Mundo

Operações de resgate em mina na Turquia chegam ao fim em meio a polêmicas

O acidente minerador de Soma (oeste) provocou desde terça-feira uma intensa comoção em todo o país e desencadeou uma nova revolta contra o governo islamita-conservador do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan

Agência France-Presse
postado em 17/05/2014 08:54
Soma - As operações de recuperação das vítimas chegavam ao fim neste sábado, quatro dias após a catástrofe mineradora de Soma, que alimenta a ira contra o governo do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, a três meses da eleição presidencial.

Cerca de 301 pessoas morreram após catástrofe mineradora de Soma

Um dia depois de uma violenta intervenção policial contra milhares de manifestantes que exigiam, a poucos quilômetros do lugar da tragédia, a renúncia do governo, o balanço do maior acidente industrial da história da Turquia já superava os 300 mortos.

"O balanço é de 301 mortos. (...) Ainda restam dois mineiros presos no fundo", declarou à imprensa o ministro da Energia, Taner Yildiz.

O acidente minerador de Soma (oeste) provocou desde terça-feira uma intensa comoção em todo o país e desencadeou uma nova revolta contra o governo islamita-conservador do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, acusado de ter descuidado da segurança dos mineiros e de ser indiferente ao seu sofrimento.

[SAIBAMAIS]

A polícia turca dispersou violentamente na tarde de sexta-feira com canhões de água e bombas de gás lacrimogêneo 10.000 pessoas que protestavam em Soma para denunciar as condições de trabalho dos mineiros.

Erdogan - que dirige a Turquia desde 2003 e pode anunciar sua candidatura à eleição presidencial de agosto - atribuiu o acidente a uma fatalidade, e rejeitou as acusações de negligência. "Os acidentes foram parte da própria natureza da mina", havia afirmado.

Mas a 15 dias do primeiro aniversário da onda de protestos que abalou seu governo em 2013, esta alegação foi considerada depreciativa pela oposição turca e alimenta críticas e tensões, em um contexto de escândalos. As fotografias dos protestos também não acalmaram os ânimos.

Segundo imagens divulgadas nas redes sociais, o chefe de Governo, famoso por perder a calma, teria dado um tapa em um manifestante, uma informação desmentida na sexta-feira pelo porta-voz de seu partido para a Justiça e o Desenvolvimento (AKP), Huseyin Celik.

A foto de um dos assessores do primeiro-ministro chutando um manifestante, enquanto dois policiais fortemente armados seguravam a vítima no chão, provocou grande impacto em uma Turquia de luto.

As críticas ao governo, acentuadas em dezembro pela publicação de um escândalo de corrupção que resvalou no Executivo e no próprio primeiro-ministro, não afetaram o governante Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), que venceu as eleições municipais de 30 de março.

Após a vitória, ninguém duvida que o homem mais carismático da política turca vai disputar a próxima eleição presidencial dos dias 10 e 24 de agosto.



Por sua vez, em sua edição deste sábado o jornal Milliyet afirma que um relatório preliminar sobre as causas da catástrofe aponta a falta de detectores de monóxido de carbono na mina.

O presidente da companhia mineradora, Alp Gürkan, muito criticado pela imprensa após a catástrofe, havia se vangloriado em 2012 de ter conseguido reduzir de 130 a 24 dólares a tonelada dos custos de produção em sua mina.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação