Agência France-Presse
postado em 26/05/2014 12:04
Bruxelas - Os líderes da União Europeia se encontravam sob pressão nesta segunda-feira (26/5) após um avanço histórico dos eurocéticos, e deverão levar em conta esta situação na maneira de administrar a Europa e na escolha de sua futura Comissão.[SAIBAMAIS]Os chefes de Estado e de Governo se reunirão em Bruxelas, na terça-feira (27/5) à noite, para discussões gerais e uma análise da votação, marcada por uma rejeição das instituições europeias e das elites nacionais no poder. O principal nome do bloco, a chefe de Governo alemã, Angela Merkel, considerou lamentável a ascensão dos partidos de ultradireita e eurocéticos.
A chanceler considerou ainda que a melhor resposta a este avanço é a criação de empregos. "É surpreendente e lamentável (o avanço dos eurocéticos e nacionalistas), mas agora temos que voltar a conquistar esses eleitores com a implementação de uma política de competitividade, crescimento e emprego", declarou.
"Muitos partidos populistas, eurocéticos ou mesmo nacionalistas vão entrar no Parlamento Europeu. Em alguns países, talvez não tanto quanto temíamos. Mas a França representa, naturalmente, um grave sinal com a Frente Nacional", considerou, por sua vez, o o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier.
O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, reagiu aos resultados se dizendo "convencido de que a Europa pode ser reorientada para apoiar o crescimento e o emprego, o que não acontece há anos". No dia seguinte às eleições ignoradas por mais de um europeu em cada dois eleitores, o Parlamento Europeu está mais fragmentado do que nunca.
Certamente, os grandes partidos pró-europeus continuam a ser maioria, mas todos eles perderam terreno. O primeiro grupo em termos de eleitos, o Partido Popular Europeu (PPE), que reúne os democratas-cristãos e de centro-direita, terá 214 assentos, 59 a menos do que o atual. Creditado com 189 assentos, os socialistas e social-democratas perderam sete lugares, principalmente por causa da derrota dos socialistas franceses, e evitaram o naufrágio graças aos bons resultados do Partido Democrata do italiano Matteo Renzi.
Os demais partidos pró-europeus também declinaram. Com 66 cadeiras, os liberais perderam 17 de seus representantes. Com 52 eleitos, os Verdes perderam apenas 5 assentos, apesar do fraco desempenho dos ambientalistas na França. A esquerda radical que, como os conservadores, socialistas, liberais e verdes, apresentou um candidato à presidência da Comissão, melhorou sua participação no Parlamento graças ao sucesso do Syriza grego, e conquistou 42 assentos.
No total, os partidos pró-europeus têm uma maioria de 521 assentos (de 751), mas muito enfraquecidos para evitar que os chefes de Estado e de Governo retomem o controle se quiserem. Sem uma verdadeira maioria, os Estados, provavelmente, terão a oportunidade de manter suas prerrogativas.
Estados prontos para retomar o controle
O primeiro-ministro britânico David Cameron, sempre hostil ao fato de o Parlamento escolher o próximo presidente da Comissão Europeia, pode se sentir confortável com a vitória na Grã-Bretanha dos eurocéticos do Ukip, de Nigel Farage. Questionado nesta segunda-feira durante uma coletiva de imprensa se tinha uma mensagem para Cameron, o candidato oficial do PPE, Jean-Claude Juncker, considerado muito "federalista" pelos britânicos, respondeu secamente: "eu não me ajoelho ante qualquer líder. Ganhei a eleição".
Mas a chanceler alemã, considerada mais do que nunca como a única patrona da Europa, nunca manifestou grande entusiasmo pela ideia do Parlamento e da Comissão afirmar-se àd custad dos Estados. Ela pode explorar a situação para impor seu candidato. Ao mesmo tempo que criticou a ascensão dos eurocéticos, Merkel saudou o "resultado sólido" dos conservadores e afirmou a necessidade de "discussões" para nomear um novo presidente da Comissão Europeia.
Em sua carta convite aos líderes da UE, o presidente do Conselho Europeu - o órgão que representa os membros da UE em Bruxelas - Herman Van Rompuy, advertiu que é "muito cedo para decidir nomes a propor para a presidência da Comissão Europeia". Mas não há dúvida de que, em segredo, os chefes de Estado e de Governo vão discutir a nomeação de um candidato de consenso da esquerda liberal ou da direita social.
Os nomes mais comumente citados são o da diretora do FMI, Christine Lagarde, e do primeiro-ministro dinamarquês Helle Thorning-Schmidt. O Tratado de Lisboa, que entrou em vigor em janeiro de 2010 , recomenda que os líderes europeus nomeiem o presidente da Comissão "tendo em conta os resultados das eleições europeias". O Conselho Europeu e o Parlamento não interpretem esta recomendação da mesma forma.
Para o Parlamento Europeu, está claro que os eleitores foram convidados a escolher não apenas os deputados, mas também, de forma indireta, o futuro presidente da Comissão, seja Juncker para o PPE, o alemão Martin Schulz para os socialistas, o belga Guy Verhofstadt para os liberais, a alemã Ska Keller para os ambientalistas e o grego Alexis Tsipras da esquerda radical.
Esses líderes fizeram campanha explicando aos eleitores que, em caso de vitória, um deles se tornaria o presidente da Comissão Europeia. Juncker insistiu nesta segunda-feira em um tweet que a vitória do seu partido lhe dá "o direito e a prioridade para tentar formar uma maioria no Parlamento e no Conselho".
Esta promessa pode não se cumprir e os eurocéticos, capazes de criar dois grupos no Parlamento, um ao redor de Farage e o outros ao redor da francesa Marine Le Pen, cujo partido Frente Nacional tornou-se o maior partido da França, poderiam aproveitar a oportunidade para denunciar o fosso entre as palavras e ações quando se trata da Europa.