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Militares impedem homenagem dos 25 anos de repressão da Primavera de Pequim

Policiais, guardas municipais, funcionários à paisana, agentes dos comitês de bairro, entre outros, estavam em grande número na região

Pequim - As autoridades comunistas chinesas estabeleceram nesta quarta-feira (4/6) um rígido dispositivo de segurança ao redor da Praça Tiananmen (Paz Celestial) para impedir qualquer tentativa de recordação da violenta repressão da "Primavera de Pequim" há 25 anos. Ao mesmo tempo, Washington pediu a libertação de dezenas de chineses detidos preventivamente antes do aniversário.



"O que? Quando, em 1989?", perguntou o jovem Jiang, visivelmente perdido. A namorada, Cui, confessou: "Eu sei, já ouvi falar disso. Não foi o movimento estudantil sobre (o então dirigente chinês) Deng Xiaoping? Mas não entendo tudo. Nem éramos nascidos". No restante da capital, onde as medidas de segurança já haviam sido reforçadas depois de uma série de atentados em todo o país atribuídos a fundamentalistas da região muçulmana de Xinjiang (oeste), milhares de policiais patrulhavam as ruas, alguns com armas automáticas.

Em um fato nada comum, um editorial do jornal oficial Global Times mencionou nesta quarta-feira os acontecimentos de 1989 - apenas na edição em inglês -, ao afirmar que "a sociedade chinesa nunca esqueceu o incidente de 25 anos atrás". Mas recorda como o país era pobre em 1989, enquanto hoje "se transformou na segunda economia mundial".

"Se a China calou as informações relativas a Tiananmen, foi para influenciar positivamente o desenvolvimento harmonioso das reformas e da abertura" afirma o jornal, segundo o qual o país "não seguirá o caminho do Ocidente". Em duas cartas abertas publicadas nesta quarta-feira, mais de 200 sinólogos ocidentais e asiáticos pediram às autoridades chinesas a libertação de ativistas detidos na véspera do aniversário.

Quase 80 deles se dirigiram ao presidente chinês Xi Jinping e pediram a libertação de cinco intelectuais detidos no início de maio por participação em um "seminário" privado sobre Tiananmen em um apartamento de Pequim. O Clube dos Correspondentes Estrangeiros na China (FCCC, ilegal mas tolerado) protestou contra a perseguição sofrida nas últimas semanas pelos jornalistas. O governo dos Estados Unidos pediu nesta quarta-feira à China que investigue o que aconteceu em 1989.

"Depois de 25 anos, os Estados Unidos ainda criticam o uso da violência para silenciar as vozes dos manifestantes pacíficos na Praça Tiananmen e seus arredores", afirma uma nota oficial da Casa Branca. O documento foi divulgado em um momento de tensão entre os dois países por episódios como a alegada invasão a empresas americanas por militares chineses ou o que Washington chama de "conduta agressiva" de Pequim no Mar da China Meridional.

"Depois de 25 anos, os Estados Unidos seguem honrando a memória daqueles que deram suas vidas na Praça Tiananmen e seus arredores, e em toda a China, e pedimos às autoridades chinesas que investiguem o que aconteceu com os mortos, detidos ou desaparecidos", completa a nota. Mas o documento também afirma que o governo e o povo americano saúdam o progresso econômico chinês nas últimas décadas e desejam manter boas relações com o país.