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Filha de Raúl Castro lidera multitudinária conga anti-homofobia em Havana

Disfarçados de havaianas e abraçados em bandeiras com as cores do arco-íris, centenas de homossexuais, bissexuais, travestis e transsexuais lotaram a avenida mais concorrida do centro de Havana


Havana - Disfarçados de havaianas e abraçados em bandeiras com as cores do arco-íris, centenas de homossexuais, bissexuais, travestis e transsexuais lotaram, neste sábado, a avenida mais concorrida do centro de Havana, em uma conga multicolorida contra a homofobia, liderada pela filha do presidente Raúl Castro.

[SAIBAMAIS]Quinhentas pessoas dançaram durante mais de meia hora no compasso dos tambores da dança de origem africana e gritaram palavras de ordem anti-homofóbicas, estremecendo a "Rampa" havaneira, no centro da cidade com a "Conga Cubana contra a Homofobia". "Abaixo a homofobia" e "Socialismo sim, homofobia não" cantavam os participantes, que agitavam bandeiras com as cores do arco-íris de diferentes tamanhos, entre elas uma de 15 metros, diante dos olhares e dos comentários que variavam da aprovação à indiferença até o deboche.

"A sociedade cubana avança nesta luta, são cada vez mais as instituições e os grupos sociais que nos apoiam, embora ainda enfrentemos resistências", disse Mariela Castro, filha do presidente cubano, que comandou a atividade celebrada durante a VII Jornada contra a Homofobia, iniciada na sexta-feira.

A sexóloga de 52 anos e diretora do Centro Nacional de Educação Sexual (Cenesex) participou da marcha junto com Gloria Careaga, co-secretária geral da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais (ILGA), organização que celebrou nesta semana um encontro regional na ilha. "É realmente maravilhoso ver como cresceu esta celebração", declarou à AFP a dirigente mexicana da ILGA, uma organização com sede em Genebra, fundada em 1978 e integrada por 1.200 instituições de todo o mundo.

Segundo ela, Argentina e Uruguai - que legalizaram o casamento entre homossexuais em 2010 e 2013 respectivamente - são os países "que mais avançaram na proteção dos direitos" de gays, bissexuais e transexuais na região, e Cuba os segue.

Que a luta "retumbe"

Com uma fantasia de havaiana que deixava à mostra o corpo escultural, a mexicana Michelle Altamirano, um transexual de 25 anos, se tornou uma das estrelas do dia. "Vim uma primeira vez e adorei o ambiente que se vive aqui, por isso voltei", declarou à AFP Altamirano, que trabalha como coordenadora a favor da diversidade sexual no México, enquanto posava para fotos na rua 23, ao lado da avenida costeira, a do Malecón.

Duas companhias profissionais de dança e seus músicos se somaram este ano à atividade, dando mais colorido à conga, um gênero muito popular na província de Santiago de Cuba, 900 km a sudeste de Havana. Ali, com seus trajes multicoloridos, os grupos competem entre si durante o carnaval, em uma tradição trazida por seus ancestrais, vindos da África.

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"A ideia de inserir profissionais faz com que a luta contra a homofobia retumbe e seja sentida em todos os cantos", afirmou o bailarino de 31 anos Yunier Valera, gay e membro da companhia Raíces Africanas. A homossexualidade, tradicionalmente estigmatizada em Cuba, foi reprimida com rigor após a vitória da revolução de Fidel Castro em 1959, com internações em campos de trabalho nos anos 1960 e forte marginalização durante o chamado "quinquenio cinza" dos anos 1970.

No entanto, nos últimos anos, o Cenesex vem realizando um trabalho de reivindicação dos direitos dos homossexuais, e agora muitos se dizem, inclusive, favoráveis ao governo. Também existem na ilha pequenos grupos de homossexuais opositores, que não participaram da conga tradicional. Assim como em 2013, a jornada contra a homofobia, que se estenderá até 24 de maio, é dedicada à família porque, segundo Mariela Castro, "tem a responsabilidade transcendente de gerar respeito e amor entre todos os seus integrantes", independentemente de sua orientação sexual.