Mundo

Separatistas ucranianos derrubam um helicóptero militar apesar de trégua

Esse ataque representa um duro golpe no plano de paz do presidente ucraniano, Petro Poroshenko, apoiado por seus aliados ocidentais

Agência France-Presse
postado em 24/06/2014 19:01
Sloviansk - Rebeldes pró-russos mataram nesta terça-feira (24/6) nove soldados ao derrubar em pleno voo um helicóptero militar no leste da Ucrânia, quebrando a trégua aceita na véspera por um líder insurgente e colocando em perigo o cessar-fogo decretado por Kiev. Esse ataque representa um duro golpe no plano de paz do presidente ucraniano, Petro Poroshenko, apoiado por seus aliados ocidentais, com o qual pretendia acabar com uma insurreição separatista que ameaça a unidade dessa ex-república soviética.

"O chefe de Estado não descarta acabar com o cessar-fogo antes de sua expiração prevista porque este tem sido constantemente violado pelos rebeldes que são controlados pelo exterior", indica um comunicado do serviço de imprensa do presidente pró-ocidental, apontando claramente para a Rússia. Poroshenko indicou também que pretende abordar esses novos acontecimentos com seu homólogo russo, Vladimir Putin, durante uma conversa por telefone na quarta, que terá a participação da chanceler alemã, Angela Merkel, e do presidente francês, François Hollande.

Antes, Putin tinha feito um gesto para uma desescalada, pedindo ao Parlamento que cancele a autorização para intervir militarmente na Ucrânia, que ele havia solicitado em março. O gesto foi comemorado por Kiev e pela Casa Branca. A autorização de recorrer ao Exército, que oficialmente atendia à necessidade de defender os cidadãos russos na Ucrânia, tinha contribuído em março para aumentar a tensão entre Moscou e Kiev. A Rússia mobilizou dezenas de milhares de soldados para manobras perto da fronteira com a Ucrânia.

[SAIBAMAIS]O chefe do Kremlin também fez um pedido para que seja prolongado o cessar-fogo decretado na Ucrânia, indicando que "sete dias são claramente insuficientes". Nesta terça à noite, a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) está pronta para reforçar sua missão de observação na Ucrânia e apoiar o frágil cessar-fogo nesse país, disse à imprensa seu presidente em exercício, Didier Burkhalter.



Se a paz se mantiver, "teremos necessidade de um reforço da missão (de observação) e, com esse objetivo, seria muito bom se mais russos, sob o patrocínio da OSCE, fizessem parte da missão", afirmou o chefe da diplomacia suíça após um encontro em Viena com o presidente russo, Vladimir Putin. Burkhalter pediu que seja estabelecido um diálogo russo-ucraniano, sob o guarda-chuva da OSCE, por intermédio da missão de observação e de seus bons ofícios, ou seja, que as partes envolvidas façam uma tentativa amistosa de negociar.

Mais de 250 observadores civis da OSCE, entre eles onze russos, atuam hoje na Ucrânia, segundo números da própria organização. Dois grupos estão sendo mantidos reféns no leste ucraniano desde o fim de maio. Em Viena, Putin "disse muito claramente" que é a favor dessa missão e prometeu que a Rússia "participará" de seu eventual reforço, garantiu Didier Burkhalter. No entanto, a destruição de um helicóptero militar em pleno voo, perto de Slaviansk, um reduto rebelde, mostra que a crise segue latente, apesar dos intensos esforços diplomáticos.

Nenhum sobrevivente

"Nove pessoas estavam a bordo do helicóptero (Mi-8). De acordo com as primeiras informações, todos os tripulantes morreram", declarou Vladyslav Seleznyov, porta-voz do Exército ucraniano. De acordo com esse porta-voz, o helicóptero foi derrubado por um míssil disparado por um sistema terra-ar portátil, um tipo de armamento que Kiev acusa Moscou de fornecer aos rebeldes, algo que a Rússia nega.

Segundo um jornalista da AFP em Slaviansk, disparos de artilharia são ouvidos desde as 17h30 locais (11h30 de Brasília) em combates entre o Exército ucraniano e os rebeldes. Os disparos, que se intensificavam no fim da tarde, caíam sobre um bairro de Slaviansk, já devastado por combates anteriores. No total, os confrontos entre o Exército ucraniano e os rebeldes pró-russos deixaram 423 mortos, civis e militares, entre 15 de abril e 20 de junho, indicou nesta terça Ivan Simonovic, secretário-geral adjunto da ONU para os Direitos Humanos.

No âmbito diplomático, o presidente ucraniano se reuniu nesta terça em Kiev com o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, que declarou que o êxito do plano de paz depende do "respeito ao cessar-fogo tanto por parte das forças de segurança ucranianas como pelos rebeldes".

Surpreendente mudança de líder rebelde

Alexander Borodai, líder da autoproclamada República Separatista de Donetsk, um dos redutos dos insurgentes pró-russos, surpreendeu na segunda-feira anunciando um acordo de cessar-fogo até a manhã de sexta-feira para iniciar negociações de paz com as autoridades pró-europeias de Kiev. O presidente havia ordenado na sexta-feira as suas tropas um cessar-fogo até 27 de junho para permitir o desarmamento dos rebeldes. Mas os insurgentes, que reivindicaram sua independência em duas regiões de língua russa de sete milhões de habitantes, rejeitaram as condições ao considerá-las parte de uma estratégia militar.

O inesperado anúncio coloca Poroshenko sob pressão, já que até agora havia dito que não falaria com aqueles que tivessem "as mãos manchadas de sangue" e que seu plano de paz incluía apenas discussões com rebeldes que não tivessem cometido assassinatos e torturas. Ele não especificou com quem não se sentaria para negociar, mas Moscou considerou que eram os principais líderes rebeldes pró-russos.

O presidente Poroshenko, eleito em 25 de maio com o apoio dos ocidentais, disse que depois do cessar-fogo a chegada de "armas e mercenários" procedentes da Rússia deve parar, anunciou a Presidência, indicando uma conversa por telefone com o vice-presidente americano Joe Biden. Foi a segunda vez em 48 horas que Petro Poroshenko conversou com Biden sobre a aplicação do plano de paz proposto por Kiev.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação