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Exército tailandês toma o poder do país após sete meses de crise plítica

O primeiro-ministro deposto, Niwattumrong Boonsongpaisan, e seu governo receberam a ordem de se apresentar ao novo regime, que adotou o nome de Conselho Nacional para a Manutenção da Paz e da Ordem

Agência France-Presse
postado em 22/05/2014 13:51
Bangcoc - O Exército tailandês tomou o poder nesta quinta-feira (22/5) e suspendeu a maioria das liberdades civis após sete meses de crise política e protestos que resultaram em um impasse. O primeiro-ministro deposto, Niwattumrong Boonsongpaisan, e seu governo receberam a ordem de se apresentar ao novo regime, que adotou o nome de Conselho Nacional para a Manutenção da Paz e da Ordem.

[SAIBAMAIS]O Exército também ordenou que os manifestantes dos dois lados, acampados em Bangcoc, fossem para suas casas, e proibiu toda reunião de mais de cinco pessoas. Os manifestantes começaram a obedecer às ordens durante o início da noite, em clima de comemoração do lado da oposição. O novo Conselho também suspendeu a Constituição, mas decidiu manter o Senado, afirmando que isso permitirá governar o país sem problemas.



Depois de menos de três dias de lei marcial, destinada, de acordo com o Exército, a forçar o diálogo entre os atores civis da crise política, o poderoso chefe do Exército, o general Prayut Chan-O-Cha, apareceu durante a tarde na televisão para explicar que o golpe era necessário "para o país voltar ao normal". O general destacou a violência no país, que já matou 28 pessoas desde o início da crise no ano passado, principalmente durante manifestações. "Todos os tailandeses devem manter a calma e os funcionários públicos devem continuar a trabalhar como de costume", acrescentou.

Mas um toque de recolher foi decretado em todo o país a partir desta madrugada. "Eu não gosto disso... Eu vivo minha vida dia a dia", expressou Fuangfaa, uma vendedora ambulante, que vê com preocupação os efeitos do toque de recolher em seu negócio. Todas as emissoras de televisão e rádio precisaram interromper seus programas e difundir boletins do novo regime militar. "A fim de fornecer informações precisas à população", leu um porta-voz militar na televisão, que exibe apenas fotos de soldados em um fundo branco entre as declarações lidas por um militar.

A Tailândia sofreu 18 golpes de Estado ou tentativas em cerca de 80 anos. O último, em 2006, contra o ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, resultou numa série de crises políticas, levando às ruas os inimigos e simpatizantes do bilionário, que continua no exílio, apesar de sua figura de divisão do país. A crise atual é apenas o último suspiro. Ela começou no outono com protestos exigindo a saída de sua irmã Yingluck, primeira-ministra desde 2011.

Ela foi deposta pela justiça no início de maio, mas o governo interino sobrevive que a seguiu passou a ser contestado pela oposição. O anúncio do golpe de Estado nesta quinta-feira foi feito duas horas após a retomada das negociações entre os partidos políticos e os líderes dos manifestantes dos dois lados em um complexo militar na capital sob forte esquema de vigilância. Pouco antes, a confusão reinou entre os jornalistas no local, quando os líderes políticos de ambos os lados foram levados sob escolta militar para fora da sala de negociações e colocados em veículos militares.

Onde está o primeiro-ministro?


O local onde se encontra o primeiro-ministro interino Niwattumrong Boonsongpaisan, representado por ministros nas negociações, não é conhecido e nenhum representante pode ser contactado. O Exército estabeleceu na terça-feira a lei marcial, imediatamente denunciada por alguns como um golpe de Estado, reforçando o poder das autoridades militares. Em um comunicado, o Exército garantiu ter como objetivo "restaurar a paz e a ordem pública", sem procurar explorar a situação para um golpe de Estado.

"A situação me preocupa e eu não posso deixar as coisas continuarem sem solução", declarou na abertura da sessão de negociações o general Prayut, que durante meses se recusou a ceder aos ditames de golpe pedido pelos manifestantes da oposição. "O golpe não é uma solução para a crise. Isso vai se tornar a crise", considerou por sua vez Pavin Chachavalpongpun, da Universidade de Kyoto, no Japão.

Os Camisas Vermelhas, poderoso movimento pró-governo cujos partidários manifestam em um subúrbio de Bangcoc, pode tentar reagir, mesmo que seus manifestantes se dispersaram. Durante as negociações, o líder do movimento, Jatuporn Prompan, propôs um referendo nacional sobre a melhor opção para sair da crise. Mas os dois lados, que concordaram em sentar-se à mesma mesa pela primeira vez em sete meses de crise, parece irreconciliável.

Os partidários do governo insistem na necessidade de eleições o mais rápido possível, já que as fevereiro foram invalidadas pela justiça devido às perturbações causadas pelos manifestantes. Já os manifestantes querem um primeiro-ministro neutro, nomeado pelo Senado, na ausência da câmara baixa do Parlamento, dissolvida em dezembro. Após a imposição da lei marcial, os Estados Unidos haviam considerado que a situação na Tailândia não podia ser comparada a um golpe de Estado, mas a comunidade internacional já havia expressado sua preocupação.

Nesta quinta-feira, o presidente francês François Hollande condenou a tomada do poder pelo Exército e apelo a "um retorno imediato à ordem constitucional" e a organização de eleições, segundo um comunicado da presidência. O chefe de Estado também pediu que "os direitos e liberdades fundamentais do povo tailandês sejam respeitados".

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