No mesmo dia em que o rei Juan Carlos, da Espanha, anunciou a decisão de abdicar em favor do filho, o príncipe Felipe de Astúrias, adeptos e opositores da monarquia voltaram os olhos para o trono que encarna as raízes ancestrais da realeza. Uns e outros sabem que se aproxima o momento da sucessão de Elizabeth II, 88 anos, dos quais 62 com a cabeça coroada. O soberano espanhol foi o terceiro monarca europeu a ceder o trono para a nova geração, no intervalo aproximado de um ano. Mas foi em Madri que a troca de guarda no palácio recolocou em questão a república, em boa parte graças ao desgaste sofrido nos últimos anos pela dinastia Borbón. A Casa de Windsor, na Inglaterra, está ancorada em uma instituição quase milenar. Mesmo assim, as opiniões se dividem quanto à oportunidade de a rainha seguir o exemplo de seus pares e abrir caminho para o filho, Charles de Edimburgo, príncipe de Gales.
[SAIBAMAIS]Na última segunda-feira, no calor das notícias da Espanha, o jornal britânico The Guardian colocou a questão para os leitores, numa enquete, e o resultado foi empate técnico: metade dos participantes defendeu que Elizabeth II deixe o trono. Charles, o primeiro na linha sucessória, está longe de ser um consenso entre os súditos. Há quem prefira que a coroa passe direto para William, filho do herdeiro com a falecida (e carismática) princesa Diana. Mas o trono não parece em questão.
Para o professor Ricardo Caldas, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), a monarquia britânica é um exemplo de regime político bem-sucedido. ;No Reino Unido, nem sequer se comenta sobre o estabelecimento de uma república. Os partidos aceitam a monarquia por causa da luta contra o nazismo, durante a Segunda Guerra Mundial;, explica. ;Eu morei lá e conheço o debate. Existe um grupo republicano, mas é pequeno. Além disso, os países europeus que abandonaram a monarquia se tornaram regimes totalitários, como a Grécia e a Itália;.
Caldas acredita que, devido aos problemas econômicos e sociais na Espanha, há espaço para debate sobre o modelo de governo. ;Por causa da crise, a família real tornou-se o bode expiatório. Em momentos como esse, qualquer fósforo riscado causa incêndio. Mas a monarquia europeia já sobreviveu a outros momentos difíceis, como a crise de 1929;, assinala. O cientista político suspeita de que um referendo no Reino Unido revele que apenas 15% da população é a favor da república. ;Na Espanha, em um cenário negativo, eu diria que 40%, no máximo, optariam pelo fim do atual regime;, conclui.
O professor compara a monarquia ibérica à Constituição do Brasil de 1988: ;Ambas significaram a retomada da democracia no país, cada qual em seu momento;, afirma Caldas, referindo-se ao fim do regime autoritário de Francisco Franco, em 1975, e da ditadura militar brasileira, em 1984.
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