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Juiz abre caminho para julgamento da irmã do rei Felipe VI da Espanha

O indiciamento da infanta Cristina e Iñaki Urdangarin, marido dela, investigados por suposta fraude de dinheiro público provocaram um escândalo que contribuiu para derrubar a popularidade do rei Juan Carlos

Madri - O juiz de instrução do caso de suposta corrupção que abalou a família real espanhola manteve nesta quarta-feira (25/6) o indiciamento da infanta Cristina, o que abre caminho para o julgamento apenas seis dias depois da proclamação de seu irmão, Felipe VI, como novo rei. O indiciamento em dezembro de 2011 de Iñaki Urdangarin, de 46 anos, marido de Cristina investigado por suposto desvio de dinheiro público, e depois da infanta em janeiro passado, provocaram um escândalo que contribuiu para derrubar a popularidade do rei Juan Carlos, antes de sua abdicação em 2 de junho.



Na opinião do juiz Castro, Cristina, de 49 anos, cooperou com seu marido, acusado junto a um ex-sócio de ter supostamente desviado mais de seis milhões de euros de dinheiro público através do Instituto Noos, uma sociedade sem fins lucrativos que Urdangarin presidiu entre setembro de 2003 e março de 2006. "Os supostos crimes contra a Fazenda Pública imputados a Don Iñaki Urdangarin Liebaert dificilmente poderiam ter sido cometido sem ao menos o conhecimento e aquiescência de sua esposa", afirmou Castro em um auto de 167 páginas.

Em seu depoimento ao juiz no dia 8 de fevereiro, a infanta, que apareceu serena e sorridente, disse não ter nada a ver com os negócios de seu marido e ter participado deles porque Urdangarin pediu e confiava plenamente nele.

Indignação cidadã

"A justiça começa a ser igual para todos, graças a juízes como o juiz Castro", celebrou ante os jornalistas no Congresso de Deputados o líder da coalizão ecologista-comunista Cayo Lara. "Todos somos iguais perante a lei", declarou a porta-voz socialista Soraya Rodríguez. A indignação cidadã por este caso se tornou clara nas manifestações improvisadas que tomaram as ruas de toda a Espanha após o anúncio da abdicação de Juan Carlos pedindo um referendo entre monarquia e república.

Em resposta ao escândalo, Felipe VI prometeu em seu discurso de proclamação uma monarquia íntegra, honesta e transparente. Felipe, cuja popularidade subia enquanto a de seu pai caía, se manteve até agora imune ao escândalo. Resta saber qual impacto esta nova decisão judicial terá em sua imagem. "É claro que sim, faz algum dano ao rei, claro", afirmava José Apezarena, biógrafo de Felipe.

Com a ascensão do novo monarca, suas duas irmãs, Cristina e Elena, saíram automaticamente do círculo restrito da família real, que inclui agora Felipe VI, sua esposa Letizia e suas duas filhas, Leonor e Sofía, assim como seus pais, Juan Carlos e Sofía, que mantêm o título de reis com caráter honorífico. Urdangarin e Cristina estão, desde o fim de 2011, afastados de todas as atividades oficiais da família, primeira medida tomada pela Casa Real para tentar evitar que o escândalo se propagasse.