Agência France-Presse
postado em 15/05/2014 18:25
A Zona do euro cresceu cerca de 0,2% no primeiro trimestre de 2014, graças principalmente à pujança da Alemanha, que contrasta com a estagnação da França e de outros países, que deixaram as médias de crescimento bem abaixo das expectativas.Os analistas, que apostavam em um crescimento trimestral de 0,4%, consideram o resultado obtido uma "grande decepção", que afasta a perspectiva de alcançar a alta velocidade necessária para garantir a reativação econômica.
A Alemanha foi, novamente, o motor do bloco monetário de 18 países, com uma expansão de 0,8% do PIB. Os analistas supõem que esse crescimento se deva ao inverno suave vivido este ano na Europa, somado ao consumo das famílias e ao investimento, principais responsáveis pelo crescimento da maior economia da Eurozona.
Espanha e Bélgica também sustentaram o resultado, em ambos casos com um crescimento de 0,4%. Mas França, Itália e Holanda, respectivamente segunda, terceira e quinta economias da Zona do euro, foram as grandes surpresas negativas.
- França estagnada, Itália e Holanda no vermelho -
Os dados foram decepcionantes, tanto para o consumo (-0,5% no primeiro trimestre) e o investimento (-0,9%) como para o comércio exterior (que subtraiu 0,2% do crescimento), e teriam sido piores "sem o considerável aporte das reservas de matérias-primas e bens semimanufaturados", acrescenta o banco.
Este "não é um sinal de bons prognósticos para uma aceleração significativa nos próximos trimestres" na França, sustentam os analistas da instituição.
Na Itália, o PIB voltou para o vermelho, com uma contração de 0,1%, após ter crescido 0,1% no último trimestre de 2013. Os analistas ressaltam que a economia italiana não só está atrasada em relação à recuperação de seus sócios como "tem dificuldades para se reativar", ainda que possa registrar melhores resultados nos próximos meses.
A Holanda foi a grande surpresa. Seu PIB caiu 1,4% no primeiro trimestre, embora isso se justifique pelo fato de o país "ter sido penalizado por uma demanda de gás natural menor", afirmou Peter Vanden Houte, do banco ING.
"Em termos gerais, a economia subjacente (da Holanda) deveria continuar a sua recuperação, com os investimentos em alta, impulsionados pela construção e pelo setor de equipamentos", avalia o Crédit Suisse. De acordo com os dados do Eurostat, a Holanda registrou no último trimestre de 2013 um crescimento de 1%.
Portugal, que no sábado deixará oficialmente o programa de resgate financeiro que injetou 78 bilhões de euros no país -em troca de altos cortes e reformas-, registrou um crescimento negativo de 0,7%, após sua economia ter crescido 0,5% no último trimestre de 2013.
Os analistas atribuem essa cifra a uma contração das exportações e a um aumento das importações.
Em decorrência desses resultados, o Eurostat reajustou para baixo o crescimento no quarto trimestre de 2013 da Zona do euro, de 0,3% para 0,2%.
- Um resultado decepcionante -
A Eurozona saiu no segundo trimestre de 2013 de 18 meses de recessão, com um crescimento de 0,3%, mas o impulso logo foi interrompido, na medida em que o PIB cresceu apenas 0,1% no exercício seguinte e 0,2% no último registro do ano.
O crescimento do primeiro trimestre de 2014 "é uma grande decepção", lamentou Peter Vanden Houte. Os dados "sugerem que a Eurozona continua longe de alcançar a velocidade necessária para um crescimento sustentável", acrescentou.
"Em geral, as cifras apontam uma reativação muito lenta que não ajudará a frear ou reduzir os riscos de deflação", estimou Jennifer McKeown, do Capital Economics.
E aumentam novamente a pressão sobre o BCE para que tome mais medidas de estímulo econômico em sua próxima reunião de junho.
O resultado do primeiro trimestre "deveria encorajar o BCE a reduzir suas taxas de juros no próximo mês e a adotar medidas de estímulo monetário para serem utilizadas em um futuro próximo", acrescentou McKeown.
Peter Vanden Houte acredita que, para respaldar o crescimento e afastar o risco de deflação -que se traduz em estagnação dos salários, adiamento das decisões de compra e no consequente desânimo dos investidores-, "é necessário evitar a todo custo uma nova valorização do euro", que valia na manhã de hoje 1,3660 dólar.
Na semana passada, o BCE manifestou sua preocupação com a cotação do euro e deu a entender que está pronto para atuar em junho se for necessário.
O Eurostat confirmou nesta quinta-feira uma inflação anual de 0,7% em abril, ainda distante das recomendações do BCE de um índice de preços próximo a 2%.