Agência France-Presse
postado em 19/06/2014 16:42
Bagdá - As tropas iraquianas lutam contra uma coalizão comandada pelos jihadistas, em que membros tribais, ex-oficiais do Exército de Saddam Hussein e grupos salafistas se juntaram contra um inimigo comum.Os combatentes do Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL) são o principal motor da ofensiva arrasadora que permitiu aos insurgentes tomar em dez dias vastas regiões do norte e do centro do país.
"O EIIL representa a principal força" da operação, afirma um oficial do gabinete do primeiro-ministro Nuri al-Maliki, que pediu para não ser identificado. Estes jihadistas "não deixam que outra organização compartilhe com eles a liderança da operação", acrescenta.
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Mas esse movimento saído da Al-Qaeda recebe o apoio de grupos árabes sunitas, como o Exército da Ordem dos Naqshabandis e o Exército de Maomé, "embora o papel destes seja limitado nesta operação e existam divergências entre eles", explica o oficial.
O Exército dos Naqshabandis é ligado ao ex-número dois de Saddam Hussein, Ezat al-Duri, que continua foragido.
E o Exército de Maomé, próximo ao partido Baath dissolvido, lutou contra as forças americanas em Fallujah em 2005 e esteve envolvido em uma insurreição na mesma cidade sunita no ano passado.
Todos esses grupos "recebem um apoio logístico de integrantes do partido Baath", que tinha o poder nos tempos de Saddam Hussein, explica.
Entre os insurgentes também está o "Exército dos Mujahedines", formado por ex-militares fiéis a Saddam.
"Embora esses grupos não compartilhem a mesma ideologia do EIIL, atualmente o apoiam, partindo do princípio de que ;o inimigo do meu inimigo é meu amigo;", explicou.
- Divergências ideológicas -
De acordo com o especialista militar Anwar Mahmud Jalaf al-Juburi, outros dois grupos salafistas, "Ansar al-Suna", que reivindicou ataques contra os Estados Unidos, e o Exército Islâmico, formado por ex-oficiais de Saddam Hussein, "participam da ofensiva contra as forças do governo".
"Embora discordem em alguns pontos, eles coordenam a ação e trocam informações", explica Juburi, um ex-general do Exército durante o regime de Saddam Hussein.
Aparentemente, os integrantes das tribos também desempenham algum papel, o que fez com que Maliki pedisse aos chefes tribais sunitas que se opusessem à insurreição.
O EIIL, com um papel-chave na Síria, proclamou que Nínive, a primeira província de que se apoderaram, é parte de um Estado islâmico e começou a impôr sua lei na região.
O EIIL e seus aliados também se apoderaram de zonas de outras três províncias (Kirkuk, Saladino e Diyala) e estão a menos de 100 km de Bagdá.
Diante dessa situação, o governo de Maliki pediu oficialmente aos Estados Unidos que intervenham com ataques aéreos.
As forças iraquianas, derrotadas nos primeiros dias da ofensiva, parecem ter recuperado a iniciativa e pediram a colaboração de milhares de voluntários.
O governo do xiita Maliki, no poder desde 2006, é minado por divisões e enfrenta uma violência alimentada pelo descontentamento da minoria sunita, que se considera marginalizada, e pela guerra na vizinha Síria.
Segundo Toby Dodge, diretor do centro especializado em Oriente Médio na London School of Economics, as diferenças ideológicas entre os insurgentes podem facilitar a tarefa do governo.
"Caso se repita a história, o EIIL, com sua ambição de criar um califado transnacional, seu radicalismo, seu enfoque absurdo do Islã (...) romperá esta coalizão", acredita.
"Querem impor um regime islâmico à população sunita do Iraque, que não quer isso", disse ele, explicando que tentativas já fracassaram em 2005 e 2006.