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China já não é pária internacional 25 anos após massacre de Tiananmen

Ao normalizar as relações econômicas, Clinton assinalou que a decisão era a mais adequada para alcançar "avanços viáveis em longo prazo em termos de direitos humanos"

Agência France-Presse
postado em 03/06/2014 15:32
Washigton - Vinte e cinco anos depois da repressão dos protestos na praça Tiananmen (Praça da Paz Celestial), a China passou de pária internacional à potência amplamente cortejada, à medida em que os temas ligados ao direitos humanos foram progressivamente deixados de lado. O ataque lançado pelo exército contra os estudantes que ocupavam a praça, no centro de Pequim, deixou centenas de mortos entre os dia 3 e 4 de junho de 1989, e as potências ocidentais tentaram impor sanções econômicas ao país.

No entanto, o então presidente dos Estados Unidos, George Bush pai, que anteriormente havia sido embaixador no país asiático, enviou, em segredo, emissários à Pequim, para garantir ao presidente Deng Xiaoping que não haveriam punições maiores. O sucessor de Bush, Bill Clinton, deu ênfase especial em sua campanha de 1992 aos "carniceiros de Pequim". Quando assumiu, entretanto, adotou uma postura mais pacífica, justificando a evolução das relações comerciais com o avanço das autoridades chinesas em relação aos direitos humanos.

"Nosso governo estava dividido a respeito, os chineses aproveitaram essas contradições e não avançaram de maneira significativa em direitos humanos", afirmou Winston Lord, responsável pela diplomacia americana na Ásia na época, em recente audiência no Congresso. Nesta terça-feira (8/6), Lord, que foi embaixador na China até seis semanas antes do incidente, pensa que os EUA devem manter a pressão em relação aos direitos humanos, mas acha que seria mais eficaz um ênfase em questões "mais prudentes", como o meio ambiente. "Partindo da base de que o regime chinês elegeu sua sobrevivência como prioridade número 1", explicou.

Influência mundial

Algumas medidas adotadas em 1989 seguem sendo aplicadas: os países ocidentais e o Japão não vendem armas à China, e mantêm regularmente diálogos sobre direitos humanos. A França, no entanto, já sugeriu o fim do embargo imposto pela União Europeia. Atualmente, a China tem influência incomparavelmente superior a que exercia há 25 anos: sua economia se multiplicou por 30, à medida em que o país foi convertendo-se em uma plataforma para a fabricação de baixo custo de produtos manufaturados.

Desde que o presidente Xi Jinping assumiu o cargo, em 2013, Pequim multiplicou suas reivindicações marítimas aos seus vizinhos. Além disso, a opinião do país é procurada para todo tipo de temas, como a economia mundial, a mudança climática, a Coreia do Norte, o Irã e o Sudão. "Desde um primeiro momento, os governos (americanos) resistiram a intervir nesses temas" de direitos humanos, aponta Warren Cohen, especialista em diplomacia americana da Universidade de Maryland-Baltimore County.




"De tempos em tempos o assunto volta à tona", acrescentou, "mas é muito clara a mensagem que temos enviado aos chineses de que a relação com eles é muitos mais importante para nós do que tudo que eles fazem o seu próprio povo sofrer." Ao normalizar as relações econômicas, Clinton assinalou que a decisão era a mais adequada para alcançar "avanços viáveis em longo prazo em termos de direitos humanos".

Contudo, autoridades americanas alertaram recentemente para a piora da situação, com a detenção de dissidentes, a restrição às minorias e o bloqueio a qualquer informação sobre o episódio da Praça da Paz Celestial. "Não é possível dizer que desenvolvimento da economia leve a uma melhora dos direitos civis e políticos. A China demonstrou isso claramente", lamentou Sophie Richardson, diretora para a China da ONG Human Rights Watch.

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