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Especialistas analisam influência do Papa no diálogo israelo-palestino

No último dia de viagem à Terra Santa, papa Francisco visita locais sagrados para muçulmanos e judeus e recebe aceno do presidente Shimon Peres a convite feito na véspera. Especialistas analisam influência no diálogo israelo-palestino

Rodrigo Craveiro
postado em 27/05/2014 06:00
Observado por um judeu ortodoxo, o pontífice argentino deposita papel com orações entre as pedras do Muro das Lamentações, em Jerusalém:

Cada gesto em Jerusalém teve simbolismo especial. Ao entrar na Mesquita de Al-Aqsa, um dos locais mais sagrados do islã, ele ofereceu uma lição de tolerância religiosa e pregou a necessidade de uma convivência harmoniosa na Terra Santa. ;É duro construir a paz, mas viver sem paz é uma dor perpétua;, declarou, após se reunir com Mohammed Hussein, a autoridade máxima muçulmana na cidade considerada santa também para judeus e cristãos. De pé, em frente ao Muro das Lamentações, fechou os olhos, encostou a mão direita nas pedras milenares, rezou e depositou entre elas um papel com a oração do Pai Nosso em espanhol e o Salmo 122 da Bíblia. ;Eu vim para aprender com os irmãos mais velhos o significado desse lugar. Eu vim para rezar pela paz em todo o mundo;, escreveu no livro de convidados.

No último dia de visita ao Oriente Médio, o papa Francisco procurou semear a paz em palavras e em atitudes. A peregrinação do líder católico (veja o quadro) surtiu o primeiro efeito prático: Shimon Peres, presidente de Israel, aceitou o convite feito pelo pontífice para ir ao Vaticano orar com o colega palestino Mahmud Abbas. ;Eu ficarei feliz em aceitar; seu convite generoso. Seu chamado à paz soará como um eco positivo na região;, declarou Peres, com quem Francisco plantou uma oliveira.



Em uma ação sem precedentes na história da Igreja, o papa depositou uma coroa de flores no túmulo de Theodor Herzl, fundador do sionismo. No Yad Vashem, o Memorial do Holocausto, beijou as mãos de sobreviventes do massacre nazista. ;Um grande mal se abateu sobre nós, como nunca aconteceu debaixo dos céus. Agora, Senhor, escutai a nossa prece, ouça nosso apelo, salva-nos na sua misericórdia. Salva-nos a partir deste horror;, declarou. Em outra concessão aos israelenses, incluiu na agenda um memorial a vítimas de atentados terroristas.

O último compromisso em Israel foi uma missa com religiosos no Cenáculo, onde ocorreu a Santa Ceia. ;O Cenáculo nos faz lembrar a partilha, a fraternidade, a harmonia, a paz entre nós. Muito amor, muita felicidade jorram do Cenáculo. Apenas caridade sai daqui, como um rio desde a sua nascente;, disse, referindo-se a um dos locais mais polêmicos de Israel. Os judeus creem que o templo foi edificado sobre o túmulo do Rei Davi, enquanto os muçulmanos consideram sua importância histórica ; ali, construíram uma mesquita até que o Exército israelense conquistasse o Monte Sião, em 1948. No domingo, Francisco havia surpreendido o mundo ao se deter diante do Muro da Cisjordânia, em silêncio. ;A oração ali foi mais do que simbólica. Ela sublinhou a injustiça e a natureza do apartheid da ocupação;, afirmou ao Correio Richard Falk, professor de direito internacional da Universidade de Princeton e relator especial das Nações Unidas sobre os direitos humanos nos Territórios Palestinos.

De acordo com Falk, a visita do pontífice acrescenta peso à estratégia palestina de travar uma guerra de legitimidade contra Israel, a fim de garantir seus direitos, sob a lei internacional. ;O encontro de Abbas e Peres no Vaticano representaria o desejo do papa de trabalhar rumo a uma paz justa e de mostrar a importância da religião;, observa. ;Creio que o pontífice possa ser mais relevante do que governos convencionais no esforço pela paz. Sua visita já é um grande sucesso;, acrescenta. O padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, garante que o papa gera gestos, mas não tem uma agenda política. ;Todos sabem que é necessário um novo impulso para o processo de paz.;

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