Agência France-Presse
postado em 09/05/2014 12:41
O exército sírio entrou nesta sexta-feira (9/5) pela primeira vez em dois anos na Cidade Velha de Homs, após a retirada dos últimos rebeldes, em conformidade com um acordo sem precedentes entre os beligerantes.
Com a saída dos insurgentes do centro histórico da terceira cidade síria, esgotados após dois anos de cerco, de intensos bombardeios e de fome, o regime reforça sua posição nesta guerra. É a primeira vez desde o fim de 2011 que o exército entra na Cidade Velha de Homs (centro), chamada de "capital da revolução", onde teve início a insurreição armada depois que o regime reprimiu violentamente a contestação popular pacífica.
As equipes de engenharia e de retirada de minas do exército entraram na Cidade Velha, iniciando os trabalhos de rastreamento e desmantelamento das bombas, indicou o governador de Homs, Talal al-Barazi. Os militares foram seguidos por centenas de civis, segundo uma jornalista da AFP no local. Homens e mulheres emocionados, com os olhos cheios de lágrimas, retornaram aos seus bairros para inspecionar suas casas. Alguns estavam comovidos devido à destruição, e muitos deles subiam nos escombros para observar as ruínas de seus lares.
No devastado bairro de Hamidiye, um dos setores - de maioria cristã - da Cidade Velha agora totalmente deserto, uma jornalista da AFP viu lojas com suas vitrines totalmente destruídas, além de edifícios com marcas de balas em seus muros e paredes. "Terminamos a operação de retirada dos homens armados da Cidade Velha de Homs", indicou Barazi, informando que no total 2 mil pessoas, em sua maioria rebeldes, foram retiradas desde quarta-feira em conformidade com um acordo sem precedentes.
É a primeira vez que um acordo entre as duas partes permite a retirada dos rebeldes de uma grande cidade do país desde o início da guerra, em março de 2011, que devastou o país e já deixou mais de 150 mil mortos.
Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), o leve atraso em sua retirada ocorreu porque os grupos rebeldes islamitas tentaram limitar a entrada de alimentos em duas cidades xiitas cercadas pelos insurgentes na região de Aleppo (norte), violando os termos do acordo. "Vitória" O acordo também conduziu à libertação de 40 alauitas - uma comunidade à qual o presidente Bashar al-Assad pertence -, uma iraniana e 30 soldados sírios, segundo os rebeldes.
Homs é a cidade onde os guerrilheiros foram submetidos ao cerco mais prolongado, acompanhado por intensos ataques aéreos, uma tática utilizada pelo regime para vencer sua resistência. De acordo com o OSDH, 2 mil pessoas morreram ali em dois anos. Em Homs só restam rebeldes no bairro de Waer (noroeste), onde vivem centenas de milhares de pessoas, mas estão sendo realizadas negociações para sua partida.
A tomada desta cidade é crucial na medida em que une Damasco, a capital, com o litoral oeste, assim como o norte com o sul do país, o que facilita sobretudo os deslocamentos de reforços. "Hoje o grande acontecimento foi que Homs foi esvaziada de homens armados e de armas, e é uma vitória para o povo e o exército", indicou à AFP uma fonte militar em Damasco.
Este êxito para o regime ocorre quando faltam três semanas para a eleição presidencial organizada no dia 3 de junho pelo poder político nos setores controlados pelo regime de Bashar al-Assad. Estas eleições, que Assad espera vencer, foram denunciadas como uma farsa pela oposição e por seus aliados ocidentais. Embora a rebelião esteja retrocedendo no centro do país e perto de Damasco, mantém suas posições nas frentes sul e norte, principalmente na região de Aleppo.