Agência France-Presse
postado em 16/05/2014 16:59
Kiev - A situação dos direitos humanos sofreu uma "deterioração alarmante" no leste da Ucrânia, cenário de uma insurreição armada pró-Rússia, e na Crimeia, território anexado pela Rússia, denunciou nesta sexta-feira (16/5) a ONU em um relatório muito criticado por Moscou e divulgado em Kiev. Enquanto isso, em Donetsk, em um claro sinal do fracasso do Exército em retomar o controle do leste do país após um mês de operações.Durante a noite, homens armados com faixas nas cores laranja e preto presas aos uniformes - usadas pelos separatistas no leste da Ucrânia -, entraram na base das forças especiais do Ministério do Interior, sem encontrar resistência. Pouco antes, a ONU, que pede aos protagonistas da crise que façam o possível para impedir que os rebeldes pró-Rússia consigam "desmembrar" a Ucrânia, traçou um panorama sombrio da situação, com torturas, assassinatos e sequestros no leste, segundo o documento.
A Rússia reagiu imediatamente e criticou "a falta total de objetividade" do relatório, que chama de "encomenda política para ;eliminar; as autoridades autoproclamadas de Kiev". O documento cita "inúmeros exemplos específicos de assassinatos, torturas, agressões, sequestros, atos intimidatórios seletivos e alguns casos de assédio sexual, em sua maioria cometidos por grupos contrários ao governo bem organizados e armados no leste do país".
A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, pede às pessoas com influência sobre os grupos armados no leste da Ucrânia que "façam o possível para conter estes homens que parecem determinados a desmembrar o país". O relatório também cita o "inquietante aumento de sequestros e detenções ilegais de jornalistas, ativistas, políticos locais, representantes de ONGs e de militares no leste da Ucrânia".
[SAIBAMAIS]"Apesar de alguns terem sido posteriormente libertados, os corpos de muitos outros foram jogados nos rios e em outras áreas. O problema é particularmente grave dentro e ao redor da cidade de Slaviansk", reduto dos rebeldes pró-Moscou. O documento cita casos nos quais as tropas oficiais ucranianas que atuam no leste "foram acusadas de matar pessoas e de responsabilidade por desaparecimentos forçados".
O relatório, que cobre o período de 2 de abril a 6 de maio, denuncia ainda as "perseguições" aos tártaros da Crimeia, uma minoria muçulmana da península ucraniana incorporada em março pela Rússia. Os tártaros enfrentam vários problemas, como "ameaças à liberdade de movimento, casos de violência física, restrições impostas aos meios de comunicação, medo de perseguição religiosa para os muçulmanos praticantes e a ameaça do procurador da Crimeia (...) de acabar com o Parlamento dos tártaros da Crimeia", ressalta o texto.
"Mais de 7.200 pessoas naturais da Crimeia - em sua maioria tártaros - tornaram-se deslocados internos em outras partes da Ucrânia", destaca o relatório. Mas, para o governo russo, o relatório da ONU é tendencioso. "Sua falta total de objetividade, suas contradições óbvias e o uso de dois pesos e duas medidas não deixam dúvidas de que os autores cumpriram um pedido político para inocentar as autoridades autoproclamadas de Kiev", afirmou o porta-voz da diplomacia russa, Alexander Lukachevich.
Apoio europeu de Kiev
A nove dias da eleição presidencial de 25 de maio na Ucrânia, os ministros das Relações Exteriores da Polônia e da Suécia - principais apoios da Ucrânia dentro da União Europeia (UE) - visitam o país para expressar solidariedade ao governo pró-Ocidente de Kiev. Para o ministro das Relações Exteriores polonês, Radoslaw Sikorski, governo russo "deve fazer todo o possível para que esta eleição aconteça da forma mais legítima".
A Rússia questiona a legitimidade das autoridades ucranianas que assumiram o poder depois da onda de protestos que causaram a deposição, em fevereiro, do ex-presidente Viktor Yanukovitch, acusado de se curvar a Moscou por ter desistido de assinar um acordo de associação com a União Europeia em novembro passado. A visita de dois ministros europeus a Kiev acontece um dia depois de um funcionário do Departamento de Estado americano ter ameaçado "sangrar" a economia russa - já afetada por sanções -, caso Moscou tente impedir a organização da eleição presidencial.
A eleição, convocada depois da destituição de Yanukovytch, é considerada pelas potências ocidentais "crucial" para tirar o país da crise. Moscou sempre foi contra a eleição, mas recentemente o presidente russo, Vladimir Putin, flexibilizou sua posição e chegou a afirmar que a votação poderia ser positiva.