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Jornalista tailândes conta como está o país após golpe militar

Dois dias após decretar a lei marcial, chefe do Exército confirma tomada de poder sem o derramamento de sangue, impõe toque de recolher, restringe liberdades e ordena prisões. Ocidente condena ação e exige retorno à normalidade

Rodrigo Craveiro
postado em 23/05/2014 06:00
Soldados mantêm guarda, após obrigarem os camisas vermelhas - manifestantes contrários ao governo - a se dispersarem, na periferia de Bangcoc: quartelada silenciosa
;Como estamos sob lei marcial, eu preciso pedir autorização ao meu chefe. Não posso expressar minha opinião, apenas relatar a situação no país.; Passava das 2h de hoje (16h de ontem em Brasília), em Bangcoc, quando um jornalista tailandês respondeu a um pedido de entrevista do Correio. ;Agora, nós temos o Conselho de Manutenção da Ordem e da Paz Nacional (NPOMC), que ordenou um toque de recolher das 22h às 5h e implorou aos manifestantes a voltarem para casa;, contou, sob a condição de anonimato. Na tarde de ontem, depois de se reunir com líderes de ativistas favoráveis e contrários ao governo e de ordenar a prisão deles e de outras 30 pessoas, o general Prayuth Chan-ocha avisou: ;Eu decidi tomar o poder;. Em rede nacional de tevê, acompanhado de quatro altos assessores, o chefe do Exército confirmou o golpe de Estado. ;Para que a situação retorne à normalidade rapidamente e para a sociedade amar e estar em paz novamente; E para reformar a estrutura política, social e econômica, os militares necessitam tomar controle do poder, a partir das 16h30 de 22 de maio;, disse Prayuth. ;Todos os tailandeses devem manter a calma, e os funcionários públicos devem seguir trabalhando, como o habitual;, acrescentou.

Foi um golpe clássico, sem derramar uma única gota de sangue ; o 19; desde que a Tailândia se tornou uma monarquia constitucional, em 1932. Na última terça-feira, o mesmo general tinha ido à tevê e garantido que a imposição da lei marcial não representava a derrubada do governo. O anúncio de Prayuth foi seguido pela suspensão temporária de parte da Constituição, pela dissolução do gabinete e pela criação do NPOMC. De acordo com o jornal tailandês The Nation, o premiê interino, Niwattumrong Boonsongpaisan, teria recebido ordens do conselho de se apresentar às autoridades militares e estaria escondido em um ;abrigo seguro;. Os golpistas mantiveram intacta a estrutura do Senado, assegurando que isso permitiria a governabilidade.

O novo regime militar convocou uma reunião para hoje com a ex-primeira-ministra Yingluck Shinawatra e com três outros familiares do ex-líder Thaksin Shinawatra, incluindo o cunhado Somchai Wongsawat, que também liderou a nação e foi destituído em 2008. Várias liberdades individuais foram suspensas. Além do toque de recolher, as escolas permanecerão fechadas até domingo. As redes sociais também podem sofrer bloqueio, caso divulguem ;material provocativo;. Está proibida qualquer reunião entre cinco pessoas ou mais, sob pena de um ano de prisão e pagamento de multa estipulada em 10 mil baht (cerca de US$ 300). Soldados impediram que os chamados ;camisas vermelhas;, manifestantes favoráveis ao governo, se mobilizassem e chegaram a disparar para o alto, em Uthayan Road, na periferia de Bangcoc.

Desastre
Diretor de Pesquisa do Instituto de Assuntos do Sudeste da Ásia da Universidade Chiang Mai (a 580km de Bangcoc), Paul Chambers alertou que o golpe representa um desastre para a democracia tailandesa. ;Isso significa que as forças antidemocráticas retornaram para tentar dominar o país novamente. Thaksin não é o melhor democrata, mas pelo menos foi eleito pelo voto popular. Assim como sua irmã Yingluck;, afirmou ao Correio, por e-mail. Para o especialista, a decretação da lei marcial cimenta a tendência de alternância de poder entre a monarquia e o Exército, vista nas últimas seis décadas. ;O futuro sugere uma democracia superficial, guiada por esses dois atores. Uma nova Constituição pode ser escrita, mas não descarto mudanças legais que dificultariam a realização de emendas. Provavelmente, haverá anistia para os políticos.;

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