Agência France-Presse
postado em 15/06/2014 14:02
Washington - Chelsea Manning, ex-analista de inteligência no Iraque, preso por ser responsável pela maior divulgação de documentos secretos na história dos Estados Unidos, rompeu o silêncio neste domingo e acusou Washington de continua mentindo sobre o Iraque."Quando o Iraque ingressa em uma guerra civil e os Estados Unidos cogitam novamente intervir, este trabalho inacabado confere nova urgência à pergunta de se as Forças Armadas americanas controlam a cobertura mediática do seu envolvimento de longo prazo no Iraque e no Afeganistão", destacou.
[SAIBAMAIS]Chelsea Manning, antes chamado de Bradley, condenado a 35 anos de prisão por uma corte marcial pela entrega de 700.000 documentos confidenciais, teve um artigo publicado neste domingo pelo The New York Times, com o título "A nebulosa máquina de guerra".
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"Acho que os limites atuais da liberdade de imprensa e o grande sigilo do governo impedem que os norte-americanos conheçam plenamente o que acontece nas guerras que financiam", disse o preso.
"Sei que com meus atos violei a lei. Entretanto, as preocupações que me nortearam seguem sem ser superadas", escreve Manning, preso em Fort Leavenworth, Kansas.
Manning, que adotou oficialmente o nome Chelsea e que demanda um tratamento hormonal para mudar de sexo, foi declarado culpado em agosto de 2013 de ter transmitido ao site WikiLeaks centenas de milhares de documentos diplomáticos e militares publicados pelo site.
Depois que o presidente Barack Obama anunciou nesta semana que considera "todas as opções" para impedir o avanço dos jihadistas no Iraque, o ex-analista de inteligência militar protestou contra o acesso limitado dos cidadãos aos fatos, "deixando-os assim sem possibilidades de avaliar a conduta de seus dirigentes".
Em relação à descrição de Washington sobre a eleição de 2010 no Iraque como um "êxito", Manning explica que "aqueles que estavam neste país tinham consciência de uma realidade mais complexa" do que a que apresentavam oficialmente.
"Me chocou a cumplicidade de nossas Forças Armadas com a corrupção da eleição. Contudo, estes detalhes profundamente inquietantes desapareceram dos radares dos meios de comunicação americanos. Como os que tomam decisões no nível mais alto podem afirmar que a opinião pública norte-americana e o Congresso apoiam o conflito quando não disponibilizaram a outra parte da informação?", escreve Manning, que afirma que nunca viu mais de 12 jornalistas dos Estados Unidos trabalhando simultaneamente no Iraque.
Este é seu "primeiro artigo atrás das grades", ressalta Emma Cape, da Rede de Apoio a Manning. Cape opina que Manning tem uma "perspectiva única sobre a questão".