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Pelo menos 796 bebês foram enterradas como indigentes ao lado de convento

Historiadora descobriu que mortes na instituição católica ocorreram entre 1925 e 1961. Corpos seriam de filhos de solteiras

Rodrigo Craveiro
postado em 05/06/2014 06:50
Frannie Hopkins tinha 14 anos quando percebeu que havia algo errado no descampado envolto por muros altos, ao lado de um antigo convento na cidade de Tuam, no oeste da Irlanda. ;Em 1975, eu e um amigo brincávamos na área fechada, que lembrava o pátio de uma escola. Pulamos a muralha e vimos que, lá no fundo, um concreto tinha sido quebrado. Sob ele, nos deparamos com muitos esqueletos;, relatou ao Correio, por telefone. ;Não entendemos o que era aquilo e saímos correndo de lá. Tudo o que queríamos era fugir dali;, acrescentou. A notícia da descoberta macabra se espalhou pela rua onde eles moravam. Um padre teria abençoado o local, e um homem sepultou novamente a ossada. ;Eu só soube da verdade anos depois, quando uma historiadora começou a estudar o local. Ela encontrou uma elevada taxa de mortalidade no convento;, disse. Aos 50 anos, o morador de Tuam crê que o escândalo remonta a uma época em que a Igreja Católica irlandesa concentrava muito poder dado pelo governo.



A instituição católica, apelidada de

Catherine Corless, a historiadora mencionada por Hopkins, dedicou anos a pesquisas sobre o convento St. Mary, chamado apenas de ;A Casa;. Recentemente, Corless encontrou registros históricos do condado de Galway que atestam a morte de 796 crianças no local, mantido pela ordem religiosa do Bom Socorro entre 1925 e 1961. O casarão recebia jovens gestantes, que davam à luz auxiliadas pelas freiras. A pesquisa chamou a atenção do jornalista Philip Boucher-Hayes, que também investigou o caso. ;A estudiosa ouviu uma versão de que várias crianças e mulheres teriam sido enterradas no local. Catherine constatou não apenas que 796 crianças morreram naquele período, mas que foram vítimas de doenças capazes de serem evitadas. As mortes ocorreram numa taxa cinco vezes mais alta que a detectada na população normal;, explicou Boucher-Hayes à reportagem, por telefone.

Os registros do condado indicam que a maioria das crianças morreu em decorrência da fome ou de doenças infecciosas, como sarampo, tuberculose e pneumonia. ;Alguém havia mencionado a existência de um cemitério para recém-nascidos, mas o que encontrei é muito mais que isso;, declarou a historiadora. Filhos de mães solteiras, os bebês nascidos no convento não tiveram direito ao batismo e, por isso, não foram enterrados seguindo os ritos religiosos. De acordo com relatos, o local onde as ossadas foram encontradas costumava ser uma fossa séptica convertida em vala comum.

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