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Frente Nacional francesa lidera pela primeira vez eleições europeias

FN lidera uma eleição em nível nacional e, principalmente, que supera 20% dos votos

Agência France-Presse
postado em 26/05/2014 11:14
Bruxelas - A extrema direita abalou nesse domingo (25/5) os membros da União Europeia (UE), liderada por uma Frente Nacional (FN) que provocou um terremoto político na França, ao ficar em primeiro lugar pelo país nas eleições europeias.

[SAIBAMAIS]A Frente Nacional de Marine Le Pen conseguiu uma vitória histórica, obtendo 25,65% dos votos, à frente do partido conservador UMP (20,6%) e relegando o Partido Socialista (da situação) para a terceira posição, com apenas 13,9%. Essa é a primeira vez que a FN lidera uma eleição em nível nacional e, principalmente, que supera 20% dos votos. Poderá enviar entre 23 e 25 deputados para o Parlamento Europeu.



"É um resultado histórico. Somos agora o primeiro partido da França", comemorou o vice-presidente da FN, Florian Philippot. De imediato, o FN pediu a dissolução da Assembleia Nacional francesa, deixando clara a confusão entre as questões nacionais e europeia dessa eleição marcada, tradicionalmente, por uma alta abstenção e por um perfil mais específico de eleitor - aquele que pretende dar um voto "punitivo" ao governo nacional.

Seguindo os passos da FN, o partido britânico de ultradireita, antieuropeu e anti-imigração de Nigel Farage, o Partido para a Independência do Reino Unido (Ukip, na sigla em inglês), reivindicou a vitória nas eleições europeias. "O Ukip vai ganhar essas eleições, e sim, será um terremoto, porque nunca na história da política britânica um partido insurgente havia ganhado uma eleição nacional", celebrou Farage. Segundo resultados, o Ukip obteve o apoio de 27,5% dos votos, o que representa 23 cadeiras na Eurocâmara.

Fragmentação de grupos

Segundo as projeções antecipadas pelo Parlamento Europeu, o equilíbrio de forças foi modificado na nova legislatura, em favor de uma fragmentação dos grupos políticos. Os conservadores do Partido Popular Europeu (PPE) totalizam 212 assentos, seguidos pelos social-democratas, com 185, e pelos liberais, com 71.

Nesse novo Parlamento de 751 assentos, os partidos antissistema, antieuropeus e de extrema direita - inexistentes na legislatura em final de mandato - somam 143 cadeiras, segundo as estimativas. Entre eles, estão a Frente Nacional francesa, o Partido da Liberdade da Áustria (FP;) e o holandês Partido da Liberdade (PVV), que já tinham eurodeputados, mas não faziam parte de qualquer grupo político. Para isso, é necessária a obtenção de um mínimo de 25 eurodeputados de sete nacionalidades. Estes representam 40 cadeiras.

Os que não estavam representados, como o movimento antissistema Cinco Estrelas, de Beppe Grillo, o partido Alternativa pela Alemanha (AfD, antieuro), ou Amanhecer Dourado (ou Aurora Dourada) da Grécia, foram colocados pelo Parlamento dentro da categoria "outros", somando 67 cadeiras. Se conseguirem se entender, eles poderão formar um novo grupo político, mas as principais forças - conservadores e socialistas, junto com liberais - continuarão dominando a Casa.

País por país

Na Alemanha, país que envia o mais numeroso contingente de deputados (96), os conservadores da CDU/CSU aparecem em primeiro, com 36%, segundo as pesquisas de boca de urna. Já o partido antieuro AfD, criado na primavera de 2013 (hemisfério norte), alcançou 6,5% dos votos, e o partido neonazista NPD deve enviar um deputado, um marco na história da Eurocâmara.

Na Áustria, a extrema direita do FP;, que espera formar um grupo com a FN francesa, está na terceira posição com 19,9% dos votos, uma alta de cinco pontos em relação a 2009, atrás dos democrata-cristãos e dos social-democratas no poder. Na Dinamarca, o Partido do Povo (anti-imigração), levou a melhor, com 23% dos votos, enquanto na Polônia, o pequeno partido antieuropeu KNP obteve 7,2% e poderá enviar quatro deputados.

Na Hungria, a disputa foi dominada pelo partido conservador Fidesz, de Viktor Orban, seguido do extrema direita Jobbik. Na Grécia, país castigado pela crise econômica e pelas medidas de austeridade impostas por Bruxelas, o partido de esquerda radical Syriza registra um ligeiro avanço (26% a 30%, com seis cadeiras) frente à direita Nova Democracia (ND) do primeiro-ministro Antonis Samaras (23% a 27%, cinco cadeiras). O Aurora Dourada deve conseguir de 9% a 10%, o que significa ganhar três deputados.

Na Espanha, as duas formações mais importantes do país, o Partido Popular (de direita) e o opositor Partido Socialista (PSOE), sofreram um fragorosa derrota nessas eleições, marcadas pelo surgimento de novos atores. O PP obteve 16 cadeiras, oito a menos das que tem atualmente, e o PSOE, 14 eurodeputados, nove a menos do que o resultado das últimas eleições. Ambos perderam terreno para os novos partidos, sobretudo, de esquerda, como o Podemos, que surgiu do entorno do "movimento dos indignados" e agora deve levar cinco eurodeputados.

A formação antissistema italiana, Cinco Estrelas, liderada por Beppe Grillo, ficou atrás do Partido Democrata (centro esquerda) do chefe de Governo Mateo Renzi. A esquerda também ganhou na Romênia e em Portugal. Com 75% dos votos apurados, o partido de Renzi registra 41,5% dos votos. Na Grã-Bretanha, o UKIP, antieuropeu e anti-imigração, implodiu o tradicional bipartidarismo. O extremista Partido para a Independência do Reino Unido conseguiu 27,5% dos votos e 23 eurodeputados com os votos já totalmente contados na Inglaterra e em Gales.

Os trabalhistas da oposição conseguiram 25,4% dos votos e 18 eurodeputados (%2b7), enquanto os conservadores no governo receberam 23,9% dos votos e 18 eurodeputados (-7). A abstenção foi de 64%. A participação nas urnas se manteve estável, em 43,11%, ligeiramente acima da registrada em 2009.

Frente aos resultados, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, pediu aos partidos pró-Europa que se unam. Barroso considerou "muito importante" que as forças políticas "representadas na Comissão" - ou seja, conservadores, socialistas e liberais - "tenham ganhado novamente".

"Elas são, com efeito, as que têm a mais importante representação no novo Parlamento europeu", completou, em um comunicado, acrescentando que "os resultados mostram que uma maioria muito sólida e que funcione é possível".

Cinco aspirantes a presidir a Comissão


Depois das eleições, será a vez da escolha do novo presidente da Comissão Europeia, como é chamado o Poder Executivo comunitário. Os chefes de Estado e de Governo nomeiam o candidato a presidir a Comissão, que deve receber a aprovação do Parlamento Europeu. Desde 2010, após a assinatura do Tratado de Lisboa, os presidentes dos 28 países da UE devem levar em consideração o equilíbrio de forças no Parlamento antes de nomear o presidente da Comissão.

Por isso e na tentativa de "personalizar" as eleições e mobilizar os votantes, alguns grupos políticos dessa legislatura em final de mandato já designaram seus candidatos. Entre eles, estão o ex-primeiro-ministro luxemburguês Jean-Claude Juncker (PPE), o atual presidente do Parlamento europeu, o alemão Martin Shulz (social-democrata) e o ex-chefe do Governo belga Guy Verhofstadt (liberal).

Dada a fragmentação política do novo Parlamento e a ausência de uma clara maioria de deputados, os chefes de Estado podem se ver tentados a designar um candidato externo.

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