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Veteranos americanos questionam esforços no Iraque com avanço de jihadistas

A tomada em janeiro por parte do Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL) de Fallujah, símbolo da participação dos Estados Unidos no Iraque, já havia sido dolorosa para os ex-combatentes

Agência France-Presse
postado em 23/06/2014 11:43
Washington - Os veteranos americanos que combateram no Iraque acompanham com amargura o avanço dos jihadistas no país árabe, frustrados ao ver seus esforços reduzidos a nada pelo sectarismo dos líderes iraquianos ou pela decisão de Barack Obama de retirar as tropas em 2011.

A tomada em janeiro por parte do Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL) de Fallujah, símbolo da participação dos Estados Unidos no Iraque, já havia sido dolorosa para os ex-combatentes.

Agora que os insurgentes sunitas têm o controle de grandes áreas do norte e do leste do país, John Nagl sente apenas "raiva, amargura e tristeza". "Muitos dos meus amigos e dos iraquianos morreram para dar ao Iraque a possibilidade de ser livre, estável e multiétnico", conta à AFP este ex-oficial especializado na luta contra a insurreição.

Segundo ele, "os governos de Iraque e Estados Unidos cometeram graves erros, erros que poderiam ter sido evitados e que fizeram com que todos esses sacrifícios fossem desperdiçados".

Esta visão é compartilhada por Paul Hugues, um ex-coronel que serviu no Iraque e hoje trabalha no Instituto para a Paz dos Estados Unidos: "Nenhum soldado quer olhar para trás e ver que seu serviço e os sacrifícios foram em vão".

Em uma pesquisa realizada em abril para o jornal The Washington Post, 50% dos veteranos no Iraque consideraram que não valia a pena levar esta guerra adiante, mas 87% se mostraram orgulhosos de terem participado dela.

Nossa política fracassou


As autoridades do Pentágono são conscientes do choque dos veteranos diante do avanço jihadista. "Como muitos de vocês, fiquei decepcionado com a velocidade com a qual a situação no Iraque se deteriorou e com o desmoronamento de muitas unidades iraquianas", escreveu em sua conta do Facebook o chefe do Estado-Maior Conjunto americano, general Martin Dempsey.

No entanto, acrescentou: "estou orgulhoso do que conquistamos. Demos ao povo iraquiano uma oportunidade única de conquistar um futuro melhor. Nada colocará esta conquista em questão". O secretário de Defesa, Chuck Hagel - que tempos atrás foi crítico da política americana no Iraque - também considera que os Estados Unidos fizeram todo o possível para ajudá-los após a queda de Saddam Hussein.

Enquanto isso, muitos questionam a decisão de Obama de retirar as tropas do Iraque no fim de 2011 depois que os líderes do país se negaram a conceder aos soldados as proteções legais que os Estados Unidos exigiam.

Manter alguns milhares de homens no Iraque teria permitido aos Estados Unidos ter muito mais influência sobre o governo do xiita Nuri al-Maliki, afirma convencido John Nagl.

E a decisão de Obama de enviar agora ao Iraque 300 assessores militares é "o testemunho mais claro de que estávamos errados, de que nossa política fracassou", acrescenta. O veterano admite que o sectarismo da política de Maliki teve um papel enorme na situação atual.

Maliki, no poder desde 2006, é acusado de ter levado adiante uma política sectária que marginalizou a minoria sunita, alienando também seus sócios curdos e xiitas e preparando, desta maneira, o terreno para a ofensiva jihadista.

Paul Hugues também acredita que "o ataque do EIIL é culpa do governo de Maliki, que alienou e discriminou os sunitas". Este coronel não vê agora como Washington pode agir. "O objetivo político de qualquer ação militar não está claro", opina.



O major Andrew Rohrer estimou no Facebook que a guerra no Iraque é "um problema iraquiano" que os Estados Unidos não poderão resolver "em cem anos". A Associação de Veteranos do Iraque contra a Guerra não quer saber de um novo envolvimento dos Estados Unidos em terra.

"Aqueles de nós que estivemos ali estamos bem situados para saber que as soluções militares no Iraque não são do interesse dos iraquianos", afirmou em um comunicado a associação. John Nagl também não sabe se a situação pode ser revertida. "Isto anda verdadeiramente mal", sentencia.

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