Agência France-Presse
postado em 20/05/2014 18:13
As autoridades ucranianas indicaram nesta terça-feira (20/5) que não haviam constatado movimentos das tropas russas mobilizadas perto de sua fronteira, mas não confirmaram sua retirada, a cinco dias da eleição presidencial fundamental para o futuro do país.Segundo a Guarda de Fronteira ucraniana, as tropas russas recuaram a pelo menos dez quilômetros. "Nós podemos dizer que as tropas russas estão agora a pelo menos dez quilômetros da fronteira. Sobre o que acontece para além (desses 10 km), não sou eu que devo responder", mas os russos, declarou Serguei Astakhov, comandante da Guarda de Fronteira.
O ministro ucraniano das Relações Exteriores, Andrei Dechtchitsa, informou, no entanto, que não poderia confirmar a retirada das tropas russas.
Várias vezes anunciada pelo Kremlin, a retirada dos soldados mobilizados ao longo da fronteira não foi confirmada pela Otan, que não constatou "qualquer alteração na fronteira".
Ainda sim, a ausência de movimentos pode ser interpretada como um sinal da vontade da Rússia em diminuir a tensão.
"Esperamos que as declarações dos políticos russos, que haviam indicado que as tropas (russas) seriam ser retiradas da fronteira ucraniana, sejam verdadeiras", declarou o chanceler ucraniano durante uma coletiva de imprensa conjunta com o chefe da diplomacia alemã, Frank-Walter Steinmeier.
O presidente russo, Vladimir Putin, ordenou na segunda que suas tropas retornassem aos seus quartéis, mas nem a Otan nem os Estados Unidos confirmaram a retirada.
Em visita a Bucareste, o vice-presidente americano, Joe Biden, condenou mais uma vez a anexação da Crimeia por Moscou, ressaltando que "as fronteiras não devem mudar sob a mira de fuzis".
Oligarca contra os separatistas
Neste contexto de tensão, o homem mais rico da Ucrânia, Rinat Akhmetov, pediu nesta terça-feira a todos os seus funcionários que protestem pacificamente contra os separatistas pró-Rússia do leste do país, a cinco dias das eleições presidenciais.
Esse apelo pode representar um ponto de inflexão na crise ucraniana, já que o oligarca - dono de um vasto conglomerado de carvão e aço - é extremamente influente no leste do país.
"Peço a todos os meus funcionários de Donbass (região industrial do sudeste da Ucrânia) que protestem pacificamente diante das empresas em que trabalham", afirma o bilionário ucraniano em um comunicado do grupo System Capital Management (SCM).
[SAIBAMAIS]"As pessoas estão cansadas de viver com medo e terror. Estão cansadas de sair às ruas e serem alvos de tiros. Pessoas caminham com armas e lança-granadas. As cidades são cenários de atos de vandalismo e de saques", destacou Akhmetov, que, segundo a revista Forbes, tem uma fortuna de 12,2 bilhões de dólares.
Várias manifestações diante das fábricas, minas e empresas de energia do empresário foram organizadas na cidade portuária de Mariupol, em Donetsk, assim como em várias cidades do leste da Ucrânia.
Akhmetov se envolveu nos últimos dias na defesa de seus funcionários e de seus complexos industriais contra os separatistas.
Grupos desarmados, recrutados entre os funcionários de Akhmetov, foram organizados para ajudar a restaurar a ordem na cidade de 500.000 habitantes.
Ao posicionar-se como um homem de paz, o empresário pediu às autoridades de Kiev o fim da operação militar "antiterrorista" iniciada em 13 de abril para retomar o leste do país, ao mesmo tempo em que pediu aos ativistas pró-Rússia que desistissem da independência e negociassem com Kiev.
Ucrânia se nega a pagar antecipadamente pelo gás russo
Para acirrar os ânimos, as autoridades interinas da Ucrânia se negaram a pagar pelo gás russo antecipadamente, como quer Moscou.
"Dada a ausência de acordo com a parte russa para solucionar a disputa sobre o preço do gás natural, a questão do pagamento antecipado não pode ser incluída nas negociações", declarou o chefe de governo interino, Arseni Yatseniuk.
A Rússia ameaça cortar o fornecimento de gás à Ucrânia a partir de 3 de junho, se o país não pagar com antecedência a fatura do próximo mês, de 1,66 bilhão de dólares.
Yatseniuk já ameaçou a Rússia com uma demanda judicial nos tribunais arbitrais, caso Moscou não aceite um contrato para fornecer gás russo a preço de mercado.