Agência France-Presse
postado em 10/06/2014 14:32
Washington - Quando se aproximava o fim das suas funções como secretária de Estado, Hillary Clinton pediu ao presidente Barack Obama um "novo olhar" sobre o bloqueio a Cuba, conforme relatado em suas memórias, em referência a um assunto que dominou sua gestão.
"Perto do fim dos meus deveres, eu recomendei ao presidente Obama que lançasse um novo olhar sobre o nosso embargo (a Cuba). Não estava atingindo seus objetivos e estava atrasando nossa agenda geral na região", escreveu Clinton na página 265 de seu livro de memórias "Hard Choices" (Decisões difíceis), lançado nesta terça-feira.
A ex-senadora democrata, e possível candidata à presidência em 2016, lembrou que Obama, ao chegar à Casa Branca, havia prometido um novo diálogo com Cuba e, a partir deste ponto de vista, o embargo econômico em vigor desde a década de 1960 era um obstáculo para este recomeço.
Desde que foi implementado, o bloqueio econômico "só conseguiu dar (ao governo cubano) elementos para culpar os Estados Unidos por seus problemas econômicos", considera Hillary.
[SAIBAMAIS]Ela dedicou um capítulo inteiro de seu livro de memórias às suas experiências com a América Latina, embora a maior parte da narrativa esteja focada na cúpula da Organização dos Estados Americanos (OEA) em 2009, em Honduras, que abriu as portas para o retorno de Cuba à entidade.
Segundo a ex-secretária de Estado, essa reunião e a decisão de muitos países de reincorporar Cuba sem pré-condições foram "um teste inicial" para a política do então recém-eleito Obama para a América Latina.
Hillary narra como a sua equipe, liderada pelo diplomata Thomas Shannon, negociou a inclusão na declaração de um parágrafo estabelecendo que Cuba deveria solicitar sua reintegração à OEA.
Como o governo de Havana se recusou a pedir o retorno de seu país à entidade, "para todos os efeitos, a suspensão permaneceu", aponta Clinton.
Elogios e críticas
Hillary analisou sua relação com os chefes de Estado com quem precisou trabalhar durante o seu mandato como secretária de Estado, e reservou palavras especialmente amáveis para a presidente brasileira Dilma Rousseff e a chilena Michelle Bachelet, bem como ao presidente da Costa Rica, Oscar Arias.
Dilma, escreveu Hillary, é "uma líder formidável". "Possivelmente não tem a expressividade colorida de Lula e os conhecimentos técnicos de (Fernando Henrique) Cardoso, mas tem um intelecto forte e verdadeira coragem", acrescentou.
Sobre Bachelet, ressaltou que "ela e eu nos tornamos aliadas e amigas".
Na direção oposta, Clinton não poupou ácidos comentários sobre o ex-presidente de Honduras, Manuel Zelaya, a quem descreveu como "uma reminiscência de uma caricatura do homem forte da América Central, com seu chapéu branco e bigode preto".
Sobre o falecido presidente da Venezuela, Hugo Chávez, foi ainda mais dura: "um ditador tirano que era mais um incômodo do que uma ameaça real", descreveu.
Uma imagem desatualizada
Em geral, o capítulo latino-americano das memórias de Hillary Clinton tem como eixo central a convicção de que os Estados Unidos precisam deixar para trás a ideia da região como "a terra de golpes militares e crimes".
"Temos uma imagem desatualizada que está acontecendo em nosso continente", escreveu, acrescentando que "muitos dos nossos preconceitos estão enraizados em um século de uma história difícil".
Na visão de Hillary, ainda "há grandes problemas", mas destacou que "se há uma região onde temos de olhar para além das manchetes, é a América Latina."