da cidade, de acordo com o OSDH. No centro histórico, completamente em ruínas, já não havia comida e outros produtos básicos.

Esta vitória para o regime ocorre a três semanas da eleição presidencial organizada por Damasco e denunciada como uma "farsa" pela oposição e seus aliados ocidentais.

Em visita na quarta-feira a Washington, o chefe da oposição síria, Ahmad Jarba, voltou a pedir "armas eficazes" para poder vencer a guerra.

Após atentados mortais contra as regiões sob controle do regime, os islamitas "pulverizaram nesta quinta-feira o hotel histórico Carlton, em Aleppo", com a ajuda de uma grande quantidade de explosivos colocados em um túnel escavado sob o estabelecimento, segundo o OSDH.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação