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Ataques de islamitas deixam 64 pessoas mortas em 48 horas no Quênia

O último ataque reivindicado pelos shebab ocorreu na madrugada desta terça-feira, quando homens armados mataram 15 pessoas em Poromoko, na região turística de Lamu

Agência France-Presse
postado em 17/06/2014 13:18
Mpeketoni - Pelo menos 64 pessoas morreram nas últimas 48 horas em dois atentados no litoral do Quênia, reivindicados pelos rebeldes somalis shebab, apesar de o presidente do país atribuí-los a "redes políticas locais". Desde domingo (15/5), os ataques fizeram 64 vítimas no sudeste do país, a 100 km da fronteira com a Somália, o que representa um desafio para o Quênia, cujas forças combatem ao lado da força da União Africana os rebeldes shebab.

Moradores fazem fogueira em protesto depois que homens armados não identificados atacaram recentemente a cidade queniana de Mpeketoni
"Não se trata de um ataque shebab. As provas apontam que a preparação e execução deste crime odioso está relacionada com redes políticas locais e grupos criminosos", afirmou em um discurso televisionado o presidente queniano Uhuru Keniatta. O chefe de Estado não deu outras informações sobre o incidente que foi reivindicado pelo grupo islamita somali vinculado à Al-Qaeda. O último ataque reivindicado pelos shebab ocorreu na madrugada desta terça-feira, quando homens armados mataram 15 pessoas em Poromoko, na região turística de Lamu, segundo fontes da segurança.

Um porta-voz dos shebab declarou à AFP que seus membros haviam cometido um novo ataque e que todos haviam conseguido voltar ilesos depois de duas noites de massacre. "Durante a noite cometemos um novo ataque. Matamos 20 pessoas, principalmente policiais e guardas florestais quenianos. Os membros do comando entraram em vários locais em busca de soldados", declarou Abdulaziz Abu Musab, porta-voz militar dos shebab. "Os membros do comando cumpriram com seu dever e retornaram tranquilamente a sua base", completou, sem revelar se esta "base" fica no Quênia ou na vizinha Somália.

A polícia confirmou que vários homens armados, aparentemente do mesmo grupo que cometeu o massacre no domingo em Mpeketoni, assassinaram na segunda-feira à noite pelo menos 10 pessoas na localidade de Poromoko, na região de Lamu. E a Cruz Vermelha local indicou que 52 quenianos seguem desaparecidos após os ataques. "As 52 pessoas desaparecidas são aquelas cujos familiares indicaram não ter notícias de seu paradeiro", declarou à AFP um porta-voz da Cruz Vermelha queniana, Wariko Waita.



[SAIBAMAIS]A União Africana condenou, por sua vez, "o massacre realizado pelos shebab". O ataque a Mpeketoni é o mais violento desde a ação de um comando shebab contra o shopping Westgate de Nairóbi, em setembro de 2013, que terminou com 67 mortos. Segundo testemunhas, os islamitas visaram unicamente homens cristãos, poupando mulheres, crianças e muçulmanos. Os extremistas atacaram a delegacia de polícia local e depois abriram fogo nas ruas, antes de invadir hotéis e restaurantes, onde os clientes assistiam as partidas da Copa do Mundo do Brasil.

"Tiraram as pessoas, fizeram com que se ajoelhassem e executaram um a um", relatou David Waweru, funcionário de um hotel. Esta onda de violência provocou a reação de líderes muçulmanos do país. "Esta violência permanente ameaça dividir o país", alertou o Fórum Nacional de Líder Muçulmanos, que advertiu para o risco do ressurgimento do ódio étnico e religioso, vivido pelo Quênia após as eleições presidenciais de 2007.

Advertência aos turistas

Além de reivindicar o ataque, o grupo ligado à Al-Qaeda afirmou que os turistas e estrangeiros residentes devem deixar o país. O grupo explicou em um comunicado que o ataque foi uma vingança contra o governo do Quênia, que "oprime brutalmente os muçulmanos através da coação, intimidação e assassinatos ilegais de acadêmicos muçulmanos". O Quênia enviou suas tropas para combater os extremistas na Somália, em outubro de 2011, ao lado das forças da União Africana.

Os insurgentes também declararam o Quênia "zona de guerra" e alertaram os turistas e estrangeiros a não entrar no país, que tem sido um destino popular por suas praias e safaris, mas que viu o turismo diminuir drasticamente devido as tensões políticas, o aumento da criminalidade e os ataques atribuídos aos shebab. "Os estrangeiros que se preocupam com sua segurança não deveriam visitar o Quênia ou, se não, vão sofrer as consequências por sua ousadia", declararam os islamitas em um comunicado na segunda-feira. "Também alertamos o governo queniano que enquanto continuar a invadir nossas terras e oprimir muçulmanos inocentes, estes ataques continuarão".

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