Mundo

Exército tailandês decreta lei marcial e mobiliza soldados em Bangcoc

A ação foi tomada depois de meses de crise política e protestos contra o governo que deixaram 28 mortos

Agência France-Presse
postado em 20/05/2014 14:06
Bangcoc - O Exército tailandês decretou nesta terça-feira (20/5) a lei marcial e mobilizou seus soldados em Bangcoc, aumentando os temores de um golpe de Estado, depois de meses de crise política e protestos contra o governo que deixaram 28 mortos.

[SAIBAMAIS]"Declarar a lei marcial não é um golpe de Estado, mas tem como objetivo "restaurar a paz e a ordem pública", assegurou o Exército em um comunicado lido na televisão, o que gerou preocupações da comunidade internacional. Soldados e veículos militares foram mobilizados no centro de Bangcoc, particularmente no bairro onde existe uma grande concentração de hotéis e meios de comunicação. Dezenas de homens, veículos e postos de controle também foram posicionados perto de uma manifestação organizada pelos Camisas Vermelhas, movimento pró-governo, em um subúrbio de Bangcoc.



"Continuamos no nosso posto. Nossas posições permanecem inalteradas", declarou à AFP Jatuporn Prompan, líder dos Camisas Vermelhas, repetindo que o movimento não aceitaria um golpe de Estado. Os manifestantes opositores, que acampam diante da sede do governo, exigem a designação de um primeiro-ministro "neutro" e defendem o adiamento ;sine die; das eleições.

Mas o poderoso comandante do Exército, o general Prayut Chan-O-Cha, convidou os rivais políticos a "dialogar", sem anunciar a destituição do governo interino. E o líder dos manifestantes anti-governo tailandês prometeu "continuar a lutar" para derrubar o governo, por considerar que a lei marcial não altera nada. "Vamos continuar a lutar. Nós ainda não vencemos", declarou Suthep Thaugsuban a seus partidários reunidos perto da sede do governo. "A proclamação da lei marcial não tem nenhum efeito, nem é um obstáculo à nossa luta", acrescentou, durante o comício que reuniu centenas de pessoas.

A oposição luta para derrubar o governo interino instalado após a destituição da primeira-ministra Yingluck Shinawatra, acusada de ser um fantoche de seu irmão, Thaksin, derrubado por um golpe de Estado em 2006 e atualmente no exílio. O primeiro-ministro interino, Niwattumrong Boonsongpaisan, apelou ao Exército para que atue dentro da Constituição e propôs organizar eleições legislativas em 3 de agosto, como sugerido na semana passada pela Comissão Eleitoral. Mas a proposta é rejeitada pela oposição.

Thaksin Shinawatra reagiu, por sua vez, rompendo o silêncio em sua conta no Twitter, pedindo para que a lei marcial "não destrua a democracia". A tensão na capital é latente, com uma população que ainda lembra os 90 mortos de 2010 quando o Exército, sob a ordem do então governo, atacou os Camisas Vermelhas que ocupavam o centro de Bangcoc. O comandante do Exército anunciou em rede nacional de rádio e TV a censura de todos os meios de comunicação no interesse da "segurança nacional".

Dez canais de televisão - favoráveis ou contra o governo - foram fechados e deixaram de transmitir imediatamente.

Prelúdio de um golpe de Estado?

"Assistimos a um prelúdio de um golpe de Estado", analisa Pavin Chachavalpongpun, da Universidade de Kyoto, ao descrever um "complô visando criar uma situação ingovernável destinada a legitimar este avanço do Exército". Os Camisas Vermelhas, poderoso movimento que reúne partidários do governo, já advertiu a oposição sobre o risco de uma eventual guerra civil com a queda do atual gabinete.

A Tailândia passou por 18 golpes de Estado desde 1932, quando foi instalada a monarquia constitucional, o último contra Thaksin Shinawatra, derrubado pelos militares em 2006. Apesar de o comando do Exército ter mantido posturas diferentes durante os últimos meses, até o momento os militares haviam evitado se envolver na espiral crítica que abala o país, mesmo após os manifestantes ocuparem prédios públicos.

Em seis meses de crise, 28 pessoas morreram, a maioria vítimas de "balas perdidas". Thaksin é acusado de dirigir o país do exílio, mas segundo analistas, os manifestantes são apoiados pela elite monarquista, que considera o "clã Shinawatra", vencedor de todas as eleições legislativas desde 2001, uma ameaça à monarquia.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação