Agência France-Presse
postado em 16/05/2014 09:54
A catástrofe em uma mina da região oeste da Turquia, onde prosseguem as buscas pelos últimos 18 trabalhadores presos, provocou um novo episódio de protestos contra o governo do primeiro-ministro islamita conservador Recep Tayyip Erdogan, a poucos meses da eleição presidencial.
A comoção gerada pela morte de quase 300 mineiros virou um protesto contra o primeiro-ministro, que deve anunciar nas próximas semanas a candidatura para a eleição presidencial de 10 de agosto.
Desde o acidente na mina de carvão de Soma, milhares de turcos saíram às ruas para demonstrar o descontentamento com o governo, acusado de indiferença a respeito do destino dos trabalhadores em geral.
[SAIBAMAIS]Para tentar acalmar os ânimos, Erdogan prometeu uma investigação oficial para esclarecer o acidente durante uma visita na quarta-feira à mina de Soma. "Os acidentes são parte da própria natureza das minas", disse Erdogan, em uma declaração que aumentou a revolta popular e os protestos da população local contra o premier, apesar do amplo dispositivo de segurança mobilizado.
Segundo as imagens divulgadas nas redes sociais, o chefe de Governo, famoso por elevar o tom do discurso, teria agredido um manifestante, um fato que não foi confirmado. "O primeiro-ministro agrediu um cidadão", afirma nesta sexta-feira o jornal S;zcü, ligado à oposição.
A foto de um dos assessores do primeiro-ministro chutando um manifestante, enquanto dois policiais fortemente armados seguravam a vítima no chão, provocou grande impacto em uma Turquia de luto.
Desde o acidente, a polícia turca reprimiu com violência, com gás lacrimogêneo e jatos de água, várias manifestações, incluindo as dos sindicatos em greve. De acordo com a imprensa, dezenas de manifestantes ficaram feridos.
Os críticos de Erdogan, que pedem sua renúncia, insistem na falta de controle oficial nos locais de trabalho, em especial nas minas.
Mas os protestos contra o governo, que aumentaram em dezembro após um escândalo de corrupção que resvalou no Executivo e no próprio primeiro-ministro, não afetaram o governante Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), que venceu as eleições municipais de 30 de março.
Após a vitória, ninguém duvida que o homem mais carismático da política turca vai disputar a próxima eleição presidencial.
18 mineiros
Na cidade de Soma, quase 500 oficiais trabalham para retirar os últimos corpos da mina. O governo turco anunciou nesta sexta-feira que, no máximo, 18 trabalhadores permanecem presos na mina.
O ministro da Energia, Taner Yildiz, deu a entender que os 18 mineiros estariam mortos, ao afirmar que o balanço total da tragédia chegaria a "301 ou 302 falecidos". "Não há centenas de pessoas presas na mina, como alguns afirmam", disse o ministro.
Yildiz afirmou ainda que os trabalhos de resgate terminarão após a retirada de todos os corpos. A empresa privada que explora a mina de Soma negou qualquer negligência. "Não cometemos nenhuma negligência neste acidente", afirmou Akin Celik, diretor de exploração da Soma Komur Isletmeleri A.S. Ele também mencionou que o acidente pode ter sido provocado por uma explosão de pó de carvão.
Uma explosão de pó é uma combustão rápida de partículas em suspensão no ar em um local confinado. Outro diretor da empresa, Ramazan Dogru, rebateu a tese de um curto-circuito em um transformador da mina. "Não tem nada a ver com um transformador", disse, antes de afirmar que a causa exata da tragédia será conhecida com a disponibilização de todos os dados. "Não sabemos como aconteceu o acidente", acrescentou.
O diretor geral da empresa, Alp Gürkan, chamou o acidente de "tragédia incrível", mas destacou que a mina respeita as normas de segurança. A imprensa local acusa Gürkan, ligado ao partido governista, de priorizar o lucro em detrimento da segurança dos trabalhadores.