Agência France-Presse
postado em 08/06/2014 12:41
Kiev - O novo presidente ucraniano, Petro Poroshenko, enfrenta o enorme desafio de devolver a paz ao país, que se encontra à beira da guerra civil, e normalizar as relações com a Rússia, acusada de apoiar a rebelião pró-russa do leste.Depois da posse no sábado (7/6) do multimilionário pró-ocidental de 48 anos, que prometeu manter a unidade do país e estender a mão aos separatistas do leste, tanto ucranianos quanto ocidentais esperam o apaziguamento de um conflito sem precedentes desde a Guerra Fria.
"O presidente Petro Poroshenko nos devolveu a esperança no futuro. Seu discurso de posse centrado na paz foi implacável", escreveu neste domingo o jornal digital ucraniano lb.ua.
O secretário americano de Estado, John Kerry, declarou no sábado acreditar que será possível encontrar uma solução após uma breve conversa na sexta-feira entre Poroshenko e o presidente russo, Vladimir Putin, à margem da celebração do aniversário do Desembarque na França.
"Esperamos não precisar impor novas sanções nem tomar outras medidas" contra Moscou, fortemente criticado por Washington pela anexação da península da Crimeia, declarou.
Poroshenko e o embaixador da Rússia na Ucrânia, Mikhail Zurbabov, deram a entender que começarão a conversar nos próximos dias.
Sufocar a insurreição
"Há muito a ser feito, mas o presidente Poroshenko está voltado para reduzir as tensões. Agora o presidente Putin tem que se comprometer diretamente no diálogo com Poroshenko, deve deter o fluxo de armas e tomar medidas para que os separatistas do leste da Ucrânia deixem a violência", prosseguiu Kerry.
Para o especialista militar ucraniano independente Valentyn Badrak, o encontro com Putin dependerá do êxito da operação militar que a Ucrânia está realizando no leste desde 13 de abril para sufocar a insurreição, e que já deixou mais de 200 mortos.
"É necessária uma nova versão modernizada da operação", declarou em um artigo publicado no semanário Dzerkalo Tyjnia.
Para ele, é preciso "liquidar" os oficiais de inteligência militar russos e os mercenários que representam "cerca de 20% das forças separatistas que estão sendo coordenadas a partir de Moscou".
"Quando não tiverem mais o apoio do Kremlin, os ucranianos que tomaram as armas mudarão imediatamente de tática", estimou.
"Os que têm as mãos manchadas de sangue sairão da Ucrânia e os outros se acalmarão", acrescentou, ressaltando que também deve ser aplicado um "programa social adequado" para o leste do país.
Na noite de sábado os separatistas pró-russos atacaram o aeroporto internacional de Lugansk, no leste da Ucrânia, atualmente controlado pelas forças ucranianas.
"Os rebeldes atacaram ontem à noite e nesta manhã. Está claro que tentam destruir o edifício que fornece a eletricidade ao aeroporto. Não houve feridos de nosso lado", declarou um paraquedista ucraniano por telefone à AFP.
O presidente ucraniano havia se dirigido em russo aos habitantes do leste do país, palco de uma insurreição separatista pró-russa, a quem prometeu descentralizar o poder e garantir o uso livre da língua russa.
No entanto, rejeitou qualquer compromisso com a Rússia acerca da orientação europeia de seu país e do pertencimento da Crimeia à Ucrânia.
Eleito no dia 25 de maio com 54,7% dos votos, Poroshenko é o sucessor de Viktor Yanukovytch, destituído no fim de fevereiro e que se exilou na Rússia após o banho de sangue na praça Maidan de Kiev, depois de três meses de protestos pró-europeus.