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Negociações sobre programa nuclear iraniano não alcançam progressos

Um dos negociadores do Irã disse que o país está disposto a continuar as conversas com as grandes potências

Agência France-Presse
postado em 16/05/2014 15:10
Teerã - A quarta sessão de negociações entre o Irã e as grandes potências sobre os limites do programa nuclear de Teerã terminou sem avanços nesta sexta-feira, mas com a promessa de que a busca pelo diálogo será mantida. O Irã e o chamado Grupo "5%2b1" - formado por Estados Unidos, Rússia, China, França, Grã-Bretanha e Alemanha - ainda não começaram, conforme havia sido previsto, a redigir um acordo final que consiga encerrar mais de uma década de polêmica sobre a natureza do programa atômico iraniano.

"As divergências são grandes demais para começarmos a redigir um texto de acordo", declarou à televisão estatal Abbas Araghchi, um dos principais negociadores iranianos, após a última sessão de negociações em Viena entre seu país e os representantes do "5%2b1". Ele indicou que as negociações não registraram "progressos tangíveis", mas que devem continuar.

"Divergências enormes persistem. É necessário mais realismo" da parte iraniana, considerou um diplomata ocidental. "Nós esperávamos um pouco mais de flexibilidade", acrescentou. Ao contrário das três reuniões anteriores, consideradas frutíferas, essa sessão terminou sem a tradicional entrevista coletiva conjunta com a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, e o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, reforçando a impressão de que os avanços não foram significativos. "As negociações são complexas. Nós tentamos formular um acordo", explicou em um e-mail enviado à AFP Michael Mann, porta-voz de Ashton, que representa as grandes potências nas negociações.

Próxima sessão em junho


No terceiro dia das negociações em Viena, vozes dissonantes começaram a surgir, e os Estados Unidos comunicaram sua preocupação em relação à ausência de progresso nas negociações. "Persistem diferenças importantes entre as posições das duas partes. Estamos preocupados, porque não há avanço, o tempo é limitado", reconheceu um diplomata que pediu para não ser identificado.

"O Ocidente deve renunciar às suas demandas excessivas e fazer uma avaliação precisa da realidade", declarou um integrante da delegação iraniana, em entrevista à agência oficial de notícias do Irã, a Irna. "Esperávamos que os ocidentais fossem mais realistas, mas parece que não é assim", acrescentou a mesma fonte.



Embora não se tenha divulgada a data exata do próximo encontro, como ocorreu nas reuniões anteriores, ambas as partes disseram que pretendem continuar o diálogo. "Talvez estivéssemos esperando muito, acreditando que começaríamos a redigir o texto do acordo já nesta primeira reunião", considerou Araghchi. "É natural não fazer muitos progressos durante essa primeira reunião, mas as duas partes estão determinadas a manter as negociações", garantiu o diplomata, anunciando que "no próximo mês do Kordad (22 de maio até 21 de junho) haverá duas reuniões".

"Não é o fim do mundo. Nós realizamos negociações reais para começarmos a redigir um acordo. As negociações são sérias e vão prosseguir, mas, por enquanto, não houve progressos, o que não significa uma derrota", avaliou. "Estamos determinados a prosseguir as negociações", frisou, em declarações à televisão pública iraniana. Tudo indica que a próxima rodada de negociações será em junho, mas a União Europeia ainda precisa especificar uma data - confirmaram fontes americanas.

As partes tentam concluir um acordo final antes do dia 20 de julho, segundo os termos de um provisório assinado em Genebra em novembro. O objetivo é garantir a natureza pacífica do programa nuclear do Irã e permitir a suspensão de todas as sanções internacionais contra o governo de Teerã. "Esperamos chegar a um acordo final antes de 20 de julho, assim como a outra parte, desde que os direitos nucleares da nação iraniana sejam clara e totalmente reconhecidos", declarou o negociador iraniano.

Um fracasso poderia ter consequências graves, incluindo um conflito - Israel e Estados Unidos não descartam uma ação militar - e o início de uma corrida armamentista no Oriente Médio. Algumas divergências parecem ter sido resolvidas, como a questão do reator de água pesada de Arak e, se necessário, o prazo para um acordo pode ser prorrogado por consentimento mútuo.

De acordo com Araghchi, em caso de ausência de consenso, as duas partes terão mais seis meses para manter as discussões. Teerã tem respeitado escrupulosamente seus compromissos, de acordo com os relatórios mensais da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), responsável pela verificação da aplicação do Acordo de Genebra. O acordo prevê o congelamento parcial das atividades nucleares iranianas, em troca da retirada de parte das sanções internacionais.

O Ocidente e Israel suspeitam que o Irã esteja tentando desenvolver armas atômicas sob o pretexto de um programa nuclear civil, o que Teerã nega. A República Islâmica enfrenta seis resoluções do Conselho de Segurança da ONU, incluindo quatro com sanções econômicas. Um dos pontos de atrito nas negociações é o enriquecimento de urânio, que pode ser usado para fins civis e militares. Um dos objetivos do "5%2b1" é limitar a capacidade de enriquecimento do Irã, reduzindo o número de centrífugas, atualmente em 20 mil.

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