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Nigéria quer dialogar com o Boko Haram para libertar jovens sequestradas

O comandante das Forças Armadas americanas na África foi até Abuja para uma reunião sobre o resgate das jovens

Agência France-Presse
postado em 13/05/2014 16:00
O grupo rebelde islamita, Boko Haram , divulgou nesta segunda-feira imagens de mais de 100 jovens sequestradas
O governo nigeriano anunciou nesta terça-feira (13/5) que está disposto a dialogar com o Boko Haram para obter a libertação das 223 estudantes ainda em poder do grupo radical islâmico, no momento em que a comunidade internacional concentra seus esforços em ajudar nas buscas. "A Nigéria sempre esteve aberta ao diálogo com os insurgentes", declarou o ministro nigeriano de Assuntos Especiais, Taminu Turaki, acrescentando que o governo está "pronto para discutir todas as questões, e as estudantes sequestradas em Chibok estão entre elas".

Neste contexto, o comandante das Forças Armadas americanas na África (Africom) chegou nesta terça-feira a Abuja para se reunir com autoridades nigerianas e discutir o resgate das jovens sequestradas em 14 de abril pelo Boko Haram no nordeste do país.

O general David Rodriguez está na Nigéria para "discutir a ajuda americana nas operações de busca, bem como toda a cooperação" entre as forças americanas e nigerianas, explicou à AFP uma autoridade americana.

[SAIBAMAIS]Sua chegada coincide com o pedido do presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, de prolongação por seis meses do estado de exceção instaurado em maio em três estados do nordeste do país, que têm sido sobrevoados por aviões americanos.

Em vigor há um ano, o estado de exceção não impediu que a insurreição islâmica intensificasse seus ataques e fizesse este sequestro sem precedentes que chocou e mobilizou a comunidade internacional.

Nesse sentido, vários aviões espiões dos Estados Unidos sobrevoavam nesta terça o norte da Nigéria para ajudar a encontrar as jovens. "Compartilhamos imagens de satélites comerciais com os nigerianos e estamos efetuando voos tripulados de espionagem, vigilância e reconhecimento sobre a Nigéria com a autorização do governo do país", disse uma fonte americana que pediu para não ser identificada.



O governo nigeriano aceitou a ajuda internacional oferecida por Washington, Londres e Paris, além de Israel e China, apesar de ter se mostrado reticente diante de "interferências" estrangeiras.

Os especialistas americanos analisam de maneira minuciosa o vídeo do Boko Haram obtido na segunda-feira pela AFP, que mostra um grupo de 130 adolescentes ao ar livre, em um local não identificado, recitando juntas a Al-Fatiha, o primeiro capítulo ("sura") do Alcorão.

Segundo o governador do estado de Borno, Kashim Shettima, "todas as jovens desse vídeo foram identificadas como sendo as alunas da escola de Chibok", sequestradas em meados de abril pelo grupo islamita.

Abuja rejeita as "condições"


No mesmo vídeo, o chefe do grupo armado, Abubakar Shekau, exige a libertação de prisioneiros do grupo em troca das estudantes que ainda estão nas mãos dos insurgentes.

Depois de ameaçar transformar as adolescentes em "escravas" em um vídeo anterior, desta vez, Shekau disse tê-las convertido ao Islã.

Ele propõe trocar as jovens por integrantes do grupo que estão presos. Shekau declarou ainda que a troca será feita apenas com "aquelas que não se converteram ao Islã", e que aquelas que aceitaram virar muçulmanas se tornaram "irmãs". O governo se negou a aceitar as condições impostas pelos insurgentes.

Reunião sábado em Paris

Por iniciativa do presidente francês, François Hollande, uma cúpula sobre segurança na Nigéria será realizada no próximo sábado, com representantes da Nigéria e de quatro de seus vizinhos - Chade, Camarões, Níger e Benin. Americanos e britânicos também foram convidados.

Em Paris, duas ex-primeiras-damas, Carla Bruni-Sarkozy e Valérie Trierweiler, exigiram nesta terça a libertação das jovens, junto com outras personalidades.

A rebelião do Boko Haram ("A educação ocidental é um pecado", na língua hauça) provocou milhares de mortes desde 2009.

O grupo nigeriano, que quer criar um Estado islâmico, ampliou a área de atuação e cometeu recentemente ataques fora de seus redutos do norte da Nigéria, de maioria muçulmana.

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