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Rei Juan Carlos da Espanha abdica do trono em favor do filho Felipe

O herdeiro do trono, ao lado da futura rainha, a princesa Letizia, ocupa há vários anos um espaço cada vez mais preponderante na monarquia espanhola e até agora conseguiu manter sua popularidade

Agência France-Presse
postado em 02/06/2014 06:52
Madri - O rei Juan Carlos I, de 76 anos, que viu sua imagem abalada nos últimos anos por vários escândalos, decidiu abdicar em favor do filho, o príncipe Felipe, anunciou nesta segunda-feira (2/6) o chefe de Governo da Espanha, Mariano Rajoy, que surpreendeu o país. O príncipe das Astúrias, de 46 anos, deve ser nomeado em breve o novo monarca da Espanha com o nome de Felipe VI.

O rei da Espanha Juan Carlos assina sua abdicação no Palácio de Zarzuela
Juan Carlos I, coroado aos 37 anos após a morte do ditador Francisco Franco em 22 de novembro de 1975, construiu sua popularidade ao liderar a transição da Espanha para a democracia. Mas os últimos anos de seu reinado foram marcados pelos problemas de saúde e pelos escândalos, especialmente a investigação por suposta corrupção de seu genro Iñaki Urdangarin, que afetou a filha mais nova do rei, a infanta Cristina.

"Vi o rei convencido de que este é o melhor momento para que possa acontecer, com toda normalidade, a mudança na chefia de Estado e a transmissão da coroa ao príncipe Felipe" afirmou Rajoy em uma declaração institucional excepcional, convocada em caráter de urgência. O rei Juan Carlos manifestou o desejo de discursar pessoalmente aos espanhóis, segundo Rajoy, ainda nesta segunda-feira.

Ao mesmo tempo, o chefe de Governo espanhol convocou um conselho de ministros extraordinário para terça-feira e recordou que o processo de abdicação exigirá a aprovação de uma lei orgânica. "Espero que em um prazo muito curto as Cortes espanholas possam proceder a nomeação como rei do príncipe Felipe", disse. O herdeiro do trono, ao lado da futura rainha, a princesa Letizia, ocupa há vários anos um espaço cada vez mais preponderante na monarquia espanhola e até agora conseguiu manter sua popularidade.

Símbolo da democracia

O rei Juan Carlos "foi o maior impulsionador de nossa democracia", disse Rajoy. É "o melhor símbolo de nossa convivência em paz e em liberdade", destacou, no momento em que a Espanha enfrenta o importante desafio do desejo de independência da Catalunha, a grande região do nordeste do país. Em 23 de fevereiro de 1981, um jovem monarca de uniforme militar ordenou, em um discurso histórico exibido na televisão, aos oficiais golpistas da Guarda Civil que ocupavam o Congresso que retornassem para seus quartéis.



Ao impedir a tentativa de golpe de Estado liderada pelo tenente-coronel Antonio Tejero, o rei, que Franco havia designado já em 1969 como seu sucessor, confirmou neste dia seu nome como o herói da transição democrática. Juan Carlos acompanhou em seguida o destino de uma Espanha que havia saído da ditadura para unir-se às grandes monarquias europeias.

Durante anos, o caráter afável e os hábitos simples do chefe de Estado considerado próximo ao povo, que tinha uma vida privada discreta, apaixonado por esportes, especialmente vela e esqui, renderam o afeto dos espanhóis. Mas esta grande figura da democracia viu sua popularidade afundar em consequência dos escândalos nos últimos anos.

Primeiro, a investigação judicial que inclui sua filha Cristina, de 48 anos, indiciada por suposta fraude fiscal e lavagem de dinheiro no ;caso Noos; que afeta desde 2011 o marido da infanta, Iñaki Urdangarin, suspeito de corrupção. Depois a luxuosa viagem para caçar elefantes em 2012 em Botsuana, que teria permanecido secreta se o rei não tivesse sido repatriado em caráter de urgência após uma queda, provocou um choque em um país em crise econômica.

Tudo isto se somava aos vários problemas de saúde de Juan Carlos, que passou por inúmeras cirurgias nos últimos anos. Magro e titubeante com as muletas no início do ano, o monarca demonstrou um estado de saúde melhor nas últimas semanas e havia retomado a agenda oficial. Descrito como um "embaixador de luxo para a Espanha" graças a uma agenda intensa e às boas relações com vários líderes políticos de todo o mundo, o rei viajou em maio para a Arábia Saudita para reunir-se com autoridades locais e defender as relações comerciais entre os dois países.

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