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Moscou pressiona novo líder da Ucrânia para 'conter violência' no leste

Agência France-Presse
postado em 12/06/2014 20:22
Moscou - A Rússia acusou o novo presidente ucraniano de não cumprir suas promessas de "conter a violência" no leste da Ucrânia e pediu uma investigação sobre o possível uso de bombas incendiárias contra os civis.

Apesar da pressão de Moscou sobre Kiev, um dia depois do fracasso das negociações entre ambos os países para estabelecer um preço para o gás que a Rússia vende à Ucrânia, os presidentes de ambos os países conversaram por telefone para tentar buscar uma saída para a crise.

"O presidente da Ucrânia apresentou a Vladimir Putin seu plano para solucionar as coisas no sudeste ucraniano", indicou o porta-voz de Putin a agências russas.

Esses foram os primeiros relatos sobre uma conversa entre Petro Poroshenko e Putin desde que apertaram as mãos na França no dia 6 de junho, durante a cerimônia do aniversário de 70 anos do desembarque aliado na Normandia.

Poroshenko, chamado de "Rei do chocolate", tenta reforçar os vínculos de seu país com a União Europeia (UE), sem provocar o Kremlin.



Pouco antes da revelação da conversa por telefone entre Putin e Poroshenko, o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, havia afirmado que seu país está "cada vez mais preocupado com a inexistência do menor progresso nos esforços para conter a violência, deter os confrontos e acabar com a operação repressiva" no leste da Ucrânia.

O ministro russo se referiu à operação militar do Exército ucraniano no leste pró-russo do país.

Lavrov disse também que a Rússia tinha pedido uma investigação urgente sobre um possível uso de bombas incendiárias por parte das forças ucranianas.

A situação continuava tensa no leste do país, em particular em Donetsk, onde o carro de um líder pró-russo explodiu, provavelmente em um atentado.

O líder rebelde, Denis Pushilin, não estava no veículo. Dois seguranças morreram e outro ficou ferido, indicou à AFP uma porta-voz dos separatistas.

"Parar de apoiar os separatistas"

Em Kiev, o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Andrii Dechtchitsa, considerou que o poder de decisão é dos russos.

"É preciso que a Rússia pare de apoiar os separatistas. É preciso que suspendam o envio de veículos blindados e caminhões cheios de combatentes armados para as regiões do leste", afirmou durante uma coletiva de imprensa.

Poroshenko precisou convocar nesta quinta-feira uma "reunião de emergência" com as principais autoridades das forças de ordem após "a incursão a partir da Rússia" de tanques utilizados pelos rebeldes, informou a Presidência, afirmando que Kiev conseguiu retomar o controle de 100 km de fronteira com a Rússia.

"Se tudo isso continuar, não há qualquer chance de o plano de paz proposto pelo presidente ucraniano ser implementado", afirmou Dechtchitsa. Nesse caso, a Ucrânia vai pedir ao Ocidente para reforçar as sanções contra a Rússia, disse ele.

Um dos pontos-chave do plano de Poroshenko é a criação de corredores humanitários reivindicados por Moscou para permitir que os civis deixem as zonas de combate, onde a violência já fez 270 mortos em dois meses.

Só na região de Donetsk, onde os combates mais violentos foram travados, 225 pessoas morreram, incluindo duas crianças e oito mulheres. Os serviços médicos também contabilizaram 576 feridos, segundo o ministério em um comunicado.

Na região vizinha de Lugansk, 45 pessoas morreram e 137 ficaram feridas.

As forças ucranianas lançaram uma ofensiva há dois meses para acabar com a insurreição pró-russa no leste da Ucrânia, onde separatistas proclamaram duas "Repúblicas Independentes" em Donetsk e em Lugansk.

A ofensiva está concentrada principalmente nos arredores de Slaviansk, na região de Donetsk.

Último prazo para segunda-feira às 10h00

Neste contexto de extrema tensão, os dois países travam ainda um duro confronto em torno da chamada "guerra do gás", que poderá ter repercussões no restante da Europa.

Outra rodada de negociações frustrada entre os dois países e com a mediação da União Europeia foi realizada em Bruxelas.

A gigante russa Gazprom deu a Kiev até 16 de junho para que pague sua dívida pelo gás fornecido, e ameaça recorrer a um sistema de pré-pagamento.

O diretor da Gazprom, Alexei Miller, alertou nesta quinta-feira que o último prazo para o pagamento "é segunda-feira às 10h00".

Kiev classificou de "armadilha" a oferta final do presidente russo Vladimir Putin de baixar o preço do gás fornecido à Ucrânia em 20%.

Em abril, depois que os ativistas pró-Ocidente tomaram o poder em Kiev, Moscou elevou o preço dos 1.000 m3 de gás que vende à Ucrânia de 268,5 a 485,5 dólares, o maior valor na Europa.

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