Agência France-Presse
postado em 26/05/2014 10:34
Kiev - O presidente eleito da Ucrânia, o bilionário Petro Poroshenko, continuará com a operação militar contra os separatistas pró-Rússia para evitar uma nova "Somália" no leste do país, ao mesmo tempo em que a Rússia manifestou que está "disposta a dialogar" com o novo chefe de Estado.
[SAIBAMAIS]Na região separatista de Donetsk, os rebeldes pró-Moscou receberam a notícia da eleição do bilionário pró-Ocidente e seu anúncio de que pretende visitar o leste da Ucrânia com a tomada do controle do estratégico aeroporto de Donetsk, onde todos os voos foram cancelados. Após a apuração de metade das urnas, Poroshenko, que tem 54% dos votos, começou a detalhar as primeiras medidas que tomará como chefe de Estado, como avançar na integração da Ucrânia na União Europeia.
O bilionário, conhecido como ;rei do chocolate;, afirmou que deseja continuar com a ofensiva militar na região leste do país contra os separatistas, mas de forma mais "eficiente". "Apoio o prosseguimento da operação, mas quero mudar seu formato", disse Poroshenko, um dia depois da eleição presidencial, que deseja melhorar os equipamentos das unidades militares.
"Deve ter prazos mais curtos e ser mais eficiente", completou o futuro chefe de Estado ucraniano, antes de destacar que não permitirá aos separatistas pró-Rússia transformar o leste do país "na Somália". "Aqueles que não desejam entregar as armas são terroristas e não se negocia com terroristas. A federalização é indiferente para eles, não se importam em nada com a língua russa. O objetivo é transformar Donbass (leste da Ucrânia) na Somália", disse Poroshenko, em referência ao país africano devastado por uma guerra civil desde 1991.
"Espero que a Rússia apoie meu ponto de vista", disse o político ucraniano, que recebeu 54% dos votos no primeiro turno presidencial, segundo resultados parciais. Em um gesto de apaziguamento, Poroshenko declarou que aceitaria "qualquer referendo" no leste, com o retorno da ordem. O quinto presidente eleito da Ucrânia anunciou ainda que sua primeira viagem ao exterior "muito provavelmente" será para a Polônia, em 4 de junho, por ocasião do 25; aniversário da independência do país, onde deve encontrar o presidente americano, Barack Obama.
Durante a entrevista coletiva, o "rei do chocolate" informou que pretende manter o primeiro-ministro Arseni Yatseniuk à frente do governo e expressou o desejo de que a Ucrânia integre a União Europeia.
Reação de Moscou
A Rússia está "disposta a dialogar" com o novo presidente ucraniano, afirmou o chanceler russo, Serguei Lavrov, que pediu a Kiev o fim da operação militar contra as forças separatistas pró-Moscou no leste da Ucrânia. "Estamos dispostos a dialogar com os representantes de Kiev, com Petro Poroshenko", que foi eleito no domingo, declarou Lavrov.
"Estamos dispostos a iniciar um diálogo pragmático, em pé de igualdade, baseado no respeito de todos os acordos, em particular na área comercial, econômica e de gás, com o objetivo de buscar soluções aos problemas atuais entre Rússia e Ucrânia", completou. O chefe da diplomacia russa não anunciou, no entanto, um reconhecimento formal da legitimidade do novo presidente ucraniano.
"Como disse o presidente (Vladimir Putin), respeitaremos o resultado decidido pelo povo ucraniano", se limitou a declarar. A eleição de Poroshenko coroa para Kiev o processo iniciado com a destituição em fevereiro, pelo Parlamento ucraniano, do presidente pró-Rússia Viktor Yanukovich, após vários meses de protestos violentos. Mas a votação não aconteceu na maior parte do leste do país, que está em aberta rebelião separatista.
Putin afirmou na semana passada que consideraria "com respeito" o resultado da eleição na Ucrânia, mas sem pronunciar-se sobre a legitimidade da votação. Segundo Lavrov, "o mais importante é que as atuais autoridades (ucranianas) respeitem os cidadãos, o povo, e permitam alcançar compromissos que levem em consideração todas as forças políticas".
Ele condenou a operação "antiterrorista" do governo ucraniano contra as forças pró-Rússia do leste. "Seria um erro colossal prosseguir com a operação", advertiu, antes de pedir o respeito ao ;mapa do caminho; da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE).
O plano prevê o fim da violência e uma anistia aos opositores pró-Rússia, o desarmamento dos grupos armados e o "retorno do monopólio da força ao Estado", a promoção do diálogo nacional e a organização das eleições presidenciais que aconteceram domingo.