Agência France-Presse
postado em 01/06/2014 12:20
Beirute - Os rebeldes, divididos, e seus aliados estrangeiros acompanham incrédulos as eleições na Síria organizadas pelo regime e que garantirão a permanência de seu inimigo Bashar al-Assad no poder, apesar de três anos de guerra.As eleições, que serão realizadas nas regiões controladas pelo regime, só ratificam a decisão de Assad e de seus aliados de vencer esta guerra a qualquer custo e eliminar qualquer chance de alcançar uma solução política, afirmam opositores e rebeldes.
"Há dois anos, pensávamos que era impossível que o regime permanecesse até as eleições de 2014. Não consigo acreditar no que está acontecendo", afirma Thaer, um militante de Homs, a cidade conhecida como "capital da revolução", e da qual a rebelião foi erradicada.
"Éramos muito mais fortes quando a revolução começou. O movimento era pacífico e importante e nossas esperanças eram imensas", explica à AFP pela internet.
O comandante rebelde da província de Damasco Selim Hejazi compartilha esta opinião. Para ele, se o regime puder realizar estas eleições no dia 3 de junho, isso se deve principalmente às divisões endêmicas da oposição, à falta de liderança e à falta de apoio da comunidade internacional.
"Não é que a comunidade internacional esteja paralisada, na realidade é não quer nos ajudar", afirma.
Enquanto o exército leal a Assad recebe ajuda militar e financeira de Rússia e Irã, o apoio à rebelião de seus protetores catarianos, sauditas, turcos ou ocidentais é caótico.
Embora a oposição tenha conseguido controlar partes significativas do território sírio, no norte e no leste, a potência militar do regime é muito superior à dos rebeldes graças à aviação, aos reforços sírios e aos combatentes do Hezbollah libanês.
Sem solução política
Na sequência da Primavera Árabe, que acabou com regimes ditatoriais em países como Tunísia, Egito ou Líbia, na Síria surgiu em março de 2011 uma revolta pacífica que exigia reformas políticas. Mas a repressão implacável fez com que se transformasse em insurreição armada que se islamizou progressivamente e se tornou cada vez mais violenta.
O Ocidente, em particular os Estados Unidos, preferiu não fornecer ajuda militar por medo de que as armas caíssem nas mãos dos jihadistas estrangeiros para ajudar os rebeldes sírios, e que atualmente são muito influentes.
Para Samir Nashar, adversário há tempos da família Assad e membro do Conselho da Oposição, o medo do Ocidente contribuiu para o fortalecimento da oposição.
"O Ocidente parece mais interessado em administrar o conflito que em ajudar a oposição", afirma o opositor a partir da Turquia, que conversou com a AFP por telefone.
O especialista sobre a Síria Noah Bonsey, do International Crisis Group, compartilha a mesma opinião. "Os aliados ocidentais deram boas palavras suscitando as esperanças dos rebeldes, mas a ajuda material limitada que forneceram é insuficiente para reforçar os elementos moderados que apoiam".
Em terra, o regime registrou vários avanços nos últimos meses, à medida que a eleição se aproxima. Se vangloriou de expulsar os rebeldes da parte antiga de Homs e de ter rompido o cerco imposto pelos rebeldes à prisão de Aleppo.
Para os opositores, estes avanços são um sinal de que "não há absolutamente nenhuma solução política no horizonte", explica Nashar.
Representantes da oposição e do regime mantiveram pela primeira vez negociações infrutíferas no início do ano na Suíça sob a égide de Washington e de Moscou.
A oposição quer que Assad seja excluído de qualquer solução política, o que o regime rejeita, divergências que impediram uma solução política ao conflito que já deixou mais de 160 mil mortos.
A realização destas eleições, classificadas de farsa pela oposição, significa infelizmente que a guerra e o banho de sangue prosseguirão, resume o militante de Homs.