Agência France-Presse
postado em 12/06/2014 08:57
Istambul - O julgamento dos 26 supostos líderes dos protestos que há um ano abalaram o governo turco começou nesta quinta-feira em um tribunal de Istambul, um processo que a oposição classifica de vergonha e escândalo.Duas semanas depois dos confrontos por ocasião do primeiro aniversário desta revolta, os membros do grupo Taksim Solidariedade, entre eles arquitetos, engenheiros e médicos, são acusados de ter organizado e participado de manifestações que se estenderam por grande parte do país no ano passado.
O crime de participação em uma organização criminosa é punido com penas de até 30 anos de prisão. Antes de entrar na sala, quase cem membros do grupo Taksim Solidariedade, que reúne ONGs, sindicatos e representantes da sociedade civil, se reuniram diante do Palácio de Justiça para fazer uma declaração à imprensa.
"Este julgamento é uma mancha na história do país. É o julgamento da vergonha e do constrangimento, quase um escândalo. Hoje estão sendo julgadas a liberdade, a democracia e a paz", leu uma porta-voz da associação de médicos turca.
"Recep Tayyip Erdogan (o primeiro-ministro turco), que segue reprimindo manifestantes, é quem deveria estar no banco dos réus por atentar contra a democracia e o Estado de direito", declarou a porta-voz antes de entrar no tribunal.
O movimento de protesto - sem precedentes desde a chegada ao poder do governo islamita conservador de Erdogan em 2002 - começou no fim de maio de 2013, com a mobilização de ecologistas contrários à destruição do famoso parque Gezi.
Após a violenta intervenção das forças de segurança no dia 31 de maio, o movimento se transformou em uma onda de protestos contra o governo de Erdogan, considerado autoritário.
Durante três semanas, mais de 3,5 milhões de turcos protestaram em uma centena de cidades sob forte repressão policial. As manifestações terminaram com oito mortos, mais de 8.000 feridos e milhares de detenções. Depois o executivo retomou com firmeza o controle da situação, e reprime agora qualquer tentativa de protestos.
Repressão e detenções
No dia 31 de maio Erdogan mobilizou mais de 20.000 policiais que dissolveram brutalmente as manifestações, todas proibidas, que lembravam o primeiro aniversário das revoltas de Gezi. Mais de 300 pessoas foram detidas.
Na terça-feira, o primeiro-ministro, prestes a anunciar sua candidatura para as eleições presidenciais de agosto, acusou a "gente de Gezi" de ser agentes de um complô contra seu regime. "Não queriam defender as árvores nem o meio ambiente, mas semear o caos", afirmou.
Neste contexto político extremamente tenso, os acusados da Taksim Solidariedade esperam um julgamento político.
Por sua vez, o governo turco ordenou na quarta-feira a transferência de mais de 2.000 magistrados no âmbito da luta contra seus antigos aliados do movimento do imã Fethullah Gullen e também realizou mudanças no Estado-Maior e no banco central.
Trata-se da reorganização mais importante na magistratura desde a revelação em meados de dezembro de um escândalo de corrupção que afeta todo o governo de Erdogan.
O primeiro-ministro acusa o movimento do pregador muçulmano Fethullah Gullen, que foi seu aliado na conquista do poder, de ser o responsável pelas acusações de corrupção e de ter produzido um complô para provocar sua queda.