Bagda - Militantes sunitas avançaram no oeste do Iraque e mataram 21 pessoas, obrigando as forças de segurança iraquianas a recuar em várias cidades, enquanto o secretário de Estado americano, John Kerry, pedia neste domingo que os líderes do país se coloquem acima do sectarismo. Este foi o último de uma série de reveses sofridos pelas forças iraquianas, que estão lutando para manter seu território diante da violenta investida dos insurgentes, que tem deixado mais de um milhão de deslocados e despertado o temor de que o país possa se esfacelar.
Os militantes, chefiados pelo Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), se apoderaram das cidades de Rawa e Ana, após terem tomado a fronteiriça Al-Qaim, no sábado, informaram residentes. Eles mataram a tiros 21 líderes locais em Rawa e Ana em dois dias de atos violentos, segundo fontes oficiais e médicos.
[SAIBAMAIS]O governo informou que suas forças realizaram uma retirada "tática" das cidades, cujo controle permite aos militantes abrir uma rota estratégica para a vizinha Síria, onde eles também controlam trechos rurais ao longo do vale do rio Eufrates.
Desde o início de sua ofensiva, em 9 de junho, os rebeldes tomaram Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, grande parte da província de Nínive (norte), de Tikrit e trechos das províncias de Saladino (norte), Diyala (leste) e Kirkuk (norte). Agora, mantêm o avanço para o oeste. O EIIL visa a criar um Estado islâmico, incorporando Iraque e Síria, onde o grupo se tornou uma força relevante na rebelião contra o presidente sírio, Bashar al-Assad.
Washington quer que os países árabes pressionem os líderes iraquianos a acelerar a formação do governo, que fez poucos avanços desde as eleições de abril, e tem tentado convencê-los de que o EIIL representa uma grande ameaça para eles e para o Iraque. "Teremos que ser vigilantes em toda parte", disse o presidente Barack Obama em entrevista transmitida neste domingo pela CBS.
Disseminação do EIIL
Obama advertiu que a ofensiva do EIIL tem o potencial de desestabilizar outros países na região e "pode se disseminar para alguns dos nossos aliados, como a Jordânia". "Eles estão envolvidos em guerras na Síria, onde - no vácuo que foi criado - podem acumular mais armas, mais recursos", acrescentou.
Líderes americanos estiveram prestes a pedir a renúncia do premier xiita, Nuri al-Maliki, que teria desperdiçado a chance de reconstruir o Iraque desde que as tropas americanas deixaram o país, em 2011.
A tomada de Al-Qaim deixa apenas uma das três zonas transfronteiriças oficiais com a Síria nas mãos do governo federal. A terceira é controlada por forças curdas. Militantes já detêm áreas da província desértica de Anbar (oeste), que margeia a fronteira síria, após a captura, este ano, da totalidade da primeira e partes da segunda.
Perto de Ramadi, capital de Anbar, a oeste de Bagdá, que há trechos controlados pelos combatentes antigovernamentais, um atentado suicida e um carro-bomba mataram seis pessoas e deixaram oito feridos, segundo fontes oficiais.
Por outro lado, um ataque aéreo do governo na cidade de Tikrit, controlada pelos rebeldes, matou pelo menos sete pessoas, informaram moradores, enquanto o ministério da Defesa anunciou a realização de incursões aéreas na cidade de Mossul, ao norte.
Os insurgentes também enfrentaram forças de segurança e combatentes tribais pró-governo em Al-Alam, leste de Tikrit, e os militantes mataram a esposa do conselheiro de segurança do governador da província.
Os enfrentamentos ocorreram enquanto o secretário de Estado americano, John Kerry, chegava ao Cairo em um giro pelo Oriente Médio e a Europa, enquanto Washington tenta unir os líderes do fragmentado Iraque e repelir os militantes.
A culpa não é dos Estados Unidos
"Precisamos urgir os líderes do Iraque a se colocar acima de considerações sectárias e falar para todo o povo", disse Kerry no Cairo, acrescentando que Washington não é responsável pela crise atual. Mais tarde, o secretário de Estado viajou para a Jordânia e também tem previstas visitas a Bruxelas e Paris, onde se espera que Washington pressione por maiores esforços para cortar o financiamento ao EIIL.
"Primeiro e mais importante, estamos urgindo os países que têm vínculos diplomáticos com o Iraque e que estão na região para que levem esta ameaça a sério como fazemos", disse um funcionário do Departamento de Estado. "Em segundo lugar, estamos enfatizando a necessidade de que os líderes iraquianos apressem o processo de formação de seu governo e se reúnam em torno de um novo governo que seja inclusivo", prosseguiu.
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Kerry deve viajar ao Iraque em sua segunda visita ao país desde que assumiu o comando da diplomacia americana, em 2013, mas a data é desconhecida. Washington apoiou Maliki quando este assumiu o cargo de primeiro-ministro, em 2006. Na época, consideravam que ele estivesse golpeando as milícias xiitas, enquanto se aproximava de líderes sunitas.
Mas desde então, ele vem fazendo o que os críticos afirmam ser movimentos sectários, o que tem motivado os apelos americanos para que o premier represente todos os iraquianos, particularmente as minorias de árabes sunitas e curdos. Obama se ofereceu para mandar até 300 conselheiros militares ao Iraque, mas até agora não apoiou ataques aéreos, como pedido por Bagdá.
Agências de ajuda das Nações Unidas estão enviando provisões ao Iraque para ajudar o mais de um milhão de deslocados com a recente escalada da violência no país.