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Turquia indicia presidente de mina onde cerca de 300 pessoas morreram

O filho do proprietário da empresa, Can Gurkan, foi indiciado por homicídios culposos pela promotoria da cidade e detido

Agência France-Presse
postado em 20/05/2014 14:52
O presidente da mina de Soma, no oeste da Turquia, foi detido e indiciado na madrugada desta terça-feira (20/5), aumentando para oito o número de dirigentes da empresa detidos na investigação sobre a tragédia que causou a morte de 301 pessoas.

Can Gurkan, que é filho do proprietário da empresa Soma Komur Isletmeleri, foi indiciado por homicídios culposos pela promotoria da cidade e detido, segundo a agência de notícias Dogan.

Além de Gurkan, no domingo foram detidos e indiciados o diretor geral da mina, Ramazan Dogru, o diretor operacional, Akin Celik, dois engenheiros, dois supervisores e um técnico. Outros funcionários da empresa foram indiciados, mas colocados em liberdade sob controle judicial.

O proprietário da companhia Soma Holding, Alp Gurkan, empresário e pai do presidente indiciado, está sendo procurado pela polícia para ser interrogado, segundo a agência.

[SAIBAMAIS]Desde o acidente, o proprietário da mina é criticado por ter privilegiado o desempenho da empresa em detrimento das condições de segurança dos mineiros.

Em 2012, Gurkan, que construiu recentemente um arranha-céu para a sua companhia em um dos bairros nobres de Istambul, havia comemorado a redução dos custos de produção da mina, a 24 dólares por tonelada, contra 130 dólares antes da privatização do local.

Em seu discurso semanal aos deputados de seu Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan afirmou nesta terça que a investigação judicial sobre a tragédia vai até o fim.

"Ninguém pode abafar esta tragédia (...) Estamos determinados a fazer todo o necessário para solucionar os problemas em matéria de segurança e adotar todas as medidas adequadas", garantiu.

De acordo com a imprensa oficial, o governo deve anunciar em breve um "plano de ação" para reforçar a segurança das minas do país.

Aos deputados, o ministro da Energia, Taner Yildiz, reconheceu "uma negligência indiscutível" no acidente, mas preferiu não apontar culpados.

- Moção de censura -

O principal partido da oposição, o Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata) entrou com uma moção de censura contra Yildiz e o ministro do do Trabalho, Faruk Celik, denunciando sua negligência.

Mas a moção não tem chances de ser aprovada, já que o AKP possui maioria absoluta no Parlamento. Os deputados também devem votar pela abertura de um inquérito parlamentar sobre a tragédia. Na sexta-feira (16/5), durante uma coletiva de imprensa, os dirigentes da mina Soma Komur negaram negligência.

Contudo, de acordo com um relatório preliminar da investigação, citado pela imprensa turca, o nível de monóxido de carbono registrado no momento do acidente era muito superior ao limite estabelecido pelas normas de segurança, o que pode se tornar letal. O documento também destaca o forte calor nas galerias e o fato de os trabalhos não terem sido suspensos.

O procurador de Soma, Bekir Sahiner, descartou a possibilidade de o incêndio que destruiu a mina ter sido provocado por uma falha no sistema elétrico, como sugeriram algumas testemunhas, e destacou a possibilidade de uma "combustão de carvão que entrou em contato com o ar".



As operações de resgate e recuperação dos corpos foram concluídas no sábado. O líder do sindicato dos mineiros Maden-Is, Tamer Kuçukgencay, fez um apelo aos mineiros da companhia para que não voltem ao trabalho antes de uma inspeção geral em todas as minas.

"Enquanto isso não for feito, não iremos permitir que qualquer pessoa entre nos locais de exploração", declarou.

A tragédia com o maior número de mortos na história da Turquia provocou a revolta da população contra o governo conservador islâmico do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, acusado de ignorar as condições de trabalho nas minas do país e de não ter dado a devida importância ao drama logo depois do acidente.

O homem forte do país desde 2002, que deve anunciar sua candidatura à reeleição presidencial, descartou qualquer responsabilidade de seu governo.

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