Agência France-Presse
postado em 12/05/2014 11:44
Lagos - Em um vídeo divulgado nesta segunda-feira (12/5), o Boko Haram exigiu a libertação dos prisioneiros do grupo em troca das quase 300 estudantes sequestradas em meados de abril no nordeste da Nigéria. A reivindicação foi rejeitada com veemência pelo governo nigeriano.
Em meio à mobilização internacional para resgatar as adolescentes, o Boko Haram divulgou um vídeo com pelo menos 100 meninas, que seriam uma parte das reféns. Filmadas durante uma prece coletiva, elas teriam sido convertidas ao Islã.
Na gravação, o chefe do grupo armado, Abubakar Shekau, fala durante 17 minutos e aparece sorrindo, de uniforme militar e com um fuzil apoiado no ombro. Ele se pronuncia em árabe e, então, em hauçá (a língua mais falada no norte do país) e assume a responsabilidade pelo sequestro coletivo em Chibok.
Ao todo, 276 estudantes foram feitas reféns, em 14 de abril em Chibok, no estado de Borno (nordeste), um dos redutos do Boko Haram. Desse total, 223 meninas continuam em poder do grupo. De maioria muçulmana, esse estado também conta com uma significativa comunidade cristã.
Depois de ameaçar transformar as adolescentes em "escravas" em um vídeo anterior, desta vez, Shekau disse tê-las convertido ao Islã. "Estas meninas, com as quais vocês tanto se preocupam, nós as libertamos de fato (...) e vocês sabem como nós as libertamos? Estas meninas se tornaram muçulmanas", afirmou.
Não às ;condições;
"Nós vamos libertá-las somente depois que vocês tiverem libertado nossos irmãos presos pelas autoridades nigerianas", acrescentou.
Shekau declara ainda que a troca será feita apenas com "aquelas que não se converteram ao Islã" e que aquelas que aceitaram virar muçulmanas se tornaram "irmãs". O governo reagiu rapidamente.
"Não cabe ao Boko Haram e a seus rebeldes impor suas condições", disse à AFP o ministro nigeriano do Interior, Abba Moro, acrescentando que "não se trata de trocar uma pessoa pela outra".
O novo vídeo do Boko Haram mostra um grupo de 130 adolescentes sentadas ao ar livre debaixo das árvores, em um local não identificado, recitando juntas a Al-Fatiha, o primeiro capítulo ("sura") do Alcorão.
As adolescentes aparecem vestidas com véu preto e cinza, deixando apenas seus rostos à mostra. No vídeo, três são entrevistadas. Duas delas contam que eram cristãs e se converteram ao Islã, enquanto a terceira declara que já era muçulmana. Com o olhar perdido e visivelmente coagida, uma das meninas garante que elas não foram maltratadas por seus captores.
Em momento algum do vídeo, de 27 minutos de duração, Shekau aparece com as estudantes, que têm a expressão abatida, mas não parecem estar apavoradas.
Mobilização mundial
Especialistas americanos estão analisando o vídeo em cada detalhe, informou a diplomacia americana nesta segunda. De acordo com a porta-voz do Departamento de Estado americano, Jennifer Psaki, os Estados Unidos "investigam cada indício" para ver como é possível encontrar as meninas.
Washington já enviou para a Nigéria uma equipe de especialistas civis e militares para ajudar a encontrar as estudantes, enquanto a mobilização mundial não para de crescer.
Nesta segunda, a Casa Branca deu pela primeira vez detalhes sobre a composição dessa equipe.
Entre as 26 pessoas, "há cinco autoridades do Departamento de Estado (...) e dez conselheiros do Departamento da Defesa que já estavam na Nigéria" e que receberam novas ordens de missão, explicou o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney.
[SAIBAMAIS]Além disso, outros sete conselheiros do Comando "África" do Pentágono (Africom, na sigla em inglês) foram enviados, assim como "quatro membros do FBI especializados em localização, negociação e medidas de prevenção de outros sequestros", acrescentou Carney.
Desde o início de sua insurreição em 2009, o Boko Haram vem intensificando os ataques contra as escolas. O sequestro das estudantes e as ameaças de tratá-las como "escravas", de vendê-las, ou de "casá-las à força" chocaram a comunidade internacional e deflagraram uma onda de solidariedade.
Em hauçá, Boko Haram significa "A educação ocidental é um pecado".
Depois de Estados Unidos, Reino Unido e França, que enviaram especialistas para a Nigéria nos últimos dias, a China ofereceu sua ajuda na sexta-feira passada, e Israel, no domingo.
No domingo à noite, o presidente francês, François Hollande, propôs uma cúpula sobre segurança na Nigéria. No próximo sábado, Hollande deve receber em Paris os representantes da Nigéria e de quatro de seus vizinhos - Chade, Camarões, Níger e Benin.
Nesta segunda, Hollande anunciou ter convidado americanos e britânicos para esta cúpula e pediu que todos ajam "em conjunto e de maneira eficaz".
As manifestações contra o sequestro continuam no mundo todo. Nesta segunda, por exemplo, várias organizações de defesa dos direitos humanos e das mulheres foram às ruas de Dacar, capital do Senegal, para pedir a libertação das reféns.
Muito criticado por não ter agido rapidamente nos dias que se seguiram ao sequestro, o presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, disse estar "muito otimista" com a operação de busca, que conta com o apoio logístico da comunidade internacional.
A insurreição islâmica já deixou milhares de mortos no país, desde 2009, sendo que mais de duas mil pessoas morreram desde o início de 2014.