Agência France-Presse
postado em 11/06/2014 18:02
A 50 quilômetros de Mossul, maior cidade do norte do Iraque conquistada na terça-feira (9/6) por jihadistas sunitas, milhares de deslocados esperam debaixo de um sol escaldante para entrar no Curdistão.
As pessoas não escondem a revolta com o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki. Meio milhão de pessoas se viram obrigadas a deixar suas casas após a tomada da segunda maior cidade do Iraque na terça-feira por combatentes do Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL), diante da impotência do governo nacional.
Em frente a um posto do controle curdo a 40 km de Erbil é possível ver desde as primeiras horas do dia filas de homens, mulheres e crianças à espera de uma autorização para morar na capital da região autônoma do Curdistão iraquiano.
Muitos homens e mulheres carregam seus filhos, ou pequenos sacos em que juntaram apressadamente roupas ou cobertores. Alguns empurram com dificuldade seus carrinhos sob um calor sufocante.
Cansados, os deslocados criticam Maliki, um xiita acusado de ser corrupto e de marginalizar a população sunita, majoritária em Mossul, mas em minoria no país.
"Medo de massacres"
"Venham nos filmar, para que o mundo inteiro veja a que estado nós fomos reduzidos por Maliki", uma mulher aos jornalistas presentes.
Com sua família, Zahra Sharif, de 39 anos, explica que "deixou a cidade por medo de massacres, caso o Exército ataque a cidade" para retomá-la do EIIL, um grupo inspirado na Al-Qaeda, mas sem vínculo com a rede radical. "Estamos com medo das consequências desta invasão porque, se o Exército entrar, poderá querer se vingar dos habitantes", diz ela, manifestando um temor compartilhado por muitos dos deslocados.
Desde a queda do sunita Saddam Hussein, após a invasão americana em 2003, esta comunidade se sente marginalizada pelo governo dominado pelos xiitas.
Dessa forma, o EIIL recebe o apoio de parte da população e das tribos locais nas regiões sunitas, como na cidade de Fallujah, sob o controle do poderoso grupo extremista desde o início do ano.
Mossul, majoritariamente árabe sunita com minorias cristã e curda, foi um reduto da rebelião contra as forças americanas no país. Foi nesta cidade que Saddam Hussein recrutou os líderes de seus serviços militares e de inteligência.
Os deslocados de Mossul têm medo de ter o mesmo destino de Fallujah, constantemente bombardeada pelo Exército que tenta retomar seu controle. A população foge da escassez de produtos básicos, principalmente em Mossul, sacudida por combates que já duram mais de dez dias.
Serviços de saúde inexistentes
"Não há mais hospitais, não há serviços médicos", lamenta Zahra. Logo ao lado, os voluntários distribuem alimentos e água para as famílias.
No posto de controle, agentes da segurança curda fortemente armados passam com seus cachorros em meio à multidão, enquanto a polícia rodoviária tenta organizar o trânsito, diante do grande fluxo de carros.
O objetivo é evitar que insurgentes entrem em território curdo se passando por deslocados. Os deslocados não parecem inclinados a criticar o EIIL, que é ajudado por outros grupos jihadistas sunitas.
Abu Ahmad, de 60 anos, afirma que viu "combatentes do EIIL nas ruas de Mossul". "Nós os vimos esta manhã e eles não nos fizeram nada". "Os moradores formaram comitês de defesa para proteger os bancos e edifícios do governo", acrescentou, garantindo que (...) os atos de vandalismo e incêndios atingiram apenas posições militares".
Segundo ele, antes da chegada do EIIL, "as pessoas se sentiam como alvos (das autoridades) nos postos de controle, com medidas de segurança muito rígidas e prisões sem explicação." Já Ahmad Ismail, de 50 anos, afirma: "Nós vamos voltar quando tivermos água e energia elétrica novamente."