Agência France-Presse
postado em 18/06/2014 13:16
O primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, prometeu nesta quarta-feira (18/6) derrotar os jihadistas que assumiram o poder de grandes grandes partes do Iraque em apenas dez dias, enquanto Bagdá pediu oficialmente ajuda aos Estados Unidos em sua contra-ofensiva.
Maliki, um xiita odiado pelos insurgentes sunitas e de forma mais geral pela minoria sunita no Iraque, declarou que suas forças enfrentam os rebeldes, após as derrotas nos primeiros dias da ofensiva jihadista lançada em 9 de junho.
Neste contexto, o ministro iraquiano das Relações Exteriores, Hoshyar Zebari, anunciou que Bagdá pediu oficialmente aos Estados Unidos que efetuem ataques aéreos contra os jihadistas.
"O Iraque pediu oficialmente ajuda a Washington, em virtude do acordo de segurança (com os Estados Unidos) para realizar ataques aéreos contra os grupos jihadistas", declarou Zebari aos jornalistas em Jidá, na Arábia Saudita, após consultas sobre a situação no Iraque durante uma reunião ministerial da Organização da Cooperação Islâmica (OCI).
Na segunda-feira, os Estados Unidos anunciaram o envio ao Golfo do navio americano USS Mesa Verde, com 550 marinheiros e helicópteros Osprey a bordo, para poder enviar reforços em caso de evacuação da embaixada americana em Bagdá.
Ainda nesta quarta, o porta-voz das forças de segurança garantiu que libertará a estratégica cidade xiita de Tal Afar (noroeste), em parte controlada pelos insurgentes.
O Exército iraquiano tentará "libertar toda a cidade antes do amanhecer de quinta-feira", declarou, acrescentando que as tropas seguirão para leste, em direção a Mossul, a segunda maior cidade do país, controlada pelos jihadistas.
[SAIBAMAIS]Enquanto isso, a Arábia Saudita advertiu para o risco de uma guerra civil, enquanto o Irã afirmou que fará tudo para proteger os lugares sagrados do islã xiita no Iraque.
"Nós vamos combater o terrorismo e derrotar a conspiração", afirmou em um discurso televisionado Maliki, no poder desde 2006.
"Um revés não é uma derrota", acrescentou, assegurando que as forças armadas tinham retomado a iniciativa, conseguindo conter a escalada e atingir os jihadistas do Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL).
O governo Maliki é marcado por divisões sectárias entre xiitas e sunitas e enfrenta há mais de um ano uma onda de violência alimentada pelo descontentamento da minoria sunita, que se sente marginalizada, e pela guerra na vizinha Síria, onde o EIIL também atua.
Na terça-feira, o premiê afastou altos comandantes acusados de fugirem do campo de batalha no início da ofensiva.
As forças rebeldes lideradas pelos jihadistas do EIIL e apoiadas por partidários do ex-presidente sunita Saddam Hussein, tomaram na semana passada a cidade de Mossul e grande parte de sua província Nínive, assim como Trikit e partes das províncias de Saladino, Diyala (leste) e Kirkuk (norte).
Impacto limitado no mercado petroleiro
Nas frentes de batalha, os combatentes jihadistas atacaram na madrugada desta quarta-feira a principal refinaria de petróleo do Iraque, ao norte de Bagdá, e os combates prosseguem, segundo funcionários da instalação.
Os rebeldes conseguiram entrar na refinaria de Baiji, na província de Saladino, e as forças de segurança tentam provocar o recuo dos insurgentes.
Alguns depósitos da refinaria, que fica 200 km ao norte de Bagdá, foram incendiados.
Até o momento, as autoridades do setor petroleiro consideravam "limitados" os impactos da violência na produção de petróleo do Iraque, segundo maior exportador da Opep.
"O ataque contra a principal refinaria de Baiji pode significar uma fonte de petróleo para o EIIL, mas o impacto do ataque é provavelmente menor do que acreditamos", considera Rebecca O;Keeffe, analista da Interactive Investor.
Antes do anúncio deste ataque, os preços do petróleo estavam instáveis na Ásia. Além dos campos do Curdistão (norte), controlados pelas autoridades locais, a maioria da produção de petróleo do Iraque está localizado no sul, longe da ofensiva.
Risco de guerra civil
No norte do Iraque, os jihadistas tomaram três novas cidades, e no oeste, o Exército tenta retomar a cidade de Tal Afar, depois de ter repelido os insurgentes em Baquba (60 km a nordeste de Bagdá).
Na província de Nínive, quarenta indianos que trabalhavam na construção civil foram sequestrados na região de Mossul, onde 80 cidadãos turcos continuam reféns dos jihadistas desde a semana passada.
Depois de acusar Maliki de levar o Iraque à beira do caos com sua política de exclusão dos sunitas, a monarquia sunita da Arábia Saudita considerou que a situação no Iraque pode causar uma guerra civil que pode afetar a região. No dia anterior, Maliki acusou Riad de apoiar os extremistas.
Para os especialistas, o que tem acontecido atualmente tem suas origens na invasão dos Estados Unidos, em 2003, que derrubou o ditador sunita Saddam Hussein, mas também na política religiosa de Maliki.
"Os americanos desmantelaram as instituições, mas Maliki entrará para a história como alguém que perdeu as rédeas do Iraque", disse, Ruba Husari, editora do site Iraq Oil Forum.