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Principal líder xiita do Iraque quer expulsão de insurgentes sunitas

Obama prometeu o envio de conselheiros militares para ajudar o Exército iraquiano a enfrentar a ofensiva iniciada pelos jihadistas do movimento Estado Islâmico no Iraque e no Levante

Agência France-Presse
postado em 20/06/2014 14:41
Bagdá - O principal líder religioso xiita do Iraque, Ali al-Sistani, pediu nesta sexta-feira (20/6) que os insurgentes sunitas no país sejam expulsos rapidamente, enquanto os Estados Unidos aumentam a pressão sobre o primeiro-ministro, Nuri al-Maliki, para que supere as divisões religiosas. Ainda nesta sexta-feira, o presidente Barack Obama prometeu o envio de conselheiros militares para ajudar o Exército iraquiano a enfrentar a ofensiva iniciada pelos jihadistas do movimento Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL) em 9 de junho, mas descartou ataques aéreos.

Forças de segurança iraquianas durante confronto com o grupo militante sunita Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL), em Jurf al-Sakhar
O secretário de Estado, John Kerry, é esperado neste fim de semana no Oriente Médio e na Europa para discutir a crise, em uma viagem que, de acordo com parlamentares americanos, incluirá uma etapa no Iraque. Já o presidente russo, Vladimir Putin, ofereceu ao primeiro-ministro iraquiano total apoio "aos esforços do governo para libertar rapidamente o território da república dos terroristas", segundo a presidência russa em um comunicado.

Em Nova York, o secretário-geral da ONU, Ban ki-Moon, fez um apelo a todas as comunidades no Iraque "para que trabalhem em conjunto" para conter o avanço do EIIL. Nas frentes de batalha, os insurgentes consolidavam seu controle sobre amplas partes do território divididas em quatro províncias do norte e do leste do país e tentavam abrir caminho para Bagdá, um de seus objetivos. Após as derrotas registradas nos primeiros dias de ofensiva, as forças do governo tentam retomar a iniciativa. No entanto, pelo menos 34 integrantes das forças de segurança iraquianas morreram em confrontos entre o Exército e insurgentes em Al-Qaim, localidade situada na fronteira com a Síria.

Além disso, 30 combatentes xiitas morreram em confrontos com os insurgentes sunitas que atacaram a cidade de Muqdadiyah, a 90 km de Bagdá, segundo fontes policiais e médicas. Após pedir na semana passada que os cidadãos iraquianos de todas as religiões combatessem o EIIL, o influente aiatolá xiita Al-Sistani pediu que os insurgentes sunitas sejam expulsos antes que seja tarde demais.

[SAIBAMAIS]Evitar os erros do passado

De acordo com seu porta-voz, o líder xiita também pediu a "formação de um governo eficiente, que seja aceitável em nível nacional e evite os erros do passado", em uma crítica aberta ao atual primeiro-ministro iraquiano, o também xiita Nuri al-Maliki. No poder desde 2006, Maliki é acusado de manter uma política que marginaliza a minoria sunita, favorecendo a ofensiva jihadista. Para Obama, apenas uma liderança não-sectária, ou seja, que não apoie divisões religiosas, poderá resgatar o Iraque da atual situação, em uma crítica implícita ao primeiro-ministro xiita.



O presidente insistiu que os dirigentes iraquianos devem incluir todas as comunidades de todas as confissões que integram o país. Depois dos oito anos de presença americana no país iniciados com a derrubada em 2003 do presidente sunita Saddam Hussein, em uma ocupação que custou a vida de 4.500 soldados, Obama afirmou que não há solução militar para o país. De acordo com Obama, Washington, que já aumentou sua capacidade de inteligência no país, está preparado para enviar 300 assessores militares para estudar como ajudar as forças iraquianas em termos de treinamento e equipamento.

O presidente considerou que será bom para os Estados Unidos intervir no Iraque, caso ajude a evitar que os combatentes do EIIL estabeleçam bases que eventualmente ameacem o Ocidente. No entanto, ele insistiu em várias oportunidades que as tropas americanas não voltarão a combater no Iraque, dois anos e meio depois da retirada militar desse país. Neste sentido, Obama advertiu o Irã - de maioria xiita e também disposto a ajudar na crise iraquiana - para o risco de "uma intervenção militar unicamente em nome dos xiitas". Em resposta, um funcionário iraniano de alto escalão afirmou que o presidente americano não tem vontade de combater o terrorismo.

Mais de um milhão de deslocados

Desde 9 de junho, o EIIL tomou Mossul, a segunda maior cidade do país, grande parte da província de Nínive (norte), Tikrit e outras áreas das províncias de Saladino (norte), Diyala (leste) e Kirkuk (norte), com o objetivo de criar um Estado islâmico. A ofensiva dos jihadistas, que também tomaram uma fábrica de produção de armas químicas no norte de Bagdá, causou mais um milhão de deslocados. Neste contexto, as agências humanitárias da ONU pretendem aumentar a sua ajuda para os mais de um milhão de deslocados no Iraque, apesar da crescente insegurança que torna mais difícil o trabalho.

Uma reunião a portas fechadas com os países doadores está sendo realizada nesta sexta-feira na sede da ONU em Genebra, para coordenar a ajuda internacional, indicou um porta-voz do Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA, nas siglas em inglês), Jens Laerke. A ONU deverá lançar na próxima semana um novo apelo destinado a angariar fundos para o Iraque, devido o aumento das necessidades da população. À espera de obter todo o dinheiro necessário, a ONU, que começou a enviar mais pessoal humanitário para o Iraque, tem recorrido a seus fundos de emergência para enviar mais ajuda.

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