Agência France-Presse
postado em 05/06/2014 12:20
Huisnes-SurMer - Setenta anos depois da batalha da Normandia, ainda são encontrados cadáveres de soldados, alguns recém identificados, como o caso de um canadense, cujos restos mortais foram achados no começo deste ano em um cemitério alemão.
[SAIBAMAIS]"É algo extraordinário o que aconteceu com este soldado canadense", conta Lucien Tisserand, especialista em exumações da Volksbund, associação que administra os cemitérios alemães, sobretudo na Normandia (norte da França).
Nascido em 1916 e falecido em 13 de agosto de 1944, Lawrence S. Gordon, um soldado canadense que se alistou no exército americano, foi confundido com um militar do Reich, pois seu corpo estava coberto com um casaco alemão. Desprovido da placa de identificação, seu corpo foi sepultado no cemitério alemão de Huisnes-sur-Mer.
Seu sobrinho, com o mesmo nome, descobriu o nome do tio no ano 2000, escrito no muro dedicado aos desaparecidos no cemitério americano de Saint-James.
Após longas investigações, um cadáver que poderia ser o do seu familiar, foi submetido a exames de DNA. Os exames nos ossos, muito degradados, não foram eficazes, mas um dente possibilitou sua identificação.
A identificação oficial do corpo foi anunciada em 25 de fevereiro pelo promotor de Coutances, Renaud Gaudel. "A família virá recuperar seus ossos em 10 de junho para levá-los ao Canadá", conta à AFP Tisserand, conservador do cemitério alemão de La Cambe, o maior da Normandia para os soldados do outro lado do Reno, onde jazem 21.300 corpos e 21.104 lápides.
"Quero levar meu tio para casa e enterrá-lo em sua cidade em 13 de agosto, no 70; aniversário de sua morte", afirmou Gordon em fevereiro.
O soldado era originário de Eastend, uma cidade da província de Saskatchewan (centro do Canadá), a cerca de 50 km da fronteira com os Estados Unidos.
Segredos guardados há muito tempo
Assim como o caso do soldado Gordon, as descobertas de restos mortais continuam 70 anos depois dos combates. "No ano passado foram uma dezena", diz Tisserand.
Nos locais onde os combates foram mais violentos, evidentemente, a possibilidade de encontrá-los é muito maior.
Assim, em 2008, em Burcy, perto de Vire, foram encontradas as ossadas de três soldados alemães ao mesmo tempo. Um agricultor que trabalhava no campo fez a descoberta. Em outros casos, foram exumações isoladas.
Estas descobertas frequentemente são possíveis graças a pessoas, muitas já idosas, dispostas a dar cada vez mais informações. O ritmo parece se acelerar.
"Algumas pessoas não querem partir sem ter revelado seus segredos", explica Tisserand. Mas por que falar só agora? "Porque às vezes é algo mal visto em sua comunidade", explica o conservador.
É preciso contar com dados precisos. As buscas são feitas, geralmente, na presença de vereadores, especialistas e historiadores locais.
Os americanos são muito ativos em suas buscas. "Em 2012 e 2013, visitamos mais de 20 locais onde, segundo nossas buscas, desapareceram soldados durante a Segunda Guerra Mundial. Destes, doze foram selecionados para possíveis futuras exumações", disse à AFP Melinda F. Morgan, oficial de informação do ministério da Defesa em Washington.
No entanto, as identificações não são sempre possíveis, sobretudo entre os soldados alemães. Por exemplo, os três cadáveres encontrados perto de Vire, em 2008, tinham placas de identificação, mas muitos outros, não. "Isto complica tudo para as famílias alemãs", constata Tisserand.
Na batalha da Normandia, houve 200.000 soldados mortos e desaparecidos. Os corpos de dezenas de milhares deles jazem nos 26 cemitérios militares americanos, britânicos, alemães, canadenses, poloneses.
Mas, quantos estão sepultados anonimamente em buracos abertos pela explosão de obuses, inclusive ao lado de animais, ou ainda perdidos nas florestas normandas?