Agência France-Presse
postado em 04/06/2014 11:05
Cabul - O helicóptero das forças americanas pousa no campo afegão em meio a uma nuvem de poeira. Três homens saem dele e um grupo de talibãs os entrega Bowe Bergdahl. Eles decolam imediatamente. A libertação do sargento americano durou apenas um minuto. A cena aparece no vídeo "Cerimônia de troca do soldado americano", divulgado nesta quarta-feira (4/6) pelos rebeldes afegãos em seu site.Bowe Bergdahl foi libertado no sábado, após cinco anos de cativeiro depois de ter sido negociado em troca de cinco líderes talibãs detidos em Guantánamo. Esta troca foi possível após longas negociações com a mediação do Catar. O vídeo, com duração de 17 minutos, começa com uma série de imagens do soldado americano e fotografias da abertura, em junho de 2014, de um escritório de representação política oficial do talibã no Catar, que acabou sendo fechado por causa da oposição do presidente afegão, Hamid Karzai.
Como fundo sonoro deste vídeo de propaganda ouve-se uma narração em off de uma declaração triunfalista do Talibã, divulgada após a libertação dos cinco prisioneiros. Em seguida, a câmera focaliza o campo e a narração dá lugar a uma entrevista com um oficial Talibã, que comenta sobre a libertação como um documentário. "Isso aconteceu por volta das 16h na zona de Batai da província de Khost", no sudeste do Afeganistão, perto da fronteira com o Paquistão, explica o líder rebelde.
"Os americanos pediram que nos encontrássemos em um local seguro. Mas desconfiamos e pedimos a nossos notáveis que nos acompanhassem", acrescenta. Bowe Bergdahl se encontra na parte de trás de um SUV cinza metálico com listras vermelhas. Com a cabeça raspada o sargento Bergdahl, de 28 anos, veste uma longa túnica branca tradicional afegã. Ao seu redor, rebeldes armados montam guarda. O vídeo para em um ponto em que gritam "Deus é maior". Então, um homem se inclina para dizer ao soldado algumas palavras no idioma local que, de acordo com fontes rebeldes, Bergdahl aprendeu durante o cativeiro.
"Não volte ao Afeganistão"
"Não volte ao Afeganistão. Porque da próxima vez não haverá ninguém para libertá-lo", diz o guarda. O sargento abaixa a cabeça, talvez em sinal afirmativo. Ele parece estar em bom estado de saúde, apesar de visivelmente estar alterado por sua iminente libertação. No céu, helicópteros das forças americanas sobrevoam a zona em círculos e um deles pousa a poucos metros do veículo.
Três homens em trajes civis saem do helicóptero e se dirigem aos talibãs e ao soldado, sob a supervisão de militares dos Estados Unidos que permaneceram na aeronave, cujas hélices estão girando. Americanos e rebeldes apertam as mãos e alguns segundos depois, Bergdahl, submetido a uma rápida revista, é levado ao helicóptero, que voa para longe. Em seguida, uma inscrição aparece no vídeo que diz: "Não volte para o Afeganistão".
Bergdahl foi levado para a base militar de Bagram, ao norte de Cabul, e segue hospitalizado no centro médico americano de Landstuhl (Alemanha), onde permanece em situação "estável", segundo o hospital. O vídeo divulgado nesta quarta-feira pelo comandante dos rebeldes afegãos também mostra imagens da chegada dos cinco talibãs no Qatar, onde foram recebidos como heróis por suas famílias.
Pouco depois da postagem do vídeo, o Pentágono afirmou que "não há razão para duvidar de sua autenticidade" e confirmou que a transferência de Bergdahl aconteceu de forma "pacífica e foi um sucesso".
Um êxito que pode beneficiar os rebeldes islâmicos, com sede de reconhecimento internacional, especialmente desde o fechamento de seu escritório no Catar. Segundo o especialista Borhan Osman, da rede de analistas sobre o Afeganistão (AAN), o Talibã "conhece o poder da mídia" e a repetição de imagens que mostram os insurgentes celebrando esta troca de prisioneiros tenha, "talvez, a intenção de elevar o moral de seus combatentes e partidários".