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Felipe VI de Borbón assume trono espanhol com agenda desafiadora

Enfraquecido, após seguidos problemas de saúde e desgastado pelos escândalos, poucas horas antes, seu pai, o rei Juan Carlos I, havia assinado a lei que autorizou sua abdicação

Agência France-Presse
postado em 18/06/2014 21:00
Madri - Felipe VI de Borbón se tornou o novo rei da Espanha, à meia-noite desta quinta-feira (horário local), com a difícil missão de devolver a legitimidade à monarquia espanhola e preservar a unidade do país frente à pressão separatista catalã. O novo rei presta juramento nesta quinta pela manhã.

Diante de cerca de 160 convidados, o ambiente era de solenidade no Salão das Colunas do Palácio Real de Madri

Enfraquecido, após seguidos problemas de saúde e desgastado pelos escândalos, poucas horas antes, seu pai, o rei Juan Carlos I, havia assinado a lei que autorizou sua abdicação. Com isso, chegou ao fim um reinado de 39 anos, que permitiu à Espanha se consolidar como uma democracia moderna após a ditadura franquista, manchada nos últimos tempos, porém, por denúncias e pela crise econômica.

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O texto entrou em vigor à meia-noite (19h de quarta-feira em Brasília), antes da proclamação oficial do novo monarca, que acontece em uma cerimônia nesta quinta logo cedo, no Congresso. A lei de abdicação foi aprovada por ampla maioria em ambas as Casas do Parlamento, apesar da oposição de partidos nanicos que querem escolher, por referendo, entre monarquia e república.

Adeus a Juan Carlos

Diante de cerca de 160 convidados, o ambiente era de solenidade no Salão das Colunas do Palácio Real de Madri para a última cerimônia oficial de Juan Carlos com honras de chefe de Estado.

Contendo as lágrimas, com passos hesitantes e apoiado em uma muleta, o rei, em roupas civis - terno azul e gravata cor de rosa -, atravessou a sala para assinar a lei. Embargado pela emoção, ele ouviu a releitura de seu discurso de 2 de junho, com o qual anunciou sua decisão de abdicar.

Ao lado da mulher, a rainha Sofia, e do novo casal real, Felipe e Letizia, Juan Carlos abraçou efusivamente seu filho, de 46 anos, depois de assinar a abdicação. Sob aplausos, Juan Carlos trocou de lugar com Felipe, um símbolo dessa sucessão inédita desde o início da democracia espanhola, em 1978.

Escolhido em 1969 pelo ditador Francisco Franco, o rei ascendeu ao trono dois dias depois de sua morte, em 22 de novembro de 1975.

Durante toda a cerimônia, sua nora Letizia, que se tornará, aos 41 anos, a primeira rainha da Espanha a não ter sangue real, não descuidou por um segundo sequer das duas filhas: Leonor, de oito anos, a nova princesa das Astúrias, e sua irmã Sofia, de sete anos. O chefe do governo conservador, Mariano Rajoy, ratificou a abdicação após a assinatura do rei.

Afirmando querer dar lugar "a uma nova geração", Juan Carlos deixa como legado a delicada missão de reerguer uma monarquia desacreditada e de preservar uma unidade nacional ameaçada pelo aumento dos clamores separatistas da Catalunha e do País Basco.

"Ar de festa"

De uniforme militar, com a faixa vermelha de capitão-general das Forças Armadas, que recebeu das mãos de seu pai, Felipe VI vai prestar juramento nesta quinta-feira, prometendo lealdade à Constituição de 1978, pedra angular da democracia espanhola. Após o juramento, Felipe VI fará seu primeiro discurso como rei, que será analisado até o último detalhe para saber como abordará os desafios do país.

A cerimônia acontecerá na presença de deputados e senadores, mas na ausência de parlamentares republicanos, de convidados estrangeiros e do próprio Juan Carlos, que quis ceder o protagonismo ao filho. Rompendo com a tradição católica, o dia será exclusivamente laico.

Também será um dia em busca de um delicado equilíbrio: combinar a sobriedade exigida por tempos de crise e a proximidade com uma população que questiona a monarquia cada vez mais.

Depois de seu primeiro discurso como rei e de presidir um desfile militar às portas do Congresso dos Deputados, Felipe, ao lado de Letizia, percorrerá o centro da cidade de carro. Cerca de 16 mil flores, entre gerânios, crisântemos, lírios e petúnias, e centenas de bandeiras vermelhas e douradas da Espanha já enfeitam as ruas de Madri, e mais dez mil bandeiras foram distribuídas a táxis e ônibus.

"Há um ar de festa", comentou Carlos Tesorero, um espanhol de 60 anos, que contemplava a fachada do Congresso, enquanto cerca de dez homens estendiam um enorme toldo vermelho com o brasão da Espanha Constitucional. "Parece um jogo de futebol. Há um grande número de bandeiras", comparou o estudante José Alberto Cajiros, de 20 anos. Ele e o amigo José Manuel Garrucho disseram estar satisfeitos com a mudança. "O tempo da mudança chegou", comemorou este último.

Adornada com flores frescas, a praça do Palácio Real espera milhares de pessoas que vão acompanhar na quinta-feira o casal real saudando a multidão da varanda central, junto com as filhas e com Juan Carlos e Sofia. Um telão instalado no centro da capital transmitirá ao vivo a proclamação do novo monarca.

Cerca de 7.000 policiais foram mobilizados para garantir a segurança do evento. Pequenas manifestações pró-república foram convocadas em sinal de protesto, mas terminaram proibidas pelas autoridades. O dia termina com uma recepção para pelo menos 2.000 convidados e embaixadores estrangeiros.

Esperança de renovação
Esperança de uma monarquia contestada por um em cada dois espanhóis, de acordo com pesquisas, Felipe continua popular, mas tem uma pequena margem de manobra em um país onde a crise econômica e uma taxa de desemprego de 26% causaram uma dramática perda de confiança nas instituições.

O mais urgente parece ser o desafio separatista na Catalunha, grande região do nordeste, cujo governo regional convocou um referendo para 9 de novembro próximo. Madri nega a validade legal dessa convocação. "Agora, os espanhóis esperam quase tudo dele: esperam que acerte a Catalunha, esperam que acerte o desemprego", disse à AFP o repórter Cote Villar, do jornal "El Mundo". "É um grande sopro de ar fresco", mas "há um grande risco de decepção", comentou, lembrando que "no final das contas, continua sendo um rei de uma monarquia parlamentar que não pode fazer muito".

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