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Colômbia retoma caminho da paz com Juan Manuel Santos reeleito

Em discurso depois da divulgação do resultado definitivo, o líder de 62 anos disse que seu triunfo é a vitória da paz e prometeu que não vai haver "impunidade", se o governo chegar a um acordo com as guerrilhas

Agência France-Presse
postado em 16/06/2014 14:15
Bogotá - A Colômbia retomou nesta segunda-feira (16/6) o caminho da paz com seu presidente reeleito, Juan Manuel Santos, que recebeu o apoio popular para levar adiante suas negociações com os guerrilheiros, em um país ainda dividido por meio século de conflito. O caminho agora está livre para o diálogo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Exército de Libertação Nacional (ELN), as últimas rebeliões de extrema-esquerda ativas no país, com 8.000 e 2.500 combatentes, de acordo com as autoridades.

Reeleito neste domingo com 50,94% dos votos no segundo turno contra Oscar Ivan Zuluaga, contrário a essas negociações, Santos, cuja coalizão de centro-direita já obteve em março uma maioria relativa no Parlamento, superou mais um obstáculo. Em seu discurso depois da divulgação do resultado definitivo, o líder de 62 anos disse que seu triunfo é a vitória da paz e prometeu que não vai haver "impunidade", se o governo chegar a um acordo com as guerrilhas.

"Esta não será uma paz com impunidade, esta será uma paz justa. Teremos que dar passos difíceis para garantir que não só seja justa, como também duradoura", afirmou Santos. "O processo de paz sai reforçado em sua forma atual e é mais viável. Mesmo as Farc e o ELN aparecem fortalecidos como negociadores", indicou à AFP Jorge Alberto Retrepo, diretor do Cerac, centro de pesquisas especializado em conflito.

Promotora do processo de paz com Cuba, que sedia as negociações há 19 meses, a Noruega elogiou nesta segunda-feira uma "oportunidade histórica para alcançar a paz". Santos tem uma "boa plataforma para futuras negociações", ressaltou Boerge Brende, o chefe da diplomacia norueguesa.

O presidente reeleito não deve, contudo, cantar vitória. Sua vantagem relativamente apertada nas eleições revela um apoio parcial em um país de 47 milhões de habitantes, onde a pobreza afeta um terço da população, apesar de boas taxas de crescimento econômico nos últimos anos. "A vitória é clara e a diferença, significativa, mas o resultado mostra que as pessoas votaram em Santos, convencidas da necessidade de continuar o processo de paz, e não necessariamente no governo", afirma o cientista político Felipe Botero, professor da Universidade dos Andes.

Qual será o papel da oposição?

O presidente, que tomará posse em agosto, deve especificar a sua estratégia após não conseguir formar alianças com partidos de esquerda em nome da paz. "O governo tem dívidas com setores políticos e com as guerrilhas que o ajudaram em sua campanha, e que agora podem pleitear uma participação no novo governo", considerou Ruben Dario Acevedo, historiador da Universidade Nacional, observando que há "uma parte da população exigente em relação às negociações de paz."

Resta ainda saber qual papel terá a oposição de direita, personificada por seu adversário na eleição presidencial, que recebeu 45,02% dos votos (o restante votos nulos). Zuluaga sabe que o ceticismo em relação às negociações de paz com as Farc, que ocorrem sem um cessar-fogo, permanece latente, assim como seu mentor, o ex-presidente Alvaro Uribe, ainda muito popular por ter travado uma guerra total com a guerrilha, entre 2002 e 2010.



"Orgulhoso de ser o candidato do ;uribismo", este economista de 55 anos lembrou com esta fórmula que Uribe, senador à frente do maior partido da oposição, o Centro Democrático, ainda luta contra o seu sucessor e ex-ministro da Defesa, frequentemente acusado de "traição". Alegando "fraude" durante a eleição presidencial, o ex-chefe de Estado alertou que o Centro Democrático, fundado por ele há apenas alguns meses, permanece "fiel aos seus princípios."

A candidata presidencial do Partido Conservador, Marta Lucia Ramirez, que se juntou a Uribe depois do primeiro turno, também garantiu a sua intenção de "continuar a insistir que qualquer negociação deve ocorrer sob certas condições." "O ;uribismo; é uma força poderosa que vai se opor a Santos no Parlamento, acompanhando de perto as negociações de paz", prevê Botero.

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