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Negociações diplomáticas entre países tentam salvar cessar-fogo na Ucrânia

Pressionando a Rússia, o secretário de Estado americano pediu a Moscou que faça "ações concretas" para acabar com a crise que ameaça a unidade desta ex-república soviética

Agência France-Presse
postado em 25/06/2014 15:47
Presidente russo Vladimir Putin enviou diversas mensagens contraditórias durante a semana e apelou para estender o cessar-fogo para além de sexta-feira
Intensos esforços diplomáticos estão sendo feitos nesta quarta-feira para tentar salvar o cessar-fogo unilateral declarado no leste da Ucrânia, mas que se vê ameaçado pelos confrontos que continuam no terreno.

O presidente francês, François Hollande, e a chanceler alemã, Angela Merkel, fizeram um apelo para que o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, e seu homólogo russo Vladimir Putin "trabalhem juntos" para implementar o cessar-fogo durante uma conversa por telefone, de acordo com a Presidência francesa.

As discussões devem prosseguir na quinta-feira, segundo a Presidência ucraniana, que garantiu que "todas as partes aceitaram continuar com as conversas neste formato na quinta-feira".

Pressionando a Rússia, o secretário de Estado americano, John Kerry, pediu a Moscou que faça "ações concretas" para acabar com a crise que ameaça a unidade desta ex-república soviética, voltada atualmente para a Europa. Os combates entre rebeldes separatistas pró-russos e o Exército ucraniano já fizeram mais de 400 mortos desde abril.

Poroshenko, que brandiu a ameaça de um fim do cessar-fogo após a morte de nove de seus soldados na queda de um helicóptero Mi-8, derrubado pelos rebeldes na terça-feira, decidiu manter a trégua.



"Estamos determinados a fazer o máximo para alcançar uma desescalada", declarou o chefe da diplomacia ucraniana, Pavlo Klimkine, depois de uma reunião com os chefes da diplomacia dos países da Otan em Bruxelas.

Anunciada na terça-feira por Vladimir Putin, em um forte gesto de seu compromisso com uma solução para a crise, a retirada da autorização para intervir militarmente na Ucrânia foi ratificada nesta quarta-feira pelo Parlamento russo. Mas os ocidentais querem resultados concretos.

No cerne da questão: as violações "em massa" do cessar-fogo provisório, denunciadas pelo Exército ucraniano, que contabilizou mais de 40 ataques dos separatistas pró-russos desde segunda-feira no leste.

Este cessar-fogo declarado por Kiev a seu Exército estará em vigor até sexta-feira. Os rebeldes, que reivindicam a independência das regiões de Slaviansk e Donetsk, também concordaram com uma trégua para dar início a negociações de paz.

Fracasso da trégua

O chefe rebelde à frente da República Separatista autoproclamada de Donetsk, Alexandre Boroda;, lamentou o fracasso do cessar-fogo.

"Nós queremos a paz. Mas, por enquanto, todas as consultas foram inúteis", declarou após uma reunião em Donetsk com representantes de Kiev.

Em Slaviansk, os disparos de artilharia começaram às 06h00 (00h00 no horário de Brasília), segundo um jornalista da AFP. As detonações, quase ininterruptas, parecem partir de ambos os lados em conflito.

A poucos quilômetros da cidade, os destroços do helicóptero abatido repousavam em um campo. "Blindados ucranianos chegaram muito rápido para recuperar os corpos das vítimas. Eles provavelmente colocaram minas em torno do helicóptero antes de partir", indicou um morador local, Léonid.

Terça-feira, o vice-presidente americano Joe Biden conversou com Poroshenko sobre a necessidade de "ter observadores no local que possam constatar as violações do cessar-fogo" e "acabar com o fornecimento de armas e militares vindos do outro lado da fronteira" com a Rússia, segundo a Casa Branca.

Sinais positivos de Moscou


O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, declarou nesta quarta-feira que a Aliança não vê mudanças na atitude da Rússia na crise com a Ucrânia e continua a defender a suspensão da cooperação bilateral.

"Hoje não vemos mudanças na atitude da Rússia, então não temos escolha a não ser manter a suspensão da cooperação civil e militar", adotada pela Otan em abril, declarou Rasmussen em entrevista coletiva à margem de uma reunião de ministros das Relações Exteriores do órgão.

"O que conta, por enquanto, é a desescalada: que não haja mais vítimas", comentou uma fonte diplomática europeia.

O chefe adjunto da diplomacia russa, Grigori Karasin, considerou que os "sinais positivos" enviados por Vladimir Putin na terça-feira sejam ouvidos "no mundo e, especialmente, na Ucrânia" e que conduzam a um diálogo.

O presidente americano Barack Obama e o primeiro-ministro britânico David Cameron concordaram durante uma conversa telefônica que, "se Moscou não tomar medidas imediatas para aliviar a situação no leste da Ucrânia, os Estados Unidos e a União Europeia vão impor novas sanções à Rússia".

Vladimir Putin, que enviou diversas mensagens contraditórias durante a semana, incluindo o anúncio do lançamento de novas manobras militares no centro da Rússia, apelou para estender o cessar-fogo para além de sexta-feira.

Essa necessidade foi discutida na sexta-feira pelos ministros das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, e da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, de acordo com o ministério das Relações Exteriores russo.

A fim do prazo de trégua coincidirá com o dia em que a Ucrânia deve assinar a parte final de um acordo histórico de associação com a União Europeia.

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