Mundo

Estados Unidos não descartam uso de drones e aliança com Irã no Iraque

Os jihadistas sunitas do EIIL, que tentam agora avançar em direção a Bagdá, indicaram ter matado 1.700 soldados xiitas

Agência France-Presse
postado em 16/06/2014 23:02
Bagdá - Os Estados Unidos estão considerando efetuar ataques com aviões não tripulados ("drones") para conter a ofensiva lançada pelos jihadistas há uma semana no Iraque, onde nesta segunda-feira tentavam assumir o controle da cidade estratégica de Tal Afar, no noroeste do país.

A organização jihadista sunita Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL), apoiada por partidários do regime do presidente deposto Saddam Hussein, controla boa parte das cidades do centro e do norte do país, como Mossul, a segunda maior do Iraque. Seu objetivo é criar um Estado islâmico em uma região na fronteira com a Síria.

Com isso, os insurgentes tentavam tomar nesta segunda-feira o controle de Tal Afar, um encrave xiita no caminho para a fronteira síria e uma das poucas cidades não controladas pelos radicais islâmicos na província de Nínive. Diante desse avanço que as forças de segurança iraquianas tentam deter, o presidente Barack Obama anunciou hoje o envio de 275 militares americanos para proteger a embaixada dos Estados Unidos em Bagdá e os cidadãos americanos na capital iraquiana.

Leia mais notícias em Mundo

Um contingente de "275 militares será enviado ao Iraque para reforçar a segurança dos funcionários americanos e da embaixada dos Estados Unidos em Bagdá", disse Obama em mensagem enviada aos líderes do Congresso.

Os primeiros militares partiram no domingo "com a missão de proteger os cidadãos e as propriedades americanas, e estão equipados, se necessário, para entrar em combate", escreveu o presidente, acrescentando que "essa força permanecerá no Iraque enquanto persistir a situação de insegurança".

A Casa Branca assinalou que a embaixada dos Estados Unidos em Bagdá permanece aberta, com a maior parte do pessoal trabalhando normalmente. O envio de tropas americanas ao Iraque tem o aval do governo do primeiro-ministro Nuri al-Maliki.

De acordo com o secretário de Estado americano, John Kerry, o presidente Obama está fazendo "um exame minucioso de cada uma das opções à disposição", incluindo os ataques com "drones". Kerry acrescentou que os Estados Unidos, que se retiraram militarmente do Iraque em 2011, estão "profundamente ligados à integridade" territorial desse país.

No domingo, as forças de segurança iraquianas garantiram ter retomado a iniciativa, com o controle de duas cidades ao norte da capital em combates que resultaram na morte de 279 insurgentes. Além disso, informaram que soldados conseguiram repelir um ataque de insurgentes em Tal Afar, 380 km a noroeste da capital. No entanto, várias autoridades e um morador da cidade indicaram nesta segunda uma invasão dos insurgentes.

Cerca de 200.000 pessoas, ou seja, metade da população total da região de Tal Afar, já fugiram, de acordo com uma autoridade que pediu ajuda internacional.

Os jihadistas sunitas do EIIL, que tentam agora avançar em direção a Bagdá, indicaram ter matado 1.700 soldados xiitas, mas não há confirmação por meio de fontes independentes. Ainda assim, os Estados Unidos consideraram terrível o suposto massacre.

As autoridades anunciaram no sábado um plano de segurança para defender Bagdá, e milhares de cidadãos se apresentaram como voluntários para lutar contra os insurgentes em resposta ao apelo do governo e do principal aiatolá xiita, Ali al-Sistani.

Reunião entre Washington e Teerã

Hoje, o secretário John Kerry confirmou que Washington está disposto a conversar com o Irã sobre a situação no Iraque. Nesta segunda, os dois países discutiram, em Viena, a crise no Iraque, à margem das negociações sobre o programa nuclear de Teerã, informou o Departamento de Estado. "Ocorreram breves conversações no P5%2b1 hoje sobre o Iraque, mas muito breves", declarou a porta-voz da diplomacia americana, Marie Harf, à rede de televisão CNN.

O porta-voz do Pentágono, o contra-almirante John Kirby, ressaltou, contudo, que os Estados Unidos não têm planos de consultar o Irã sobre uma eventual ação militar no Iraque. "Não há absolutamente intenção alguma, plano algum de coordenar ações militares entre Estados Unidos e Irã", descartou Kirby.

O Irã, país de maioria xiita, mostrou-se inesperadamente disposto a manter interesses estratégicos comuns com os Estados Unidos para apoiar as autoridades iraquianas, também xiitas, contra os insurgentes sunitas do EIIL.

No sábado, o presidente iraniano, Hassan Rohani, indicou que não exclui uma cooperação com os Estados Unidos sobre este assunto, embora dois funcionários iranianos tenham expressado no dia seguinte sua rejeição a essa abordagem.

O primeiro-ministro da província autônoma do Curdistão iraquiano, Nechirvan Barzani, fez uma visita a Teerã nessa segunda para conversar sobre a situação no Iraque.

O Reino Unido também informou que o chefe da diplomacia britânica tinha conversado por telefone com seu colega iraniano sobre o Iraque, mas não divulgou o conteúdo da conversa.

A Arábia Saudita exigiu a formação de um governo de unidade nacional, ao mesmo tempo em que rejeitou qualquer ingerência estrangeira no Iraque. Riad também considerou que a política sectária do primeiro-ministro Al-Maliki causou a desestabilização do Iraque, enquanto, para o Catar, a marginalização dos sunitas explicaria em parte a situação atual. Já a Jordânia pediu um "processo político global" no país.

Desde a chegada de Al-Maliki ao poder, em 2006, o Iraque mantém relações tensas com os países do Golfo, em especial com a Arábia Saudita, que o acusa de marginalizar os sunitas. O conflito na Síria aumentou a tensão.

Os ministros das Relações Exteriores da Liga Árabe anunciaram uma reunião na quarta e na quinta-feira na cidade saudita de Jidá para tentar solucionar a situação crítica no Iraque.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação